sexta-feira, 19 de agosto de 2016

POLÍTICA

Lula diz que Dilma vai se expor a Judas no Senado: 'História muitas vezes demora séculos para julgar'

Em entrevista à BBC, ex-presidente diz que não deve pedido de desculpas por escândalos: 'Eu não. Quem tem que pedir desculpas é quem está inventando acusações'.



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à BBC (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à BBC (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
"Às vezes a história demora séculos para julgar e eu trabalho com isso", afirma Lula sobre impeachment de Dilma
A menos de uma semana do início do julgamento final da presidente Dilma Rousseff no Senado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz ter "esperança" em uma vitória, embora às vezes fale como se o afastamento da sucessora estivesse consumado.
Em entrevista à BBC Brasil, Lula disse apostar no julgamento da história. "Às vezes a história demora séculos para julgar e eu trabalho com isso. A história não termina dia 29. Ela começa dia 29."
Sem citar nomes, Lula diz que Dilma irá se "expor corajosamente" no Senado "para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela". Afirma que o presidente interino, Michel Temer, é constitucionalista e "sabe" que a antecessora é vítima de um "golpe parlamentar".
Principal líder do projeto político do PT e réu sob acusação de obstrução da Justiça na Operação Lava Jato, Lula se diz alvo de mentiras e afirma que seu partido não deve pedir desculpas pelo acusações de corrupção. "Quem tem que pedir desculpas é quem está inventando acusações."
Confira a íntegra da entrevista concedida à repórter Júlia Dias Carneiro:
BBC Brasil: O senhor é agora réu em processo por tentativa de obstrução da Justiça nas investigações de corrupção na Petrobras e decidiu apelar ao Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas. Por que o senhor decidiu recorrer a essa instância internacional?
Luiz Inácio Lula da Silva: Tem uma coisa muito esquisita aqui no Brasil. Você tem uma investigação, eu sou vítima de acusações em que você não tem uma única prova.
Eu penso que os procuradores e os delegados que acusaram estão com uma dificuldade muito grande, e a imprensa numa dificuldade maior, porque como eles mentiram muito tempo a respeito das acusações, em algum momento isso vai vir à tona, eles vão ter que provar se procede alguma das coisas que eles me acusaram.
Por falta de prova, eles começaram a preparar um discurso, que você deve conhecer bem, que é a teoria do domínio do fato. Ou seja, se o Lula é presidente, ele deveria saber. Não existe essa de você julgar em tese. Ou você prova ou não prova. Ou você pede desculpa ou não pede desculpa.
E eu não quero nada, só quero que peçam desculpas pelas mentiras que contaram a meu respeito. Nós temos uma força-tarefa nesse processo. Que envolve um juiz, procurador e Polícia Federal. Então, você não sabe quem investiga, quem acusa e quem vai julgar. Uma mistura, todo mundo faz tudo.
E eu não quero nada, só quero que peçam desculpas pelas mentiras que contaram a meu respeito
Então, nós entramos com um processo no escritório da ONU em Genebra para que a gente mostre que há, no mínimo, uma certa suspeição no comportamento, ou seja, as pessoas querem transformar uma mentira que eles inventaram num processo.
Estão procurando razões para justificar o processo. Eu estou tranquilo, tenho consciência do meu papel nessa história toda, estou tranquilo porque eles inventaram que eu tenho um apartamento e vão ter que provar que o apartamento é meu, ou me dar um apartamento.
'Só quero que peçam desculpa pelas mentiras que contaram a meu respeito', diz ex-presidente sobre acusação na Lava Jato.
Disseram que eu tenho uma chácara que eu frequentava, e a chácara não é minha, a chácara tem dono, foi pago com cheque administrativo, e acho que em algum momento eles vão ter que dizer: "Olha, presidente Lula, desculpa, pensávamos que tinha, mas não tem".
A imprensa mentiu muito e não sei se a imprensa vai ter caráter para pedir desculpas. É por isso que eu recorri a uma instância das Nações Unidas para ver se existe pelo menos um comportamento exemplar de uma Justiça a serviço da justiça.
BBC Brasil: O que o senhor acha que a ONU pode trazer de efeitos concretos aqui no Brasil?
Lula: Eu não sei se pode trazer efeito concreto. O que eu acho é que pode haver um debate. E esse debate já começou por advogados, sindicalistas e políticos de outros países. E pela imprensa. Se não fosse a imprensa estrangeira cobrir com uma certa isenção e autonomia o impeachment da presidente Dilma, a versão da imprensa brasileira é um horror.
