Posições de Bolsonaro sobre direitos humanos criam debate na Europa e geram pressões por parte de grupos de esquerda
Por Jamil Chadel/UOL
GENEBRA – O governo de Angela Merkel é cobrado por grupos de esquerda para que retire do Brasil o status de parceiro estratégico que tem com a Alemanha. A informação foi dada ao blog por membros do partido Die Linke, de esquerda. O motivo: as posições controversas do presidente Jair Bolsonaro sobre direitos humanos.
“Pedimos ao governo federal da Alemanha que mande uma mensagem clara e que cumpra suas responsabilidades em termos de direitos humanos, suspendendo, por exemplo, a parceria estratégica com o Brasil”, declararam Katja Kipping e Bernd Riexinger, ambos do partido.
A relação estratégica entre os dois países foi estabelecida em 2002. Em 2015, novas iniciativas foram criadas entre Merkel e Brasília, reforçando essa parceria.
Para os deputados do partido Die Linke, além das declarações em relação a ativistas, foi a ordem de Bolsonaro de comemorar o golpe de 1964 o ponto que exigiu uma ação. Chamando o presidente brasileiro de “fascista”, o partido alertou que o “engajamento político hoje no Brasil pode colocar a vida em risco”.
“Bolsonaro ameaça limpar os esquerdistas e, ao comemorar a ditadura, ele comemora assassinos e torturadores”, declararam. “Isso é tão nojento e desumano que é quase impossível encontrar palavras”, atacaram, apontando que o partido permanece solidário com as “forças progressistas, indígenas, LGBT” e outras minorias.
Com 69 assentos no Parlamento alemão, o partido tem uma representação menor que o CDU de Merkel, com 246 parlamentares eleitos e inferior aos 153 assentos do Partido Social-Democrata.
Consultados, membros do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha admitem o “mal-estar” causado pelas declarações de Bolsonaro. Mas, com o objetivo de defender os interesses das empresas alemãs no Brasil, por enquanto nenhuma medida radical deve ser adotada.
Ainda em 2018, a então presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Bundestag (Parlamento alemão), a deputada Yasmin Fahimi, alertou que não haveria condições de manter a parceria estratégica com o Brasil se Bolsonaro fosse eleito.
Mas, com exportações de mais de US$ 9 bilhões ao Brasil em 2017 e investimentos bilionários acumulados, os cálculos de Berlim são de que qualquer atrito neste momento permitia que contratos lucrativos caíssem rapidamente nas mãos de empresas dos EUA, apontado como o parceiro estratégico de Bolsonaro.
Hoje, cerca de 1.600 empresas alemãs no Brasil respondem por 8% do PIB industrial brasileiro.
No Partido Social-Democrata que faz parte da coalizão de Merkel no governo, a palavra “mal-estar” também é usada por alguns de seus membros para explicar a relação com o Brasil. Merkel, antes mesmo de o governo iniciar, já havia alertado em 2018 que a chegada ao poder de Bolsonaro poderia dificultar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
Mas, segundo fontes em Berlim, a diplomacia alemã não pretende romper com Bolsonaro e busca um equilíbrio entre preservar seus interesses e defender posições sobre direitos humanos.
O equilíbrio entre os interesses comerciais e a defesa dos direitos humanos também é um debate dentro do governo francês de Emmanuel Macron. Desde o ano passado, Paris passou a ver o governo Bolsonaro com um certo desconforto.
Numa nota emitida depois das eleições, o governo Macron deixou claro que a parceria entre os dois países gira em torno dos “valores comuns de respeito e promoção de princípios democráticos” e que seria com base nisso que Paris manteria a cooperação com o Brasil.
Mas o brasileiro afirmou que “quem é favorável ao socialismo deve olhar para a experiência da França, que abriu suas fronteiras a todo tipo de refugiado”. E ainda completou: “É um mau exemplo”.
O próprio Macron havia alertado que o acordo comercial entre a UE e o Mercosul apenas poderia ocorrer se o Brasil se comprometesse em permanecer no Acordo Climático.
