domingo, 10 de janeiro de 2021

Entenda o leilão do 5G e as perspectivas para a tecnologia no Brasil

TECNOLOGIA

Certame previsto para o 1º semestre, impasse com a Huawei é incerto

Leia os infográficos do Poder360

Burocracia e pandemia atrasaram a realização do leilão do 5G no Brasil, que agora está previsto para o 1º semestre de 2021. Na imagem, antenas de transmissão em BrasíliaMarcelo Camargo/Agência Brasil

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10.jan.2021 (domingo) - 6h00

O leilão de tecnologia 5G no Brasil está previsto para ser realizado no 1º semestre deste ano. A oferta atrai investidores de todo o mundo e dita as tendências no mercado de comunicação no ano que se inicia.

Além de internet 100 vezes mais rápida, as redes de 5G usarão um espectro de rádio mais abrangente, permitindo que mais aparelhos móveis se conectem ao mesmo tempo, com maior estabilidade do que os atuais 4G, 3G e 2G. Isso representará uma revolução para diversos setores, desde logística à agricultura, passando pela indústria e pelo planejamento urbano.

A tecnologia deve expandir a usabilidade de ferramentas inteligentes, criando grandes centros ou até mesmo cidades inteiras completamente conectadas. Lâmpadas, carros e geladeiras, entre outros, podem estar todos em rede ao mesmo tempo.

O leilão do 5G no Brasil abarcará as seguintes faixas de radiofrequência: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. São por meio dessas tecnologias que os dados serão transmitidos em ultravelocidade dos celulares e aparelhos em geral para as torres de comunicação.

Considerada a “banda de ouro” por especialistas, o 3,5 GHz deve ser o espectro mais cobiçado entre eles. A licitação dessa faixa será ofertada de forma nacional e regional. Para corrigir distorções, o leilão foi estruturado em forma de “blocos“. Por exemplo, a empresa que ganhar a operação em São Paulo terá que atender também a região Norte, com áreas menos rentáveis.

A expectativa de especialistas e do mercado é de que a oferta do 5G no Brasil seja a maior do mundo. Por causa da pandemia, o leilão –que estava previsto para acontecer no 1º semestre de 2020– teve de ser adiado. O valor também ainda não foi definido.

A estimativa de data foi reforçada pelo presidente da Anatel, Leonardo Euler, em novembro de 2020: “O conselheiro Carlos Baigorri, evidentemente, tem o seu tempo de relatoria, nós envidamos esforços liderados pelo próprio ministro das Comunicações para realizar esse leilão ainda no 1º semestre [de 2021]. Evidentemente que isso é desafiador, porém factível”.

Baigorri foi sorteado como relator do leilão na Anatel. O economista diz que o leilão é “uma prioridade máxima” do governo.

O QUE FALTA

Eis os próximos passos para, enfim, a realização do leilão no Brasil:

Um empecilho curioso, no entanto, pode atrapalhar os planos de empresas interessadas. A interferência da faixa 3,5 GHz com as antenas parabólicas, usadas por milhares de famílias no Brasil ainda hoje, pode aumentar os custos e impor obstáculos para a tecnologia. Para solucionar o problema, testes estavam sendo realizados, mas foram interrompidos também por causa da pandemia.

Os custos que as companhias vencedoras terão para ressarcir o consumidor ou para evitar a interferência nos aparelhos devem ser considerados na definição dos valores.

Para o ministro das Comunicações, Fábio Faria, todos os prazos serão cumpridos e o edital do leilão deverá ser apresentado no 1º semestre de 2020.

REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA

A nova tecnologia 5G pode oferecer internet até 100 vezes mais rápida que o atual 4G, última geração disponível. Com essa melhoria, seria possível baixar um filme em Ultra HD em 10 segundos.

Esses números, no entanto, se referem aos picos teóricos de largura da banda e latência da rede. É improvável que as operadoras consigam entregar esse desempenho logo no início da implementação.

Mesmo sem atingir a capacidade máxima, a tecnologia tem potencial para revolucionar a indústria de telecomunicações, com conexões ainda mais profundas, chegando a regiões brasileiras que atualmente não têm acesso à internet.