Porque a versão da imprensa brasileira, ela não quer saber da verdade, ela sabe que a Dilma não tem culpa, sabe que a Dilma está sendo cassada politicamente e não cometeu nenhum crime, mas finge que não sabe.
Então graças a Deus, foi através da imprensa estrangeira que a gente conseguiu fazer com que líderes importantes no mundo inteiro se dessem conta de que o país está rasgando a sua Constituição, está rompendo com a nossa democracia incipiente. É isso que eu quero, que haja um debate no mundo sobre o que está acontecendo no Brasil.
BBC Brasil: O senhor tem falado muito em uma caça às bruxas, mas por outro lado o senhor tem enfrentado alegações muito sérias, que precisam ser investigadas.
Lula: Nenhum presidente na história desse país fez o que a presidenta Dilma e eu fizemos para dotar o Estado de instrumentos de combate à corrupção. Se você perguntar para qualquer procurador qual foi o governo que mais criou condições para autonomia do Ministério Público, eles vão dizer que foi o PT.
Se você perguntar para qualquer delegado qual foi o partido que mais investiu na PF, que mais investiu na inteligência da PF, eles vão dizer que foi o PT. Se você perguntar quem fez as maiores transformações na legislação, inclusive com a lei da delação premiada, foi PT que fez, numa demonstração que o PT entende que a lei é para todos, e que ninguém está livre de qualquer investigação.
O que não queremos e não poderemos aceitar é que as pessoas façam um pacto com a imprensa, contem mentiras para a imprensa, ou a imprensa conte mentiras para eles, porque tanto a imprensa serve alguns procuradores como os procuradores servem à imprensa, tanto o delegado serve à imprensa quanto a imprensa serve ao delegado. É uma alimentação mútua na perspectiva de criar fato consumado.
Eu não acho isso um comportamento inteligente da Justiça. Um comportamento inteligente é aquele que você investiga, você prova, você acusa julga, e condena. Um julgamento que não é inteligente, você faz um pacto com a imprensa, a imprensa faz a manchete de jornal, ela vai te criminalizando junto à opinião pública sem nenhuma prova. Depois de dez acusações em horário nobre na televisão ou na primeira página dos jornais, você, mesmo inocente, estará condenado dentro da opinião pública.
BBC Brasil: O senhor tem dado indicações de que poderia voltar a se candidatar, mas as pesquisas mais recentes mostram que esta bem atrás daquela popularidade lá em cima de alguns anos atrás, e isso tem a ver com todas as acusações de corrupção que vem afetando tanto o PT como o senhor. Como o senhor reage a isso?
Lula: Olha, primeiro eu reajo com muita naturalidade, ou seja, estou há praticamente seis anos fora da política, até por respeito à presidenta Dilma, que acho que ela tinha que ter liberdade para governar o país. Então é normal que a pesquisa não seja mais a pesquisa do ano que eu saí da Presidência, com 87% de "bom e ótimo".
Mas tenho clareza de que na hora que a gente começar a debater neste país, que a gente começar a mostrar o que o PT fez nesse país, da diferença do governo do PT com os governos do passado, eu tenho certeza que o povo vai se lembrar que o que o PT trouxe em 12 anos de benefício para esse povo - com educação, saúde, trabalho, politica agrícola - eles não fizeram em 200 anos.
Dilma visita Lula em junho deste ano; para presidente, sucessora 'demorou ou não percebeu que estava entrando menos dinheiro no caixa'.
Então eu estou tranquilo que eles não vão conseguir nem criminalizar o PT, e muito menos criminalizar o Lula. É preciso que a verdade venha à tona e é isso que estamos buscando, que o Judiciário tenha liberdade, que o Ministério Público tenha liberdade, e defendo a tese de que toda instituição, quando ela é forte, ela tem que ser séria.
Os que representam aquela instituição têm que ser sérios, não podem brincar, não podem mentir. E hoje o que a gente percebe são pessoas se colocando a serviço de uma revista, de um jornal. Muitas vezes a imprensa recebe o relatório antes do advogado de defesa. Isso não é inteligência, é brincar com o direito que todo cidadão tem de ser respeitado pela lei, de ser investigado corretamente, de ser julgado corretamente. É para isso que brigo, é por isso que mudei leis neste país, é por isso que a Dilma mudou leis.