Também em 2018, o brasileiro havia descrito a situação na França como “insuportável” diante da presença de imigrantes. Nas redes sociais, foi o embaixador francês nos Estados Unidos, Gérard Araud, quem respondeu, citando os índices de violência nos dois países.
“63.880 homicídios no Brasil em 2017, 825 na França. Sem comentários”, escreveu o embaixador nas redes sociais, difundindo uma reportagem descrevendo as declarações de Bolsonaro. O diplomata ocupa um dos cargos mais importantes da chancelaria francesa desde 2014. Antes, havia sido o embaixador da França na ONU, outro cargo de prestígio na carreira.
Mas Paris tem sido pressionada a não dar respostas duras ao governo brasileiro, principalmente diante das perspectivas de gastos militares importantes da gestão de Bolsonaro.
Como um dos principais fornecedores de equipamentos militares no mundo, os franceses não escondem que querem uma parte dos futuros contratos brasileiros e não descartam enviar uma missão liderada pelo ministro de Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, ao país ainda no primeiro semestre de 2019.
MUNDO Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionSaída do Reino Unido da UE sem acordo afetaria sobretudo exportações do setor agrícola no Brasil
A possível saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem um acordo - o chamado hard Brexit - significaria "um caos" para a economia global, na visão de analistas, e o Brasil poderia sentir esse impacto, em um primeiro momento, "no bolso" e no mercado de trabalho.
Um estudo do Instituto Halle de Pesquisa Econômica (IWH), da Alemanha, que considera o cenário em 43 países, calcula que quase 10 mil trabalhadores em território brasileiro poderiam ser afetados em dezenas de setores ligados às exportações, mas principalmente na agricultura, atividade em que o país se destaca como maior fornecedor da UE.
Internacionalmente, há previsão de que o hard Brexit afete 600 mil empregos, com um baque maior na Alemanha. Sozinho, o país teria aproximadamente 100 mil vagas "em risco", a maioria em funções ligadas à produção e comércio na indústria automotiva. Países como China, França, Polônia e Itália, seriam, nessa ordem, os outros quatro da lista mais afetados.
"Mais de 5 mil dos 10 mil empregos estariam em risco na agricultura brasileira. Outras atividades sentiriam menos", diz em entrevista à BBC News Brasil Oliver Holtemöller, chefe do departamento de macroeconomia e vice-presidente do instituto, umthink tankmembro da Associação Leibniz, que reúne institutos de pesquisa alemães de diversos ramos de estudo.
No entanto, especialistas ressalvam que também poderiam haver oportunidades para o Brasil em possíveis negociações individuais com o Reino Unido.
O Halle foi fundado em 1992 por um acordo entre o governo da Alemanha e o Estado federal da Saxônia-Anhalt para a realização de pesquisas econômicas empíricas, institucionais e para terceiros, nas áreas de dinâmica e estabilidade macroeconômica, instituições e normas sociais, produtividade, inovação, estabilidade financeira e regulação.
Holtemöller, um dos autores do estudo sobre os potenciais efeitos de um hard Brexit no mercado de trabalho internacional, explica que o cenário turbulento é previsto diante da perspectiva de o Brexit reduzir exportações de países da União Europeia para o Reino Unido em um percentual que estima em 25%. A queda ocorreria caso a saída seja efetivada sem o chamado "acordo de retirada" - que o governo britânico negociou com os líderes da União Europeia, mas que já foi rejeitado três vezes pelo Parlamento.
Para estimar os impactos, por país e indústria, o instituto construiu coeficientes que indicam quantas pessoas empregadas são necessárias para produzir nas unidades de produção, baseando seus cálculos em informações extraídas do Banco de Dados Mundial de Insumo-Produto (WIOD, da sigla em inglês).
Direito de imagemREUTERSImage captionPrimeira-ministra britânica, Theresa May, espera adiar mais uma vez o Brexit, previsto para a semana que vem
Mas o que é Brexit e em que pé ele está?
Brexit é uma abreviação para "British exit" ("saída britânica", na tradução literal para o português) e é o termo mais comumente usado quando se fala sobre a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia.
