Curdistão iraquiano realiza eleições em clima tenso com Bagdá
Os curdos iraquianos foram às urnas neste sábado para eleger seu parlamento regional em suas primeiras eleições em quatro anos, marcadas pelas tensões com o governo federal de Bagdá e pelos combates na vizinha síria entre curdos e jihadistas.
As eleições coincidiram com um intenso debate entre os curdos, que vivem principalmente em Iraque, Síria, Turquia e Irã, sobre sua identidade nacional, sobretudo desde que o regime do presidente Bashar al-Assad perdeu o controle dos territórios curdos na Síria, em plena guerra civil.
Cerca de 2,8 milhões de curdos estavam convocados a votar nas três províncias desta região do norte do Iraque, onde foram formadas filas diante dos colégios eleitorais desde sua abertura, às 07h00 locais (01h00 de Brasília).
Segundo observadores e diplomatas, a votação ocorreu sem incidentes, e foi finalizada às 17h00 locais (11h00 de Brasília). Os resultados preliminares serão divulgados nos próximos dias.
Alguns eleitores vestiam roupas tradicionais reservadas às ocasiões especiais e muitas mulheres utilizavam longas túnicas pretas enquanto aguardavam para votar.
"A situação era muito ruim sob o antigo regime", disse Ghazi Ahmed, referindo-se ao ex-ditador Saddam Hussein, que perseguiu os curdos quando esteve no poder. "Mas agora a vida é melhor, estamos em uma situação boa", disse este comerciante de 56 anos.
A campanha se concentrou na luta contra a corrupção, na melhoria da prestação de serviços básicos e no modo de investimento das receitas petroleiras desta região.
Nestas eleições, as primeiras desde 2009, três principais partidos disputavam os 111 assentos do parlamento curdo: o Partido Democrático do Curdistão (PDK), do presidente regional Massud Barzani, a União Patriótica do Curdistão, do presidente iraquiano Jalal Talabani (UPK), e o grupo de oposição Goran (Mudança, em curdo).
O PDK, que atualmente governa com o UPK, deve receber o maior número de assentos, mas não deve alcançar a maioria sozinho.
"Hoje é um dia histórico na história do povo curdo", disse o primeiro-ministro regional, Neshirvan Barzani, sobrinho do presidente.
"Demos mais um passo na região para consolidar a democracia", afirmou.
Já o UPK, cujo líder Talabani sofreu um ataque cerebral que o mantém há meses afastado do cenário político, pode perder votos em benefício do grupo opositor Goran.
Estas eleições também ocorrem em um contexto marcado pelo desejo de independência e pelo distanciamento cada vez maior das três províncias do Curdistão em relação ao governo federal.
O Curdistão, uma região rica em petróleo, quer construir um oleoduto para unir diretamente seu território aos mercados estrangeiros. No entanto, até o momento a província autônoma exporta petróleo em caminhões em direção à vizinha Turquia e assinou acordos de cooperação com companhias estrangeiras, como Exxon Mobil e Total.
Também se aproveita de um crescimento econômico muito superior ao do resto do país.
O governo central de Bagdá considera que estas exportações de petróleo são de contrabando e que os contratos assinados com companhias petroleiras estrangeiras sem o acordo do ministério federal são ilegais.
O Curdistão e o Estado federal também divergem sobre a soberania da região de Kirkuk, rica em petróleo, que os curdos querem incorporar ao seu território.
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