Você veja, é tão grave o que esta acontecendo no Brasil que mesmo os 81 senadores, sabendo que a presidente Dilma não cometeu nenhum crime contra a Constituição, eles resolveram cassá-la politicamente por interesse.
Ou seja, na medida em que a economia não estava bem, na medida em que a pesquisa não estava ajudando a presidente Dilma, eles resolveram dar um golpe político, um golpe parlamentar. Imagina se isso prevalece no mundo inteiro. Cada vez que um governante baixa na pesquisa, a gente manda derrubar o governante.
Na verdade, não foi a Dilma que foi cassada, o que está sendo cassado é o voto de 54 milhões de brasileiros que votaram na Dilma. E amanhã os senadores vão ter que prestar conta aos eleitores, aos seus filhos e netos. Porque eles não querem ser chamados de golpistas, mas o que fizeram foi dar um golpe na Constituição e dar um golpe parlamentar contra uma presidenta democraticamente eleita pelo povo brasileiro.
BBC Brasil: O senhor tem usado a expressão golpe para falar do que está se passando com a presidente Dilma Rousseff mas o senhor também viveu o golpe militar. Pode-se usar a mesma expressão?
Lula: Dá. Da mesma forma como usamos a palavra golpe militar porque foi um golpe militar em 31 de março de 64, e naquele tempo a gente vivia tempo de Guerra Fria, havia acusação de que o comunismo ia tomar conta do Brasil, então os militares e os conservadores desse país deram um golpe para evitar a ascensão da esquerda neste país. Agora não tem essa razão. O comunismo já não amedronta mais. Não tem a Guerra Fria.
Por que o golpe na Dilma? Não foi o golpe militar. Foi um golpe parlamentar. Uma maioria eventual se juntou para tirar a presidente dilma da Presidência da Republica. Uma maioria no Senado e uma maioria na Câmara resolveram afastar a presidenta. O que é um absurdo.
As pessoas que estão fazendo isso não querem que a gente fale golpe, porque diz que é feio, que não é golpe militar. O presidente interino (Michel Temer) é constitucionalista. E ele sabe que o que eles estão fazendo é ilegal, porque a Dilma não cometeu crime e segundo porque é um golpe parlamentar.
BBC Brasil: O que isso representa para o legado do PT depois de tantos anos, porque este período está terminando com um quadro bastante ruim, com recessão, inflação, desemprego aumentando e com a presidente saindo desta forma, com o impeachment. O senhor tem alguma responsabilidade nesta situação?
Lula: Olha, se fossem tirar os governantes do mundo hoje por conta de crise econômica, por conta do desemprego, não tinha um governo no mundo. Já tinham caído todos. O governo inglês, americano, alemão, italiano, francês, chinês. Porque a crise é geral. E é uma crise causada pela irresponsabilidade do sistema financeiro que começou com o problema habitacional americano, o subprime, e terminou com queda do (banco) Lehman Brothers. A partir daí todos os países entraram em crise.
Quando fizemos o G20 em Londres, em 2009, nós decidimos que, para evitar uma crise econômica muito grande, era necessário não adotar políticas protecionistas e aumentar o comércio exterior para poder gerar mais emprego para as pessoas. Foi feito exatamente o contrário. Cada país tentou se proteger, a crise aumentou e 90% dos países ainda não resolveram seus problemas.
Olímpiada 'não era para resolver todos problemas do país', diz Lula. 'Não estamos fazendo as Olimpíadas de restauração do bem-estar social.'
Aqui no Brasil a gente poderia não estar em crise. A gente poderia não estar na situação em que a gente está, porque poderíamos ter tomado decisões mais rápidas. Mas não tomamos. Agora, não é uma coisa do Brasil. Mas se a Dilma está se afastando não é por uma questão econômica. É porque uma parte da elite política e econômica desse país não admite a ascensão social dos mais pobres.
Os mais pobres subiram um degrau na escada social. E isso já começou a incomodar, porque muito pobre começou a andar de avião, ir a restaurante, comprar coisa que era só de 30% da população. Pobre na universidade, nós colocamos em universidade mais jovens na universidade que 100 anos de conservadores, criamos em 12 anos quatro vezes mais escolas técnicas do que eles criaram em 100 anos.
BBC Brasil: Mas essa parcela mais pobre da população que teve ascensão social também está sofrendo com a recessão. E é difícil argumentar que é uma crise global porque a situação do Brasil no momento está pior do que em outros países.
