As marcas e recordes negativos relacionados ao
coronavírus se acumulam em todos os cantos. Um novo estudo do Banco Mundial e das Nações Unidas revela que as taxas globais de pobreza extrema no mundo ao final de 2020 deverão ser maiores do que a do ano anterior pela primeira vez desde 1998. Até o final do ano, 500 milhões de pessoas, equivalentes a 8% da população mundial, deverão ser empurradas para a faixa de indigência, a maioria pelos efeitos do covid-19.
Os dados assustam. Mais de 90 países pediram ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) desde o início da pandemia. Boa parte deles luta ainda por perdão de dívidas de empréstimos anteriores, mas os países ricos que concederam os créditos, também comprometidos com novos investimentos para combater o vírus, mostram-se resistentes à ideia.
No Bangladesh, perderam suas vagas um milhão de trabalhadores, informais em maioria, ou sete por cento da força de trabalho daquele país. Na Índia, milhões de trabalhadores também ficaram sem emprego após o anúncio do bloqueio pelo governo. Na África, a pandemia prejudica fortemente a ação das redes de distribuição de ajuda alimentar, o que deverá ampliar os quadros de fome.
México, Porto Rico, Filipinas, países da América Central, Cuba e até regiões brasileiras, como a de Governador Valadares (MG), começam a sentir os efeitos da diminuição importante de remessas de dinheiro de familiares que vivem nos Estados Unidos, agravada pelo rápido aumento dos índices de desemprego na maior economia do mundo.
O Japão separou US$ 990 bilhões (R$ 5,43 trilhões) para investir em pacotes de combate à pandemia e incentivos. Os Estados Unidos destinou quase US$ 3 trilhões (R$ 16,46 trilhões) em pacotes de estímulo econômico para ajudar pobres e pequenas empresas.
Por outro lado, a Índia, com uma população quatro vezes maior que a americana (1,3 bilhão), deverá gastar somente US$ 22,5 bilhões (R$ 123,47 bilhões). O Paquistão, com seus 216,5 milhões de habitantes, quinta maior população do mundo, imediatamente à frente do Brasil, conseguiu destinar apenas US$ 7,5 bilhões (R$ 41,17 bilhões) a projetos semelhantes.
“A tragédia é cíclica. A pobreza é uma grande causa de doenças. As doenças são choques que conduzem as famílias a mais pobreza. E, na suprema maioria dos casos, as mantêm lá”, explicou a Maria Abi-Habib, do jornal americano The New York Times, a diretora executiva do Centro François-Xavier Bagnoud de Saúde e Direitos Humanos, da universidade americana de Harvard, Natalia Linos.
O coronavírus destruiu em poucos meses - e segue destruindo - o que nações demoraram anos e até décadas para construir. Em 1990, 1,9 bilhão de pessoas, ou 36% da população mundial, viviam com menos de US$ 1,90 (R$ 10,27) por dia. Em 2016, esse número baixou para menos da metade, 734 milhões, equivalentes a dez por cento da população do mundo, principalmente por causa da melhoria de qualidade de vida de centenas de milhões de pessoas na China e no sul da Ásia.
Quase todos esses países, inclusive o Brasil, possuem em comum a criação de programas sociais para aumento de renda, melhoria de qualidade de vida e incentivo à educação para faixas mais pobres.
Com a pandemia, a quase totalidade desses países criou déficits e dívidas para investir na solução dos problemas. Por isso, o Banco Mundial e as Nações Unidas temem que muitos deles reduzam de forma radical ou até interrompam esses projetos sociais.
Ao que tudo indica, o coronavírus, a ameaça elevar o número de pobres extremos no mundo para cerca de dois bilhões ao final de 2020, continuará a prejudicar centenas de milhões de pessoas mesmo tempos depois do homem vencer a batalha por seu controle.
FONTE: R7