Simpósio vai discutir
temas importantes da reprodução humana
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Temas
como aborto espontâneo recorrente, endometriose e infertilidade e
congelamento de óvulos vão ser abordados durante o evento
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Congelamento de óvulos por razões sociais, endometriose e infertilidade, aborto espontâneo recorrente, avaliação da reserva ovariana, Síndrome do Ovário Polícistico e infertilidade, o que é importante na
avaliação do casal infértil, o uso de anticoncepcionais e o risco de
trombose e o uso de androgênios (hormônios sexuais masculinos) no
período fértil da mulher e na menopausa. Esses são alguns dos temas que vão ser discutidos no 9º
Simpósio de Reprodução Humana de Brasília, no próximo dia 6 de maio,
das 8 às 13h, no auditório da AMB (Associação Médica de Brasília).
O evento, promovido pela Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal (SGOB) e pela Sociedade Brasileira de Reprodução Humana -
DF (SBRH-DF), deve reunir cerca de duzentos especialistas da área,
além de estudantes de medicina e médicos residentes. Informações e
inscrições: (61) 3245-3681 / (61) 99622-2865.
Congelamento de óvulos
Atualmente, muitas mulheres têm seu primeiro filho após os trinta anos. A mulher moderna adia a maternidade por vários motivos,
seja para investir na formação e na carreira profissional, ou porque
ainda não encontrou o parceiro ideal ou ainda porque pretende buscar
estabilidade financeira antes de ter um filho. O grande problema é
que quando muitas mulheres resolvem ter filhos a fertilidade delas já
entrou em declínio. "O pico de fertilidade da mulher é entre os 20 e 25
anos de idade. Após os 30 anos e, principalmente, depois dos 35, a
fertilidade feminina entra em declínio progressivo", explica o
ginecologista Jean Pierre Barguil Brasileiro, especialista em Reprodução
Humana, presidente da SGOB e um dos coordenadores do Simpósio. "A idade
da mulher é um dos fatores naturais que afetam a sua capacidade
reprodutora", confirma o ginecologista Vinicius Medina Lopes, também
especialista em Reprodução Humana, diretor da SBRH-DF e coordenador do Simpósio.
O
congelamento de óvulos, através da técnica segura e eficaz de
vitrificação, possibilita que as mulheres adiem a gestação e ainda que
engravidem utilizando os próprios gametas até mesmo depois da menopausa.
Além da indicação social para congelar os óvulos, existem as indicações
médicas. "Mulheres que são submetidas à quimio ou radioterapia para
tratamento de determinados tipos de câncer podem ter perda da capacidade
reprodutiva por diminuição importante da quantidade de óvulos",
esclarece Vinicius Medina Lopes.
Para
preservar a fertilidade feminina, a técnica de vitrificação é uma das
que apresenta os melhores resultados. O método de criopreservação
permite o ultrarresfriamento dos óvulos em baixíssima temperatura
(-196ºC) e de forma muito rápida, garantindo a sua qualidade no ato do
descongelamento ou desvitrificação para fertilização em seguida.
Considerado um método mais avançado de criopreservação, a vitrificação
proporciona taxas de gestação altas, uma vez que o procedimento preserva
as características, a idade e a qualidade dos gametas femininos.
Durante o processo de congelamento, os óvulos são desidratados e
tratados com substâncias crioprotetoras antes de serem congelados.
Avaliação do casal infértil
Cerca
de 15 % da população brasileira em idade fértil é afetada pela
infertilidade conjugal, caracterizada pela ausência de gravidez em um
casal com vida sexual ativa e que não usa medidas anticonceptivas por um
período de um ou mais anos. Sabe-se, atualmente, que cerca de 40% dos
casos de infertilidade de um casal são atribuídos à mulher, 40 % aos
homens e em 20% dos casos o problema é resultado de uma combinação de
fatores em ambos os parceiros. “Quando a gravidez não acontece, o homem
também deve ter acompanhamento médico e participar junto com a sua
parceira da investigação para diagnóstico e tratamento da
infertilidade”, afirma o médico Vinicius Medina Lopes.