Lula: Onde é que o crescimento foi retomado? Estados Unidos, muito menos do que se imaginava, na Europa, muito menos do que se esperava. A crise no Brasil chegou por último. Alguns anos depois que chegou nos EUA e na Europa. O que que eu acho que o Brasil deveria ter feito? O Brasil tem um mercado interno extraordinário. São 204 milhões de pessoas.
E defendo a ideia de que os pobres nesse país, toda vez que está em crise, os pobres são a solução. Basta que a gente permita que o pobre receba o crédito necessário para poder consumir alguma coisa, e que a gente faça investimentos necessários em infraestrutura, de que o Brasil tanto precisa. Isso não foi feito e a gente está pagando o preço por isso.
E o Brasil vai sair da recessão, todos os países vão sair. E o que vai fazer o país sair da recessão é investimento, consumo e produção. E isso está diminuindo em tudo que é lugar. O que nós temos que admitir é que só para resolver o problema do sistema financeiro já foram gastos mais de US$ 13 trilhões, e ainda não resolveu. Se esses US$ 13 trilhões fossem colocados para financiar desenvolvimento nos países pobres, a gente não teria essa crise durante o tanto que durou.
BBC Brasil: Como isso deixa o legado do seu governo? Um pouco atrás estava se falando no Brasil como superpotência econômica e agora a realidade é totalmente outra, a recessão no pior nível das últimas décadas. O que isso representa para o legado dos 13 anos do governo do PT?
Lula: Primeiro nós temos que ter em conta o que aconteceu até 2014. Até 2014, esse país tinha gerado 22 milhões de empregos formais, enquanto na Europa tinha 100 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. Até 2014, todas as categorias tiveram reajuste salarial acima da inflação. Até 2014, a massa salarial brasileira crescia muito e o desemprego era de apenas 4,7%, igual a Dinamarca, Suécia, Noruega, menos do que outros países europeus grandes.
Então o que aconteceu a partir de 2014 foi isso. É que a presidenta se deu conta de que o Orçamento tinha diminuído porque ela fez R$ 500 bilhões de desoneração, ou seja, para manter a economia crescendo.
De repente, a presidenta demorou ou não percebeu que estava entrando menos dinheiro no caixa e ela foi obrigada a fazer uma proposta de ajuste.
Essa proposta de ajuste foi para a Câmara. Ao invés do presidente da Câmara (Eduardo Cunha) colocar em votação, ele começou a apresentar pautas aumentando cada vez mais o gasto, contrário àquilo que a presidente deveria fazer.
Foi se perdendo a confiança. Os empresários não investiam, o Estado perdeu capacidade de investimento e nós chegamos a isso.
Eu sou muito otimista com relação ao Brasil. Quando fui em 2009 a Copenhague para conquistar as Olimpíadas, a gente defendia que o Brasil chegaria em 2016 sendo a quinta economia mundial. Nós tínhamos passado a Inglaterra naquele tempo, nós já éramos uma economia mais rica do que a Inglaterra.
Esse país é muito grande. Não sei se eu sou excessivamente otimista, mas eu sinceramente acho que é muito fácil fazer o Brasil voltar a crescer. É muito fácil.
Não sei se eu sou excessivamente otimista, mas eu sinceramente acho que é muito fácil fazer o Brasil voltar a crescer.
O que precisa é acreditar no Brasil e acreditar que nossa solução está aqui dentro, confiando no povo brasileiro e fazendo esse país voltar a acreditar em si próprio como fizemos nos últimos 12 anos.
Não dá para a gente ficar dependendo apenas da economia mundial. Nós temos um potencial interno muito grande, um mercado interno muito forte e um povo precisando de muita coisa.
Portanto, é preciso a gente pensar outra vez que o pobre pode ser a solução do nosso país, e não o problema.
BBC Brasil: O seu partido vem dizendo que a situação econômica irá se deteriorar se o presidente interino, Michel Temer, ficar no mandato. Então o recado para investidores é que se a situação for essa é melhor se afastar do país?
Lula: Pelo contrário. Quando eu fui eleito, em 2002, você sabe o que os economistas e os especialistas diziam? Que o país não tinha jeito. Que o país estava quebrado. Que eu não ia conseguir governar o Brasil.
E o Brasil se recuperou, pagou a sua dívida com o Fundo Monetário Internacional. O Brasil é o único país do G20 que fez superávit primário todo ano.
