sexta-feira, 4 de outubro de 2013


Ato de Bravura

Agente ferido será condecorado


Policial altamente qualificado e respeitado entre os colegas de corporação, Marcelo Macintyre estava na linha de frente da equipe de agentes da Divisão de Operações Especiais (DOE) que estourou o cativeiro da empresária mantida refém havia 13 dias. Por volta das 4h de ontem, quando arrombava a porta dos fundos da casa localizada em Águas Lindas, enquanto outro grupo avançava pela frente do local, Marcelo teve a participação no resgate encerrada prematuramente. Um sequestrador atirou em direção ao acesso da residência. E o projétil de um revólver calibre .38 atingiu o lado esquerdo do rosto do policial. Após uma cirurgia no Hospital de Base do DF, ele passa bem e, por pouco, não sofreu danos à visão. Deve ter alta hoje.

O autor do disparo foi identificado como Luan da Silva Ferreira, 23 anos, o único dos três criminosos presos que estava no cativeiro. Outros dois acusados foram presos nas respectivas residências, simultaneamente. Os próprios agentes socorreram o colega ferido. Marcelo chegou ao Hospital de Base com a face bastante inchada e a bala ainda alojada. Inicialmente, suspeitou-se de que o tiro tivesse atingido o olho esquerdo, mas exames descartaram essa possibilidade. O projétil entrou próximo à maçã esquerda e mudou de trajetória, ficando parado na parte anterior ao globo ocular da vítima. O impacto provocou a fratura de alguns ossos do rosto, mas não atingiu o olho. ...
O policial brasiliense Marcelo Macintyre participou de curso especial no Rio de Janeiro: aluno de destaque
Curiosos cercam a casa de Águas Lindas usada como cativeiro da empresária: duas equipes de policiais invadiram o local, pela frente e pelos fundos
Bravura
Uma equipe médica removeu a bala e reconstruiu os tecidos danificados. A cirurgia terminou por volta das 11h30. Em seguida, Marcelo foi transferido para uma sala de recuperação. A notícia sobre o sucesso da intervenção foi comemorada por amigos e colegas de trabalho do agente, que se reuniram em frente à emergência da unidade de saúde. “Ele é um policial brilhante”, comentou um deles. Um dos médicos responsáveis pela operação foi pessoalmente tranquilizar o grupo, afirmando que o paciente passava muito bem e que se recuperaria rapidamente. Segundo informações de amigos, o agente é casado e a mulher estava fora de Brasília, tendo retornado às pressas após ser informada sobre o ferimento.

Três acusados de envolvimento no crime foram apresentados ontem pela Divisão de Repressão a Sequestros (DRS)
 
Com eles, os investigadores recolheram uma arma, algemas e a corrente usada para prender a vítima no cativeiro

O diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Xavier, e o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, estiveram no Hospital de Base, mas não puderam se encontrar com Marcelo, pois ele ainda não havia sido transferido para um quarto até o início da tarde. Ainda assim, Avelar parabenizou a atuação das forças especiais na ação de resgate em Águas Lindas. “Foi um trabalho feito no limite da segurança da vítima e dos policiais. Apesar de o agente ter sido ferido, a equipe se manteve equilibrada, nem sequer atingiu o bandido”, afirmou. O chefe da pasta exaltou, ainda, as qualidades de Marcelo. “É extremamente qualificado, um dos melhores da DOE”, elogiou.

Xavier adiantou ao Correio Braziliense que o policial será homenageado pela corporação. “É um policial que já se destacou em um curso de operações especiais no Rio de Janeiro, ficando em primeiro lugar. Ele cumpriu com o dever e, com certeza, será condecorado por bravura pela Polícia Civil”, afirmou o diretor-geral.

Memória
Sequestros na capital


Em 9 de julho de 1991, Wagner Canhedo Filho, então com 34 anos, reapareceu em Brasília após um suposto sequestro. Ele teria sido capturado seis dias antes na garagem de casa, no Lago Sul. Menos de 15 horas depois, os sequestradores ligaram para os familiares exigindo US$ 5 milhões. O irmão chegou a declarar que queria provas de que ele realmente estava sob o poder dos criminosos. Depois de reaparecer, o empresário disse que conseguiu fugir pela janela do cativeiro, localizado em Anápolis.