Ele foi aprovado em um referendo em 23 de junho de 2016, quando os britânicos foram perguntados se o Reino Unido deveria permanecer ou deixar a União Europeia. A maioria - 52% contra 48% - decidiu em um referendo que o país deveria deixar o bloco. Mas a saída não aconteceu de imediato e acabou virando um processo cheio de incertezas.
Diante de impasses envolvendo o acordo que prevê como seria essa retirada, a probabilidade de um não-acordo, ou hard Brexit, segundo analistas, só cresce. A data do Brexit em si também é incerta. Originalmente, estava marcado para 29 de março. O prazo acabou adiado para 12 de abril com possibilidade de novas mudanças.
Nesta sexta-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, pediu oficialmente uma nova prorrogação, desta vez para 30 de junho. No entanto, a editora da BBC na Europa, Katya Adler, foi informada por uma fonte na UE de que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, vai propor uma extensão "flexível" de 12 meses, com a opção de abreviar este prazo.
O pedido de May foi feito em meio a tentativas de chegar a um entendimento com a oposição para destravar o caminho de saída do bloco e precisa ser aprovado por unanimidade pelos líderes da União Europeia, na próxima quarta-feira, 10 de abril.
Ela propôs que, se os parlamentares britânicos aprovarem um acordo a tempo, o Reino Unido saia do bloco antes das eleições para o Parlamento Europeu, que terão início em 23 de maio. Mas afirmou que o país se preparará para participar dessas eleições caso nenhum acordo seja aprovado até lá.
Direito de imagemIWHImage captionPara Oliver Holtemöller, cinco mil empregos estariam em risco na agricultura brasileira com hard Brexit
Efeitos indiretos de um não-acordo
Em um horizonte em que o Brexit ocorra sem esse acordo, o Instituto Halle analisa que os produtos da União Europeia passariam a ser tarifados nas negociações com o Reino Unido, o que os deixaria mais caros e reduziria o apetite britânico para consumi-los.
Os efeitos disso, afirma, se alastrariam pela cadeia produtiva que abastece esse mercado e acabariam chegando de forma "indireta" a vários países, inclusive ao Brasil.
"Os efeitos não estão relacionados às exportações brasileiras para o Reino Unido (que não foram objeto do estudo), mas a insumos intermediários que as empresas brasileiras entregam a exportadoras de produtos da UE para o Reino Unido", disse Holtemöller.
"O setor alemão de fabricação de produtos alimentícios, por exemplo, exportaria menos para o Reino Unido e, portanto, também importaria menos insumos intermediários do setor agrícola do Brasil". O impacto é visto num horizonte de curto prazo.
A longo prazo a expectativa é que "as empresas possam se ajustar à nova situação".
Retração
Enquanto essa acomodação não chegasse, porém, uma vez reduzidas as exportações para o bloco, as empresas atingidas reduziriam suas áreas de produção, demitiriam pessoal ou diminuiriam seus horários de trabalho, segundo projeções de Holtemöller.
"Existem também outras possibilidades. As empresas podem reduzir os preços, o que pode levar a lucros menores ou a aumentos salariais mais baixos."
O Departamento de Inteligência e Competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) confirmou em nota à BBC News Brasil - sem estimar possíveis impactos no mercado de trabalho - que "uma saída não negociada do Reino Unido da União Europeia implicaria, no curto prazo, em maior custo de aquisição destas mercadorias pelas empresas do Reino Unido, com impactos financeiros negativos para as vendas de alimentos do Brasil".
"Essa dificuldade", segundo a associação, poderia ser superada por um futuro acordo comercial entre o Brasil e o Reino Unido. "Todavia este processo demanda tempo, e também está sujeito a imprevistos".
Qual é a importância da UE e do Reino Unido para o comércio do Brasil?
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a União Europeia e a Europa (bloco que considera a UE, a Rússia e outros países) detêm juntas o posto de segundo principal destino das exportações brasileiras hoje.
A fatia que abocanham das exportações é de aproximadamente 28% e segue de perto a da Ásia - para quem perderam a liderança a partir de 2017.
Excluindo o Oriente Médio, o chamado bloco Ásia compra atualmente 30% do que o Brasil vende lá fora.