Quando as pessoas falarem para você que o Brasil tem uma dívida pública alta, você lembre às pessoas que a Alemanha tem mais do que o Brasil, que os Estados Unidos em 2007 tinham 64,8% de dívida pública em relação ao PIB e hoje tem 107%.
E por que aumentou a dívida pública? Para poder fazer a economia crescer.
BBC Brasil: A grande questão é que isso foi longe demais e será muito difícil trazer de volta o equilíbrio econômico.
Lula: É nada. Não é difícil não. Eu, sinceramente, não vou ficar fazendo profecias aqui porque eu vou esperar o que acontece lá. Não é difícil.
Eu acho que tem uma palavra mágica, que vale para qualquer país do mundo, que é credibilidade. É preciso recuperar a credibilidade do país no próprio país. E o importante é fazer que o povo acredite que as coisas vão acontecer. Se o sistema financeiro não tem crédito, se os empresários não confiam na política, se o Estado não tem dinheiro para investir, não tem como acontecer um milagre.
Desde afastamento de Dilma, ex-presidente tem concedido entrevistas e participado de eventos com apoiadores para defender legado petista no Planalto
Nós precisamos recuperar a capacidade do Estado de investir, a confiança para o sistema financeiro fazer crédito e do empresário para investir. E isso nós já fizemos. É possível fazer.
Quando você tem uma crise no país, a política existe para isso. O problema não é técnico. Se fosse técnico, eu iria na melhor universidade da Inglaterra, nos EUA ou na Alemanha, pegaria os dez melhores economistas do mundo e colocaria aqui. Mas não vai acontecer, sabe por que? Porque a decisão é política.
BBC Brasil: O senhor está falando de credibilidade, mas o problema é que para o PT é um momento de muito descrédito por causa de todos os escândalos de corrupção e investigação em andamento. O senhor acha que é o momento de fazer algum pedido de desculpas?
Lula: Eu não. Quem tem que pedir desculpas é quem está inventando acusações. Eu vou te dar um dado impressionante. Você sabe qual era a preferência eleitoral do PT em 2002, quando fui eleito presidente da República? 11%. Você sabe qual é a credibilidade do PT e a preferência eleitoral em 2016? 12%. É o dobro do PSDB. O dobro do PMDB.
Significa que o PT continua sendo o partido de maior credibilidade eleitoral mesmo depois de sete anos de massacre. Sabe por quê? Porque nós temos história. E temos vínculo com a sociedade com nenhum outro partido teve. Obviamente, eu defendo a tese de que toda denúncia de corrupção seja apurada ao limite máximo e que as pessoas envolvidas sejam condenadas. É isso que eu espero do Brasil.
É por isso que nós criamos leis. É por isso que nós aperfeiçoamos o sistema de investigação no Brasil. O que nós queremos é que as pessoas tenham o direito de se defender. E queremos que as pessoas não sejam condenadas pelas manchetes de jornais.
Se um jornal inglês fizer cinco manchetes dizendo que você é corrupta, mesmo você sendo absolvida pela Justiça, você está condenada diante da sociedade. É isso que está acontecendo no Brasil. O que menos importa é a investigação. O que mais importa é a especulação.
BBC Brasil: Do jeito que as coisas estão caminhando, o senhor tem medo de ser preso?
Lula: Não. Não tenho medo de ser preso. Tenho a consciência de que eles não têm acusação, da minha inocência. Vamos aguardar com a maior tranquilidade possível.
Eu não sou o primeiro ser humano a ser vítima de um processo de calúnia e não serei o último. A história da humanidade está cheia desse tipo de processo. Eu só encontro uma explicação para tentarem fazer o que estão fazendo comigo: é tentar tirar o Lula da vida política desse país. Eu que fiz tão bem.
A coisa é tão grave que todo mundo sabe o esforço que eu fiz para trazer essa Olimpíada para o Brasil. E no dia da inauguração da Olimpíada eu me senti como o menino do filme Esqueceram de Mim. Ou seja, eu não estava presente numa festa em que fui responsável dela vir para cá.
Você pergunta se eu tenho lamentações, frustrações. Eu não tenho porque eu acho que política você não deve fazer esperando agradecimento. A gente faz política porque a gente acredita, faz política por convicção e eu tenho consciência de que vai demorar muito para um governante, um partido, construir um legado como o PT construiu aqui no Brasil.