Em 20 de fevereiro de 1996, uma malsucedida tentativa de resgate surpreendeu o extinto Grupo de Repressão a Sequestro (GRS). O então vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários do DF, Manoel Fernandes Malaquias, 40 anos, foi sequestrado com a mulher, Vera Lúcia, na chácara do casal, no Pedregal. Um dia depois de capturado, Manoel foi solto para conseguir os R$ 5 mil exigidos pelos bandidos. A polícia o orientou a voltar ao cativeiro vestido com colete à prova de balas e com o dinheiro. Ele simularia o pagamento. Porém, os bandidos o revistaram e o ameaçaram ao perceberem o colete. O plano frustrado fez a polícia invadir o local. Durante a troca de tiros, Malaquias foi atingido e morreu.

Outro caso que gerou repercussão, o sequestro de Cleucy Meirelles de Oliveira, então com 12 anos, durou sete dias. Em 1997, a filha do empresário e ex-senador Luiz Estevão ia para a escola com o motorista, quando foi abordada por quatro homens. Eles a levaram para uma casa, em Samambaia, e pediram resgate de US$ 4,5 milhões e R$ 500 mil. A polícia invadiu o local. Na troca de tiros, um sequestrador foi preso. O agente Marcelo Toledo, recentemente envolvido em supostos esquemas de desvio de dinheiro público, estava na equipe policial e foi baleado no confronto.

Para saber mais
Treino pesado

O Curso de Operações Táticas Especiais (Cote) é o treinamento mais avançado da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Corresponde ao famoso Curso de Operações Especiais Policiais (Coesp) do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar carioca. Para ser admitido no Cote, os candidatos passam por rigoroso processo seletivo, que, por si só, é de fazer muitos desistirem.

A prova física inclui uma corrida de 7,5km em 41 minutos; oito repetições de barra; cinco repetições de barra com 10kg presos ao corpo; 30 flexões em um minuto; 30 abdominais em um minuto; 800 metros de natação em 26 minutos no mar; 100 metros de natação em 2min10seg; e flutuação equipada (vestido, operacionalmente, com farda tática, calças e coturno), por 15 minutos.

Na edição da qual Marcelo participou, durante oito semanas, os agentes frequentam ainda aulas teóricas e práticas, como rapel, resgate no mar, defesa pessoal, treinamento de tiro, progressão em áreas de risco, além de sobrevivência em mata fechada, operações aéreas, entre outras.

Terror em 13 dias de cativeiro

Mulher é sequestrada no estacionamento de um supermercado da Asa Norte e passa quase duas semanas acorrentada em Águas Lindas (GO). Em ação bem-sucedida, a polícia do DF prende três bandidos e liberta a vítima


Um caso clássico de sequestro chegou ao fim, na madrugada de ontem, após 13 dias de cativeiro. A vítima, uma mulher de 45 anos moradora de Sobradinho, foi abordada no estacionamento de um supermercado da Asa Norte, em 20 de setembro, e levada para Águas Lindas, município goiano distante 40km do Plano Piloto. A representante comercial Maria Helena Dantas Spillari ficou acorrentada durante o tempo em que permaneceu em poder dos bandidos, que exigiam R$ 200 mil. Esse é o sequestro mais longo registrado na capital. Com o resultado, a Polícia Civil do DF mantém o índice de 100% de casos solucionados no DF. A média é de um por ano.



Três homens acabaram presos durante a ação de resgate, que envolveu cerca de 50 policiais da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) e da Seção de Operação de Resgate da Divisão de Operações Especiais (DOE), ambas da Polícia Civil do DF. Um agente da DOE foi baleado na altura do olho, mas não corre o risco de perder a visão (leia na página ao lado). No fim, os investigadores prenderam Marcos das Mercês Farias, 39 anos, Luan da Silva Ferreira, 23, e José André Pereira, 26. A polícia ainda apura a participação de mais dois suspeitos.