Além disso, a tradicional banda-larga tende a ser substituída gradualmente, segundo especialistas. As faixas de radiofrequência, que devem ser leiloadas nos próximos meses podem funcionar como uma espécie de “wi-fi gigante”, juntando estabilidade e velocidade de conexão.

Em entrevista ao Poder360, o superintendente de Planejamento e Regulamentação da Anatel, Nilo Pasquali, estimou que o edital preparado pela agência trará exigências para ampliação das estruturas de telecomunicações no Brasil:

“O que a Anatel quer fazer, em vez de cobrar um boleto em cima do valor [do leilão], é colocar esse valor em expansão de infraestrutura, pelo menos em cobertura 4G, não necessariamente em 5G. Minimamente espera-se um atendimento de banda larga, estamos apontando banda larga, sendo pelo menos tecnologia 4G. Provavelmente não vamos conseguir cobrir o Brasil numa tacada só, mas há uma expectativa muito positiva de cobrir bastante desse deficit de infraestrutura que a gente tem. E o edital é uma grande oportunidade para fazer essa expansão”, disse.

Grandes empresas de todo o mundo voltam os olhos para o Brasil para tentar emplacar suas tecnologias nas redes de telecomunicações.

Espera-se que operadoras de serviço móvel participem do leilão, tendo em vista que a radiofrequência é insumo essencial para o fornecimento do serviço. Já empresas fabricantes não devem fazer ofertas por faixas de frequência leiloadas, mas oferecem equipamentos e infraestrutura para as operadoras que comprarem esses lotes no certame.

Dessa forma, todas as atuais grandes empresas do setor (Claro, Tim e Vivo) devem participar do certame, além de companhias internacionais.

IMPASSE COM A HUAWEI

A participação da Huawei na implantação de redes de 5G pelo mundo tem sido alvo de críticas e restrições encampadas, principalmente, pelo governo norte-americano.

site do programa da gestão de Donald Trump para proteção de dados, Rede Limpa (Clean Network, em inglês), chama a empresa de “1 braço da vigilância do Partido Comunista Chinês”. A China, por sua vez, diz que a iniciativa é “discriminatória”.

Além dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Suécia, entre outras nações, também decidiram banir a tecnologia chinesa.

Eis um infográfico com os principais países que autorizam e rejeitam o 5G da Huawei:

Entre os países abertos para o uso do 5G da Huawei está a Alemanha, a maior economia da Europa. Em dezembro, o gabinete da chanceler Angela Merkel aprovou uma nova lei de segurança de redes, que abre o caminho para permitir o uso da tecnologia da empresa chinesa no país.

A medida, assinada por Merkel mesmo com pressões internas contrárias de seu partido, representou uma vitória para a Huawei e um revés para o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem pressionando seus aliados na Europa a barrar a tecnologia da gigante chinesa.

O projeto de lei alemão estabeleceu critérios técnicos de segurança mais rígidos a todos os fornecedores. O texto ainda precisa passar por aval do Parlamento da Alemanha. Por enquanto, a tendência a ser adotada pele país representa uma forte derrota para o lobby dos EUA contra a  Huawei.

A União Europeia já havia decidido em janeiro de 2020 recomendar aos seus países-membros que restringissem ao máximo os equipamentos de 5G que pudessem representar risco à segurança das informações que trafegassem por esse tipo de banda de comunicação. O endereço dessa recomendação, mesmo sem mencionar o nome de alguma empresa, foi sobretudo a tecnologia vendida pela pela chinesa Huawei.

Vários países como Finlândia, França, Polônia, Romênia e Suécia caminharam no sentido de implementar restrições à tecnologia vendida pela Huawei, mas a empresa chinesa entrou na Justiça em vários locais contestando essas decisões.

Até agora, a maior vitória do lobby dos EUA contra a Huawei na Europa, considerando o tamanho do mercado afetado, foi no Reino Unido. O governo britânico baniu a empresa chinesa com restrições muito duras.

Como se não bastasse, a administração do primeiro-ministro britânico Boris Johnson determinou que as companhias de telecomunicação eliminassem a tecnologia da Huawei até 2027. A empresa do Reino Unido BT Group disse que  essa decisão custará US$ 670 milhões para ser implementada.