Mas a força do comércio Brasil-UE resiste e é ressaltada pela própria União Europeia, que mantém uma página dizendo que o Brasil é o seu 10º maior parceiro comercial e também seu maior fornecedor de produtos agrícolas.
A lista do que compra inclui, por exemplo, carnes, soja, café, milho, algodão, frutas, sucos e outros subprodutos.
Direito de imagemREUTERSImage captionSoja e subprodutos, como bagaços e outros resíduos sólidos, da extração do óleo, estão entre os que o Brasil exporta para UE
Isoladamente, o Reino Unido também é um parceiro importante para diversos setores brasileiros, incluindo ramos do setor agrícola e da indústria de alimentos.
Dados do MDIC levantados pela BBC News Brasil mostram que a região - que engloba Inglaterra, País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia - é a 17º principal compradora internacional dos produtos brasileiros, em meio a 253 parceiros.
Dentro da União Europeia, é a sexta mais importante, atrás de Holanda, Alemanha, Espanha, Itália e Bélgica.
Só no ano passado, as exportações totais do Brasil para o mercado britânico alcançaram US$ 3 bilhões.
A força dos bens intermediários
Um levantamento do Departamento de Inteligência e Competitividade da ABIA, realizado a pedido da BBC News Brasil, mostra que, só no ano passado, as exportações de alimentos in natura e de alimentos industrializados do Brasil para os britânicos alcançaram US$ 859,7 milhões - ou seja, 28,65% do total de US$ 3 bi negociados com esse mercado no período.
"Deste montante, mais de dois terços podem ser classificados como bens intermediários, bens manufaturados ou matérias-primas empregados na produção de outros bens intermediários ou de produtos finais", diz a associação, acrescentando que "as cadeias produtivas de valor britânicas, inclusive as indústrias de alimentos e bebidas, dependem fortemente de matérias-primas importadas, sendo o Brasil um de seus principais fornecedores."
Do ponto de vista global, o Instituto Halle destaca que "tanto para bens intermediários quanto para uso final, a UE é o parceiro comercial quantitativamente mais importante do Reino Unido".
E o acordo do Brexit?
O acordo de retirada do Reino Unido do bloco foi negociado entre a primeira-ministra, Theresa May, e os países remanescentes em 25 de novembro de 2018.
O documento estabelece que a relação comercial de produtos entre as duas partes deve ser o mais próxima possível da atual, viabilizando a facilidade de negociação.
"Isto significa uma área de livre comércio de mercadorias", explica o Instituto Halle no material de divulgação do estudo.
Em entrevista à BBC News Brasil, o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP), Kai Enno Lehmann, complementa que "com um possível acordo começaria um período de transição e durante esse período as regras da União Europeia continuariam se aplicando ao Reino Unido".
Já no caso de não acordo, "no minuto em que o Reino Unido sair da União Europeia vai perder qualquer acordo que a União Europeia tenha com outro país. Todos os acordos que regem de um lado a relação entre Reino Unido e União Europeia e, de outro, a da União Europeia com o resto do mundo não teriam mais validade".
A situação do Reino Unido nesse caso, segundo o professor, seria "dramática" economicamente.
Direito de imagemRENATA MOURA / BBC NEWS BRASILImage captionFrutas estão entre os produtos agrícolas que encontrariam oportunidades com um possível Brexitmesmo sem acordo, diz Associação
"Potencial caos", mas também "oportunidades"
"O problema com uma saída abrupta seria o potencial caos que se criaria. O Reino Unido simplesmente perderia do dia para a noite a base do seu comércio mundial, teria que renegociar seus acordos individualmente", explica Lehmann. "O impacto seria global simplesmente porque o Reino Unido é uma das maiores economias da União Europeia e do mundo".
Com relação ao Brasil, como não existe um acordo de livre comércio vigente - mas sim em negociação - entre o Mercosul e a União Europeia, a repercussão da saída do Reino Unido seria menos intensa do que em outros mercados, na avaliação dele, e também poderia haver um lado positivo.
