domingo, 20 de outubro de 2013

Crime contra o Lago Paranoá

Mancha diminui, mas há óleo no fundo


Trabalho de contenção do vazamento no Lago Paranoá restringiu a área afetada, mas o combustível se acumulou a dois metros de profundidade. Mapeamento, hoje, delimitará o espaço atingido. Amanhã, uma empresa especializada deverá fazer a sucção da substância.

Após as ações emergenciais, o óleo que vazou do Hran se concentra agora apenas na costa do Iate Clube
As ações emergenciais tomadas na última sexta-feira para conter o avanço da mancha de óleo no Lago Paranoá foram mais eficientes do que o esperado. Três aeronaves, de diferentes corporações, sobrevoaram toda a extensão do espelho d’água, ontem, e não encontraram nenhum novo vestígio do vazamento, considerado o maior do Distrito Federal. O óleo que se espalhou até a Concha Acústica foi arrastado para fora da água e sobraram apenas resquícios do combustível próximo ao Iate Clube que estão protegidos por boias de contenção. A preocupação agora é com o fundo do espelho d’água. Em uma vistoria feita na manhã de ontem, mergulhadores do Corpo de Bombeiros encontraram óleo a dois metros de profundidade.

Os militares que fazem parte do grupo criado para descontaminar o Paranoá vão fazer um mapeamento com GPS para saber exatamente o tamanho da área atingida embaixo d’água. Ontem, os mergulhadores encontraram óleo apenas na costa do Iate Clube, onde o material trazido pela galeria de águas pluviais começou a vazar. O produto na superfície está protegido por boias, mas o receio dos Bombeiros é de que a substância submersa acabe passando pela barreira.

Uma empresa especializada em desastres químicos, contratada pela Petrobras, utilizará um produto americano que faz a sucção do óleo que afundou. O material deve ser aplicado amanhã. Antes disso, porém, as boias de contenção serão redimensionadas. “O óleo do fundo do lago vai sendo liberado aos poucos para a superfície. Para não correr o risco de ele passar pelas boias, vamos chegar a barreira de contenção para trás (mais distante da margem)”, explicou o capitão dos Bombeiros Rodrigo Rasia, chefe de Operações do grupo. ...

Rasia não soube estimar em quanto tempo o lago estará limpo novamente. Na sexta-feira, a previsão era de que o trabalho durasse uma semana, mas o prazo pode ser reduzido, graças às medidas tomadas até agora. “Todo o esforço feito para reduzir o desastre e impedir novos pontos de contaminação foi um sucesso, mas é difícil falar em tempo porque dependemos muito das condições climáticas”, afirmou. O vento, por exemplo, pode impedir a contenção e espalhar a mancha. Já a chuva pode ser positiva e negativa ao mesmo tempo. “Ela é muito boa para limpar a rede de águas pluviais e também pode ajudar a difundir o óleo pela superfície da água. Mas é muito ruim para a barreira, pois pode rompê-la”, exemplificou.

Animais mortos

A má notícia é em relação à fauna atingida pelo combustível. O filhote de quero-quero resgatado na sexta-feira não resistiu ao óleo impregnado nas penas e morreu. Os dois cágados (espécies de tartarugas) recuperados pelos órgãos ambientais continuam em tratamento no Zoológico. Ontem, mais dois animais foram encontrados mortos: um filhote de tartaruga e um filhote de uma ave não identificada. A carcaça dos bichos passará por necrópsia para avaliar se eles já haviam morrido ao serem atingidos pelo óleo ou se não resistiram devido à contaminação. “Como eles eram muito pequenos, é possível que já estivessem mortos”, ressaltou a secretária-geral do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Renata Fortes.

O Ibram aumentou a multa aplicada à Secretaria de Saúde do DF para R$ 280.420,00, o valor máximo estipulado pela legislação ambiental. Segundo o órgão, o óleo que foi parar no Paranoá teve origem no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) (veja Cronologia do desastre). A Secretaria de Saúde informou que vai procurar a empresa responsável pela manutenção do maquinário para ouvir o que eles têm a dizer e tomar as providências necessárias.