LOBBY ANTICHINA NO BRASIL

Parte da ala ideológica do governo abraça o discurso contrário à participação da Huawei no processo de implantação do 5G no Brasil. A empresa chinesa já tem larga atuação no país. É a fabricante da maior parte dos equipamentos usados pelas empresas que operam telefonia no Brasil.

A guerra de versões a respeito da participação chinesa no leilão levou um dos filhos do presidente da República, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), a causar um incidente diplomático com o país asiático ao escrever o seguinte no Twitter:

“O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.

embaixada chinesa classificou o ataque como “inaceitável e afirmou que esse tipo de fala poderá ter “consequências negativas” para a relação dos 2 países.

Não há provas, no entanto, que a tecnologia da Huawei possa fazer parte de um complô para espionagem do governo chinês.

O vice-presidente Hamilton Mourão foi na contramão da opinião do filho do presidente e defendeu a participação da empresa chinesa no certame. Para o general, os brasileiros pagarão mais caro se a empresa não fornecer a tecnologia para implantação do 5G no país, já que toda a infraestrutura do 3G e 4G disponíveis no país são da Huawei.

“Se, por um acaso, dissessem: ‘A Huawei não pode fornecer equipamento’, vai custar muito mais caro. Porque vai ter que desmantelar tudo que tem aqui, porque ela não fala com os equipamentos das outras. E quem é que vai pagar esta conta? Somos nós, consumidores. Eu vejo dessa forma”, disse.


À frente na vacinação, Israel vai emitir 'passaportes verdes' a imunizados

 MUNDO

O ritmo da vacinação em massa no país é o mais acelerado do mundo neste momento


         Israel segue em ritmo acelerado de vacinação; na imagem, o premiê Binyamin Netanyah toma a primeira dose 

         - Foto: Miriam ALSTER / POOL / AFP


Documentos com validade de 72 horas também serão concedidos a quem tiver teste de detecção negativo para o vírus.  

Pelo ritmo da vacinação em massa no país, a maior do mundo neste momento, a demanda será grande. Cerca de 17% da população de 9,3 milhões de habitantes já tomaram a primeira dose do imunizante da Pfizer/BioNTech desde o dia 20 de dezembro.  

Bem mais que outros países, como Reino Unido (1,5%) e Estados Unidos (menos de 1%). Cerca de 1,6 milhão de doses já foram administradas, principalmente em maiores de 60 anos e profissionais de saúde.  

"Estamos quebrando todos os recordes", festejou o premiê Binyamin Netanyahu, que espera vacinar 1,8 milhão de israelenses até o fim de janeiro e 6 milhões até as próximas eleições, em 23 de março. O premiê concorre no quarto pleito em dois anos, e a vacinação virou sua principal bandeira.  

A agilidade da vacinação em Israel tem como base o tamanho diminuto do país (menor que o estado de Sergipe) e a existência de quatro sistemas universais de saúde paralelos, que atendem gratuitamente toda a população e estão acostumados a realizar tratamentos em massa em caso de conflitos ou desastres naturais.  

O Exército também ajuda na complicada logística do transporte das vacinas, que precisam ficar armazenadas a -70° C.  

Para o escritor e colunista Ben-Dror Yemini, o sucesso é calcado na rapidez e na informalidade dos israelenses. "Somos bons em administrar a 'bagunça', improvisar e encarar riscos. Enquanto na França cada vacinado tem que assinar um termo de 42 páginas, aqui as pessoas assinam uma página só e tudo demora poucos minutos".  

  
 

Yemini aponta para o fato de que Netanyahu agiu pessoalmente junto às farmacêuticas e pagou um preço mais alto, de cerca de US$ 30 por dose, o dobro do valor pago pelos europeus. "Pode-se criticá-lo por muita coisa, mas, nesse caso, ele agiu certo. Uma semana a menos de lockdown no país já paga as vacinas mais caras."  

Apesar do otimismo e da eficiência, três problemas ameaçam a imunização em Israel. O primeiro é que faltam vacinas. O ritmo de 150 mil inoculados por dia levou ao fim do primeiro lote na primeira semana de janeiro. Por pressão de Netanyahu, a Pfizer aceitou enviar mais 1 milhão de doses no domingo (10). Em troca, pediu às autoridades israelenses que forneçam estatísticas que ajudem a entender melhor a eficácia de sua vacina. Israel seria, então, um "modelo" a ser estudado.  