Marcos é, segundo a polícia, o idealizador do crime, além de líder do bando. Ele trabalhou no supermercado onde houve o sequestro da vítima, entre 2000 e 2008. José André é acusado de ajudar a organizar o ataque, por cerca de dois meses. Luan seria o responsável por abordar Maria Helena no estabelecimento e vigiá-la no cativeiro. Segundo a vítima contou aos investigadores, ele usou vários tipos de drogas na casa e teve alucinações. Em uma delas, abriu todas as janelas afirmando que a Interpol (polícia internacional) havia cercado tudo. Em depoimento, apenas Marcos e Luan confessaram o crime.

Para a polícia, Marcos sabia dos pontos cegos no sistema de câmeras da garagem coberta do estabelecimento e, por isso, escolheu o local para abordar a vítima, escolhida de forma aleatória e por ter um veículo caro (Renault Fluence). Ele utilizou um Celta prata para sequestrar a mulher, obrigada a deitar no banco traseiro para que os equipamentos não flagrassem a saída (leia Storyboard). O trio pretendia queimar o carro depois de receber o resgate. A escolha das casas teria sido feita por Marcos, ex-corretor de imóveis em Águas Lindas.

“Socorro”

Familiares de Maria Helena registraram a ocorrência seis horas após o desaparecimento. Ela havia sido vista, pela última vez, no condomínio onde mora, no Grande Colorado. Ao sair de casa, por volta das 12h30, disse que tinha um compromisso em Águas Claras, mas não compareceu nem entrou em contato com os parentes durante a tarde. Quando estava na DRS, o marido dela recebeu uma ligação dos sequestradores, que pediram R$ 200 mil. Ele atendeu a ligação e, em seguida, passou informações para os investigadores. Recebeu a orientação de não pagar o resgate. Só após terem certeza do local onde a vítima era mantida refém, os policiais estouraram o cativeiro. Maria Helena passou por dois endereços em Águas Lindas. No primeiro, permaneceu nove dias. No segundo, quatro.

A última casa onde a representante comercial esteve tem quatro quartos e fica às margens da BR-070, no Setor Recreio da Barragem. Foi alugada na última segunda-feira, mas o contrato de seis meses tinha sido assinado havia dois dias. O diretor da DRS, Leandro Ritt, acredita que o grupo usaria o imóvel para manter outras vítimas, em caso de sucesso.

Durante esse cativeiro, os vizinhos não desconfiaram de nada. Apenas observaram que, de dia, não havia movimentação, mas as lâmpadas ficavam acesas na madrugada. O primeiro pedido de ajuda só foi ouvido ontem, durante a invasão da casa pela polícia. “Eu escutei muitos tiros e uma mulher gritando: ‘Socorro, socorro, me ajude!’ Foram gritos de desespero. Pensei que era assalto”, disse um morador. A ação policial deixou muitas marcas de tiro na casa e um rastro de sangue, resultado do ferimento de tiro provocado no agente da DOE Marcelo Macintyre.

“Ardilosos”

A residência de Águas Lindas não tinha móveis. Havia só uma televisão, cobertores e um colchão de ar, usado por Maria Helena. Ela foi encontrada presa por uma corrente ao chão. Em depoimento, disse que passou todo o tempo trancada no quarto. Os sequestradores a amordaçaram algumas vezes. Também a pressionaram e fizeram ameaças. Na primeira semana de sequestro, teve a chance de tomar um banho.

Os bandidos fizeram quatro ligações para o marido da vítima. Um dos fatores que contribuiu para as investigações foi a paralisação bancária. Por causa disso, a família teve dificuldade de sacar o dinheiro, o que prolongou o tempo no cárcere e permitiu a polícia encontrar os suspeitos. “Se não fosse a greve, talvez não conseguíssemos localizá-los antes do pagamento do resgate. É um grupo perigoso, que demonstrou conhecimento das técnicas de sequestro. Eles planejaram tudo e foram muito ardilosos”, afirmou o delegado Ritt.

Os acusados responderão por sequestro, roubo — subtraíram R$ 480 da mulher — e extorsão qualificada. Pelos três crimes, podem ser presos por até 30 anos. Luan Ferreira também foi indiciado por tentativa de homicídio, por ter baleado o policial civil.

FONTE: Blog do Sombra

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