"Sem esse acordo vai ter impacto? Não há dúvida. Vai ser uma coisa negativa? Com certeza também. Uma ruptura brusca seria ruim para todos os estados membros da UE, embora o impacto seja muito pior para o Reino Unido. A economia britânica sofreria bastante e isso teria impacto em todos os seus parceiros comerciais, inclusive o Brasil", diz o professor, observando, porém, que como o Reino Unido "ficaria muito frágil e com menor poder de barganha", poderia haver vantagens para o Brasil em possíveis negociações individuais, mas não no curto prazo.
"Para o Brasil e vários setores as oportunidades são grandes, caso o país assuma um pensamento estratégico e estabeleça o que quer do Reino Unido e de um acordo de livre comércio. Se eu fosse representante de um setor estratégico faria muita pressão no governo (para assumir essa postura) e tentar se aproveitar dessa situação."
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, faz coro. Segundo ele, os produtores do setor esperam, em vez de queda com o Brexit, impulsionar as vendas para o Reino Unido, para onde seguem atualmente, por exemplo, 26% de todo o melão que o Brasil exporta.
A fruta é a que os britânicos mais importam dos produtores brasileiros, mas uvas, mangas, melancias e limões também estão na lista.
A expectativa é buscar um acordo nos moldes do que estamos negociando com a comunidade europeia e tentar reduzir o imposto de importação, que hoje é de 8,8%, para zero", diz Barcelos. "O percentual vai caindo ao longo de 10 anos até zerar".
Direito de imagemRENATA MOURA / BBC NEWS BRASILImage captionProdutores de melão, que vendem hoje para supermercados britânicos, tentariam reduzir imposto
"Acordo crucial"
Lehmann, da USP, diz que apesar das possíveis oportunidades que um hard Brexit pode trazer, um acordo seria crucial, uma vez que "o processo de saída do país do bloco seria ordenado".
Holtemöller também afirmou que "no caso de um acordo que implique o livre comércio entre UE e o Reino Unido, os efeitos sobre o emprego seriam muito menores".
"No entanto, sem um acordo formal, se aplicariam tarifas nas transações entre o Reino Unido e a UE. Carros e peças de automóveis, por exemplo, seriam tributados em 10%. As tarifas agrícolas são ainda maiores", prevê o instituto em nota para apresentação do estudo.
Em um texto publicado no site, em que também analisa os dados, o economista ressalta que "um Brexit sem acordo desestabilizaria as cadeias globais de valor (ou seja, o conjunto de atividades necessárias para produzir e entregar o produto ao consumidor final" e que "é por isso que a retirada desordenada da Grã-Bretanha da UE tem o potencial de causar uma perda significativa de riqueza".
Do ponto de vista econômico, defende, "é crucial que um acordo ainda possa ser alcançado".
GOVERNO Desempenho do presidente nos três primeiros meses é o pior entre governantes da República em primeiro mandato desde a redemocratização Bolsonaro conta com uma fatia esperançosa da população: 59% ainda acreditam em uma administração "ótima" ou "boa" Bruno Alencastro / Agencia RBS Completados os três meses iniciais no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro(PSL)registra a pior avaliação entre governantes da República de primeiro mandato em igual período desde a redemocratização no país, em 1985. A pesquisa foi realizada pelo Datafolha e divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo neste domingo (7). Para 30% dos brasileiros, a administração de Bolsonaro é "ruim" ou "péssima".
O índice dos que consideram o governo "ótimo" ou "bom" é quase o mesmo: 32%. Escolheram a opção "regular" 33% dos entrevistados. O total de pessoas que não soube opinar ficou em 4%.
A esperança, entretanto, parece estar em bom patamar: 59% dos respondentes ainda acreditam que ele fará uma administração "ótima" ou "boa".
Antecessores que ocuparam o mais alto cargo do Executivo, nas mesmas condições de Bolsonaro, obtiveram avaliações melhores: Fernando Collor (então no PRN) era reprovado por 19% dos brasileiros em 1990. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) chegou a 16% de "ruim" ou "péssimo" em 1995.
Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, foram reprovados por 10% e 7% da população, respectivamente, ao final dos primeiros três meses. Dilma se destaca com a melhor posição entre todos os presidentes do período: em 2011, contava com 47% de "ótimo" ou "bom".