O segundo problema é a variante britânica do vírus, que levou à multiplicação dos casos de Covid-19. Os hospitais registram sobrecarga, há mais de 8.000 novos infectados por dia, e o número de mortos beira os 30 (no total, morreram 3.596 mil pessoas).  

Como há um intervalo de 21 dias entre a aplicação das duas doses da vacina da Pfizer/BioNTech, o país foi obrigado a decretar, a partir da meia-noite de quinta-feira (7), um lockdown mais severo do que o em vigor desde o fim de dezembro, com fechamento de escolas e muitas restrições.  

Outro problema é a população super-religiosa, os ultraortodoxos, que são 12% dos cidadãos. Eles demonstram hesitação em suspender aglomerações, aulas em escolas e seminários rabínicos. Algo semelhante acontece com a minoria árabe-israelense (20% da população).  

Enquanto Israel imuniza sua população, a vacinação ainda não começou na Cisjordânia (2,8 milhões de habitantes) e na Faixa de Gaza (2 milhões).  

A ONG Anistia Internacional divulgou nota na quarta-feira (6) exigindo que Israel "pare de ignorar suas obrigações internacionais enquanto força ocupante e atue imediatamente para assegurar que as vacinas de Covid-19 sejam fornecidas igualmente aos palestinos da Cisjordânia e na Faixa de Gaza". A nota ignora que Israel não ocupa Gaza há 15 anos e que o grupo islâmico Hamas, que controla a região, não reconhece Israel.  

O ministro da Saúde Yuli Edelstein disse que a prioridade são os cidadãos israelenses, mas que é interesse do país conter o vírus no lado palestino. Israel já colabora com o Ministério da Saúde palestino desde o começo da pandemia, com treinamento e repasse de máscaras, seringas e equipamentos.  

Israel ocupa a Cisjordânia e Jerusalém Oriental desde 1967 –deixou Gaza em 2005. Pela Convenção de Genebra, é responsável pelo bem-estar dos palestinos dessas regiões.  

Mas, em 1995, Israel e Autoridade Nacional Palestina assinaram os Acordos de Oslo 2, criando o Ministério da Saúde palestino, que se tornou único responsável pela função, com exceção dos 300 mil palestinos de Jerusalém Oriental, que têm cobertura médica em Israel. Segundo esses tratos, os dois governos devem coordenar esforços em vacinação. Mesmo assim, e apesar dos protestos de ONGs, a Autoridade Palestina preferiu, ao menos publicamente, não depender de Israel para a imunização na Cisjordânia. Em Gaza, o Hamas certamente não pediria assistência.  

Os palestinos negociam diretamente com a Rússia, para receber a Sputnik V, com a farmacêutica AstraZeneca e conta com a iniciativa Covax, da OMS, um programa que busca viabilizar imunizantes a preços mais acessíveis.  

O diretor-geral do Ministério da Saúde palestino, Yasser Bouzieh, disse que milhões de doses por meio da Covax devem chegar em fevereiro. O mesmo pode acontecer com a vacina Oxford-AstraZeneca.  

"Eles querem demonstrar independência. Temos que respeitar essa decisão", diz o advogado Daniel Pomerantz, chefe-executivo da ONG Honest Reporting. "Se não há coordenação ou um pedido formal, Israel está proibido de fazer algo à revelia. Você pode imaginar o que aconteceria se Israel fosse vacinar palestinos à força?"  

A TV israelense Kan 11 revelou que a Autoridade Palestina teria pedido 10 mil doses a Israel para imunizar equipes médicas. Hussein al-Sheikh, responsável pela coordenação civil com os israelenses, afirmou que Israel se recusou a repassar os imunizantes, mas fontes israelenses afirmaram que o país já forneceu dezenas de doses aos palestinos, secretamente.  

Os palestinos também apresentam alto índice de hesitação quanto à vacina, em meio a ondas de notícias falsas e teorias conspiratórias. Uma vacina fornecida por Israel poderia ser mais um motivo para afastar os céticos.  

  
 

FONTE: Folhapress