Pacientes
autistas cuidam da saúde bucal
em Clínica Odontológica da UCB
Em
comemoração ao Dia Internacional da Conscientização do Autismo, 2 de abril, a
clínica-escola Odontológica da UCB celebra com seus pacientes e familiares o
cuidado com a saúde bucal
Equipe atende pacientes especiais. Fotos: Faiara Assis |
Em meio ao branco da clínica-escola do curso de Odontologia
da Universidade Católica de Brasília (UCB), balões azuis se destacavam e
traziam sinal de festa. O clima de alegria era para celebrar o Dia Mundial da
Conscientização do Autismo, 2 de abril. Neste semestre, dos 32 pacientes
especiais atendidos na clínica-escola de Odontologia da UCB, 6 são autistas e
recebem os cuidados necessários para manter a saúde bucal. Salomé Rodrigues,
mãe das gêmeas autistas Leila e Luana Rodrigues, conta com sentimento de
gratidão sobre o tratamento odontológico realizado há três anos na UCB em suas
filhas. “Elas se tornaram pacientes da clínica após a Leila ter uma grave
infecção no dente. Foram três meses sentindo dor, com crise e a gente não sabia
do que se tratava. Os médicos chegaram a aumentar a medicação dela e nada
resolvia até o ponto de o dente inchar e a gente perceber o problema”, relembra
Salomé. Segundo ela, o mais difícil foi encontrar uma clínica odontológica em
Brasília especializada em pacientes autistas ou algum especialista que pudesse
atendê-la nessa situação de emergência. “As clínicas tradicionais não atendem.
Muitos dentistas nem chegaram a olhar para ela ou fazer uma tentativa de
atendimento”.
Nesse sofrimento, Salomé recebeu a indicação de uma amiga
para tentar uma vaga na clínica-escola da UCB. Na clínica, recebeu total
acolhimento e os procedimentos necessários para realizar a cirurgia de
emergência foram conduzidos. Desde esse dia as irmãs Leila e Luana, autistas
com 25 anos, são pacientes da clínica. “A paciência que os professores e os
alunos têm com nossos filhos é muito grande. Devido às limitações e reações que
elas têm, nós consideramos uma vitória cada procedimento concluído”, celebra
Salomé.
Pai leva filho Ryan Eloy a atendimento na clínica Foto:Faiara Assis |
Os atendimentos da clínica-escola acontecem semanalmente, às
quintas-feiras. Os interessados em abrir o prontuário devem ficar atentos às
inscrições abertas no início de cada semestre letivo ou por meio da triagem na
lista de espera dos pacientes. As quintas-feiras são dias de festa para Leila e
Luana. “Elas ficam um sorriso só quando falo: vamos pra Católica?”, conta a mãe
das gêmeas. “Para mim, eles (os dentistas) que são especiais. Só quem tem filho
especial e passa por um atendimento lá fora sabe a diferença. Não tenho
palavras para agradecê-los”.
Clínica de referência para
Pacientes Especiais e para os futuros profissionais
O curso de Odontologia da UCB realiza atendimento
odontológico gratuito a pacientes de baixa renda no Distrito Federal e é a
única instituição em todo o Centro-Oeste a prestar atendimento exclusivo aos
pacientes em condições especiais de saúde, como pessoas cegas, cadeirantes,
surdos, deficientes físicos em geral, deficientes mentais, com paralisia
cerebral, Síndrome de Down, Síndromes Raras, Autismo, transtornos
psiquiátricos, demências, como Alzheimer e Mal de Parkinson, doenças sistêmicas
crônicas de difícil controle e doenças que atingem a imunidade do paciente.
A atuação vem dos estudantes concluintes do curso,
supervisionados por professores. O coordenador da clínica-escola, professor
Alexandre Miranda, explica que além da proposta de oferecer um tratamento
eficiente, exclusivo aos pacientes especiais, a formação dos futuros
cirurgiões-dentistas é destinada à humanização e inclusão, com atividades
interdisciplinares em que os estudantes passam a ter contato com as mais
diversas deficiências e possibilidades de inserção desses pacientes. “A
odontologia com pacientes especiais é insuficiente em Brasília e no Brasil e
necessita de profissionais. O estudante que tem essa diferenciação se destaca.
É uma área a ser desbravada por profissionais capacitados”, analisa o
coordenador. “É importante lembrar que o paciente especial não é um coitadinho,
ou precisa de um atendimento de pena. É uma especialidade odontológica que
merece ter o respeito igual às outras especialidades e humanização. É um
profissional que trabalha com deficiência igual outro profissional. Para ser
dessa área, é preciso ser um bom clínico e conhecer não só os problemas bucais
como ter todo o contexto sistêmico, médico, farmacológico, familiar,
comportamental de participação e colaboração”, ressaltou Miranda.
As estudantes Júlia Álvares e Larissa Londe, do 7º semestre
do curso, confirmam essa preocupação do coordenador e afirmam que a experiência
com pacientes especiais é um aprendizado único. “A clínica de pacientes
especiais é diferente de todas as outras que já participamos. Ela priva a
formação humana e sempre tentamos nos colocar no lugar do paciente, deixá-lo
seguro, por amor a ele”, afirmou Júlia. A dupla atende a um paciente
tetraplégico e explica que além de todo o cuidado com ele, a abordagem e o carinho
são fundamentais para o paciente se sentir seguro. Segundo elas, a família e o
cuidador também recebem instruções necessárias para garantir a saúde bucal do
paciente. “Às vezes nós ficamos felizes não apenas com a conclusão do
tratamento, mas pela evolução ou um simples procedimento realizado. Sabendo que
com uma simples limpeza estamos ajudando na vida do paciente”, comemora
Larissa.
O coordenador do curso de Odontologia da UCB, professor Eric
Jacomino Franco, destaca a importância da clínica-escola para pacientes
especiais e afirma que todo o reconhecimento do trabalho desenvolvido é
merecido. “O empenho do professor Alexandre e da equipe da clínica de
Odontologia para pessoas com deficiência têm transformado a formação dos
futuros cirurgiões-dentistas formados na UCB, bem como têm gerado um benefício
incalculável à comunidade que necessita dos atendimentos”, concluiu.