Foram ouvidas 2.086 pessoas, com idade acima de 16 anos, em 130 municípios brasileiros, nos dias 2 e 3 de abril. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O presidente Jair Bolsonaro está programando uma viagem à região Nordeste e deve aproveitar a ocasião para anunciar o pagamento do 13.º salário do Bolsa Família. O dinheiro para bancar a medida já está reservado no Orçamento. A incursão de Bolsonaro à única região em que não foi vitorioso nas eleições faz parte da tentativa de reaproximação com o Congresso e de alavancar novamente sua popularidade após o recuo no início de sua gestão.
O 13.º do Bolsa Família foi uma promessa de campanha de Bolsonaro e deve ser mencionado no balanço dos primeiros 100 dias de governo. Mas a ideia é usar a viagem para mostrar, numa região com muitos beneficiários do programa, que o governo está atuando em outras frentes além da reforma da Previdência, pauta considerada impopular.
Parlamentares da região reclamam que a reforma da Previdência tem sido até agora a única pauta do governo, o que aumenta as cobranças na base eleitoral sobre os congressistas. O anúncio do 13.º seria um afago no sentido de dar aos deputados e senadores uma bandeira num momento de tentativa de construção de uma base aliada, além de apontar para uma agenda mais positiva. A equipe econômica também tem se debruçado sobre medidas para tentar alavancar o crescimento, como antecipou o Estado.
No Congresso, a principal reclamação nos bastidores é a falta de clareza na agenda que será tocada por Bolsonaro durante seu governo, não só na economia mas também em outras áreas. Sem essa visão de mais longo prazo, o presidente encontra dificuldades em convencer potenciais aliados a carimbar em si mesmos o selo de "base do governo", que se traduz no compromisso de apoiar e atuar em defesa das iniciativas do Executivo.
A ida de Bolsonaro ao Nordeste ajuda a azeitar esse caminho na tentativa de construção da base, pois garante momentos de exposição dos parlamentares ao lado do presidente numa situação positiva, de anúncio de expansão do programa social.
Orçamento
O dinheiro necessário para bancar o 13.º do Bolsa Família já foi reservado no Orçamento de 2019, apesar do corte bilionário em outras despesas para assegurar o cumprimento da meta fiscal para o ano. São R$ 2,6 bilhões destinados à medida, elevando os recursos do programa social para R$ 32,1 bilhões neste ano.
O coordenador da bancada do Nordeste, deputado Julio Cesar (PSD-PI), diz que os parlamentares estão tentando estabelecer uma ponte com Bolsonaro e esperam ser recebidos pelo presidente nos próximos dias para tratar de assuntos da região. "Essa reaproximação é importante", afirma.
A bancada do Nordeste também é uma das mais resistentes a pontos polêmicos da reforma da Previdência, como o endurecimento das regras de aposentadoria rural e do benefício assistencial para idosos miseráveis. A região concentra 27% dos beneficiários da Previdência Social e quase metade dos aposentados rurais no País
A data da viagem e o itinerário de Bolsonaro no Nordeste ainda não foram definidos. Uma possibilidade em estudo é que o presidente e sua comitiva desembarquem na região no fim do mês ou no início de maio. A iniciativa já tem sido sinalizada a congressistas em reuniões com a área econômica.
Região Norte
O presidente deve iniciar a série de viagens que pretende fazer pelo País na região Norte. Ele vai inaugurar o novo aeroporto de Macapá (AP) na sexta-feira (12), ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Bolsonaro também tem intenção de ir a Campina Grande, na Paraíba, para uma cerimônia de entrega de casas populares, ao lado do prefeito Romero Rodrigues (PSDB). A viagem ainda não tem data definida.
Na semana passada, o presidente citou outros potenciais destinos, como Pará e Amazonas, além da própria Paraíba. A aproximação com prefeitos também é um movimento importante, uma vez que o PSL ganhou força apenas nas últimas eleições e não tem essa capilaridade que pode ajudar nas articulações pela reforma
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também definiu o "contato político" como prioridade para as próximas semanas, em prol da aprovação da reforma da Previdência. Ele já se reuniu com as bancadas do PSD e do PSL – partido de Bolsonaro – e deve ter encontros com PP, PSDB e DEM.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.