Várias
são as causas mais comuns que podem levar à infertilidade nas mulheres,
dentre elas as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST's), os
distúrbios hormonais, obstrução nas trompas, problemas de malformação ou
tumores no útero, endometriose, miomas e ovários policísticos.
Nos
homens, um dos principais fatores de infertilidade é a varicocele, que
consiste na dilatação anormal das veias que drenam o sangue na região
dos testículos. Há também causas genéticas, homens que não têm
espermatozoides (azoospermia) ou que apresentam uma concentração
inferior a quinze milhões de espermatozoides por mililitro de sêmen
(oligozoospermia severa). As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s),
o uso de cigarro e o consumo de álcool e anabolizantes também podem
comprometer a fertilidade.
É
importante saber que uma mulher com menos de 30 anos pode esperar até
dois anos para que aconteça a gravidez. Caso a mulher tenha mais de 30
anos não deve aguardar mais que um ano para iniciar uma investigação com
o especialista. Se atingiu 35 anos, o prazo de espera não deve
ultrapassar seis meses. Após os 40 anos se a mulher deseja engravidar
deve, de imediato, iniciar a investigação da sua capacidade fértil.
Outros
fatores também podem influenciar a saúde reprodutiva como o estresse,
tabagismo, obesidade, poluição, consumo de álcool e de drogas, uso de
alguns medicamentos, problemas da tireoide e a própria ansiedade.
Endometriose e infertlidade
Cerca
de 6 milhões de mulheres brasileiras em idade fértil são acometidas
pela endometriose. Uma grande parte dessas mulheres só descobre a doença
quando não consegue engravidar. A endometriose pode causar
infertilidade, principalmente, em seu estágio mais avançado, quando a
doença atinge as trompas, órgão que conduz o óvulo ao útero. A doença
também é associada a alterações hormonais e imunológicas, que podem
dificultar a gravidez. A depender do
quadro, o tratamento pode ser com o uso de medicamentos hormonais ou
através de procedimento cirúrgico, como videolaparoscopia (técnica de
cirurgia minimamente invasiva). A infertilidade decorrente da
endometriose pode ser tratada também com a inseminação artificial,
técnica de reprodução assistida que consiste na estimulação ovariana e
posterior colocação do sêmen dentro da cavidade uterina através de um cateter
flexível. Em casos mais avançados, quando a endometriose já atingiu
vários órgãos, geralmente, a paciente precisa de uma técnica mais
complexa para engravidar, como a Fertilização in Vitro (FIV).
A
endometriose consiste na presença de endométrio (tecido que reveste o
útero internamente e que é renovado mensalmente pela menstruação) em
locais indevidos, ou seja, fora da cavidade uterina. Quando não ocorre a
fecundação, o endométrio se fragmenta e é eliminado junto com o sangue
menstrual, podendo migrar através da corrente sanguínea para órgãos como
o ovário, intestino, apêndice, bexiga e vagina. Cólica
menstrual aguda, dores pélvicas entre as menstruações, dor durante a
relação sexual e infertilidade estão entre os principais sintomas da
doença. As dores decorrentes da endometriose comprometem bastante a
qualidade de vida da mulher.
Apesar
da doença ser um dos principais fatores associados à infertilidade
feminina, nem todas as mulheres que têm endometriose são inférteis.
“Quando a mulher engravida na fase inicial da doença, a progesterona,
hormônio produzido em grande quantidade na placenta, age como protetor,
aliviando os sintomas da endometriose. A gravidez acaba funcionando como
tratamento para a doença”, explica o médico Jean Pierre Barguil
Brasileiro.
A
endometriose é considerada uma doença da mulher moderna, que retarda a
maternidade, tem menos filhos e, consequentemente, tem mais ciclos
menstruais. Atualmente, a mulher menstrua em média 400 vezes ao longo da
vida, quando no inicio do século passado, menstruava cerca de 40 vezes.