Cronologia  do desastre


Quarta-feira
Começa o vazamento de vapor d’água da caldeira do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A água condensou-se no solo e levou o óleo para o lago por meio das galerias pluviais.

Quinta-feira
Uma imensa mancha de óleo aparece sobre as águas do Lago Paranoá. O Corpo de Bombeiros é acionado e começam as buscas e vistorias para descobrir a origem do vazamento. Os militares fazem uma barreira de contenção perto do Iate Clube a fim de impedir que o combustível se espalhe para o espelho d’água. A preocupação é com o vento e com a chuva previstos para a madrugada.

Sexta-feira
O vento arrasta o óleo e outra mancha surge próxima à Concha Acústica. Os militares fazem um arraste para retirar o material do lago. A barreira de contenção é reforçada com boias absorventes. A origem do vazamento é identificada.

Ontem
Três aeronaves sobrevoam o Lago Paranoá na tentativa de encontrar mais manchas, mas nenhuma nova contaminação é identificada. Mergulhadores do Batalhão de Busca e Salvamento (BBS) fazem uma vistoria subaquática para identificar se o óleo contaminou o fundo do lago. Eles encontram um ponto afetado na costa do Iate Clube. Os militares também avaliam a superfície da barreira, que continua eficaz.

Próximos passos
A preocupação agora é retirar o óleo do fundo do lago. Os bombeiros afastarão um pouco da margem a barreira de contenção para que o produto não chegue à superfície da água depois das boias. Uma empresa privada especializada em desastres químicos contratada pela Petrobras tentará limpar o fundo do Paranoá com um produto americano capaz de fazer a sucção do óleo, que está a uma profundidade de dois metros.

Aparência menos assustadora

Geovane Oliveira entrou na água para pescar: "Tinha mesmo óleo aqui?"

Apesar do tamanho do desastre ambiental, a aparência do Lago Paranoá está menos assustadora. A substância escura e espessa que impressionou os brasilienses na quinta-feira passou despercebida ontem. O óleo, agora, está concentrado no Iate Clube e às margens da Concha Acústica — a substância que estava na superfície da água foi arrastada pelo Corpo de Bombeiros. Duas boias são usadas para reter o óleo. Uma delas, a laranjada, tem uma saia que não deixa o óleo da superfície se espalhar. A outra, branca, absorve o produto em até sete vezes do seu peso. O sábado de céu nublado e chuvoso não atraiu muitas pessoas para o espelho d’água, mas teve gente que entrou na água sem nem saber da contaminação.

O Corpo de Bombeiros informou à Capitania dos Portos e à Polícia Militar que a região entre o Iate Clube e a Concha Acústica está imprópria para banhos e atividades náuticas. A reportagem não viu nenhuma embarcação navegando pelo perímetro. Mas, por volta das 11h, um grupo de quatro pessoas praticava SUP perto do Clube da Aeronáutica, a poucos metros de onde ocorreu o vazamento. Além disso, várias pessoas pescavam nas proximidades. O vidraceiro Geovane Oliveira, 31 anos, estacionou o carro nos fundos da Concha Acústica e, sem hesitar, entrou na água para pescar. Avisado sobre o vazamento ocorrido, ele disse não saber de nada. “Tinha mesmo óleo aqui? Aparentemente, a gente não vê nada”, argumentou.

O professor Gustavo Souto Maior, do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), defendeu que o perímetro todo deveria ser isolado aos visitantes até que todo o óleo vazado seja retirado do lago. “Por precaução, o GDF deveria avisar à população sobre o ocorrido e proibir a ocupação da área. O óleo pode afetar a saúde das pessoas, alguém pode pescar um peixe contaminado, por exemplo”, afirmou. “Não deveriam deixar ninguém entrar na água, até para não atrapalhar o trabalho de remoção do óleo. A circulação de pessoas pode atrapalhar também a busca de animais e espalhar o óleo mais ainda”, ressaltou o especialista. (GR e OF)

Por Gizella Rodrigues e Olívia Florência
Fonte: BLOG DO SOMBRA

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