Além disso, a menarca (primeira menstruação) hoje acontece bem mais
cedo graças ao estilo de vida, o estímulo sexual e a alimentação (uso de
hormônios em alimentos). Hoje é normal a menina começar a menstruar por
volta dos 11 a 12 anos de idade, antes a menarca acontecia entre os 14 e
15 anos.
A
melhor forma de evitar a doença é a prevenção através de consulta ao
ginecologista e exames de rotina anuais. Uma alimentação saudável e a
pratica regular de atividade física também é recomendada para manutenção
de uma vida reprodutiva saudável.
Aborto espontâneo recorrente
Ter
uma gravidez tranquila, saudável e sem contratempos é o desejo dos
casais que esperam um bebê, mas alguns deles são obrigados a enfrentar
um problema muito mais comum do que se imagina: o abortamento espontâneo
recorrente. De acordo com a Sociedade Americana de Medicina
Reprodutiva, entre 15% e 25% das mulheres em idade fértil vão ter pelo
menos uma perda gestacional e 5% delas terão duas. Cinquenta por cento
das perdas não têm causas definidas. O aborto espontâneo é caracterizado por uma gravidez interrompida por causas naturais antes de completar vinte semanas de gestação. O especialista Vinicius Medina Lopes explica
que o abortamento espontâneo recorrente, também conhecido como
abortamento habitual ou de repetição, acontece quando há duas ou mais
perdas gestacionais espontâneas e consecutivas antes da vigésima semana
de gravidez. Além de grande sofrimento, o aborto recorrente causa
constrangimento e impacto emocional para as mães, seus parceiros e
familiares e, muitas vezes, efeitos devastadores na vida do casal.
Febre,
sangramento vaginal, dor abdominal intensa e calafrios são alguns dos
sintomas que podem sinalizar a perda do bebê. Quando uma grávida sente
qualquer um desses sintomas, deve consultar imediatamente seu médico.
No Brasil, estima-se que por ano um milhão de casais percam seus bebês por conta de abortamentos espontâneos.
“Alterações imunológicas, malformações uterinas e outros problemas
anatômicos, distúrbios hormonais, fatores genéticos (anomalias
cromossômicas no casal), infecções, obesidade, doenças crônicas da mãe,
como diabetes não controlada e hipertensão, e o uso de drogas podem ser
responsáveis pelo abortamento recorrente. Em boa parte dos casos, as
perdas gestacionais sucessivas são multifatoriais, mas em 50% dos casais
não é possível definir as causas”, esclarece o médico. Além desses
fatores, a trombofilia adquirida e hereditária também é uma causa de
abortamentos e outras complicações na gravidez, como a hipertensão
gestacional e o parto prematuro.
Além
dos danos emocionais, os abortamentos de repetição repercutem também na
vida financeira de muitos casais. Eles passam a viver na expectativa de
ter um diagnóstico que identifique o que causa as perdas gestacionais,
possibilite o tratamento e garanta uma futura gravidez saudável, que
evolua normalmente até o parto, o que, muitas vezes, leva tempo, gera
muita ansiedade e conflitos e exige investimento. O número de
abortamentos prévios e a idade da mulher aumentam o risco de novas
perdas. As mulheres com mais de 35 anos de idade já têm fator de risco
aumentado. “A possibilidade de perda gestacional aumenta
progressivamente em mulheres que já tiveram outras gestações
interrompidas por causas naturais”, diz o médico.
O
tratamento com progesterona, o suporte emocional e a adoção de hábitos
de vida saudáveis (manter-se no peso adequado, não fumar, não consumir
álcool e drogas ilícitas) são algumas das recomendações dos
especialistas.
O tipo de tratamento indicado dependerá das possíveis causas do problema. Segundo dados da FEBRASGO (Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), quando o diagnóstico e
tratamento são realizados de forma adequada, 84% dos casais conseguem se
tornar pais após duas perdas consecutivas.
Por
Carol Campos
Assessoria de Imprensa