Porque ninguém nunca cuidou tanto dos pobres desse país como nós cuidamos. Não é só cuidar materialmente, de melhorar qualidade de vida. É cuidar da autoestima desse povo. É acabar com esse complexo de vira-lata. O Brasil passou a ser importante no mundo, interlocutor, protagonista.
Porque eu aprendi desde pequeno que ninguém respeita quem não se respeita. E eu aprendi a me respeitar desde muito cedo.
BBC Brasil: O senhor acha que dá para ignorar o fato de que a situação agora é totalmente diferente de cinco anos atrás, quando era um momento de otimismo no Brasil? São dois momentos muito diferentes. O legado se perdeu?
Lula: É como se uma pessoa com boa saúde, ficasse doente e perdesse a esperança que fosse ficar boa outra vez. Até hoje o mundo se lembra do New Deal feito por (pelo presidente americano Franklin) Roosevelt e já faz quanto tempo? Foi na década de 1930. E todo mundo lembra. Aquilo que é bom as pessoas vão lembrar a vida inteira.
Alguém pode querer que as pessoas esqueçam, mas esse país um dia acreditou que era possível ser diferente e o povo sabe disso.
BBC Brasil: Neste caso o problema é que começou com uma esperança de que havia um futuro promissor e a coisa não se realizou.
Lula: Tem dia que a gente levanta muito bem de saúde e daqui a pouco tem um infarto. Não significa que a vida acabou. Você vai para o hospital, você volta e a luta continua.
O Brasil tem potencial econômico, um povo que gosta de trabalhar, fronteira com 12 países, é um país que estabeleceu relações comerciais com o mundo inteiro. Na minha opinião é fácil o Brasil se recuperar.
BBC Brasil: Qual o legado planejado que as Olimpíadas trariam para o Rio durante o planejamento e como você acha que está no momento atual?
Lula: Você não briga para trazer uma Olimpíada e resolver os problemas sociais do país. Você briga para trazer uma Olimpíada para fazer uma disputa esportiva e mostrar o seu país ao mundo e deixar como legado tudo o que você gastou com as Olimpíadas.
E obviamente que o Rio de Janeiro está muito mais bonito, com muito mais metrô, com uma cara mais limpa, vai ficar muito melhor.
Resolveu todos os problemas? Não. Mas não era para isso. Nós não estamos fazendo as Olimpíadas de restauração do bem-estar social.
Eu tenho certeza que o mundo viu o Rio de Janeiro como nunca em 500 anos. Um povo extraordinário, alegre, simpático. As praças esportivas melhores do que em qualquer país do mundo, Atlanta, Berlim.
Fui à China e as nossas praças esportivas estão muito mais bonitas. Nós somos capazes.
E isso é o mais importante. Que depois das Olimpíadas o povo vai ter transporte melhor, praças melhores, obras extraordinárias, espeço público para eles.
Eu sinceramente acho que ganhamos as Olimpíadas porque a gente estava em um momento de ascensão econômica e política, e porque a crise nos Estados Unidos estava maior do que no Brasil. A crise na Espanha era pior do que no Brasil e nós fomos mais convincentes.
E acho que dificilmente algum país vai conseguir apresentar uma proposta como a do Brasil porque era 100% paixão, 100% alma e 100% razão.
Lamentavelmente os resultados, tanto na Copa do Mundo contra a Alemanha e agora nas Olimpíadas, não são aquilo que a gente esperava, mas eu te confesso uma coisa. Eu faria tudo outra vez. Iria chorar, conquistar a Olimpíada e participar.
BBC Brasil: Com a situação que está hoje, o senhor se preocupa com o país no próximo ano?
Lula: Eu me preocupo todo dia com o Brasil. Eu acho que a gente nesse instante de crise tem que pensar como sair da crise, não ficar discutindo a crise.
Eu dizia, no G20 de 2009, que o problema da crise era a falta de lideranças políticas para decidir politicamente o que tinha que ser feito. E eu acho que aqui no Brasil a gente poderia ter saído da crise mais rápido.
Quando você demora para tomar uma decisão, pode virar um século. Nós demoramos, o Congresso quis prejudicar a presidenta. A presidenta e o governo exageraram na política de desoneração.
Em dezembro de 2015, Lula se encontrou com cúpula do PMDB, incluindo o atual presidente interino, Michel Temer, para tentar articular contra o avanço do impeachment no Congresso
É uma lição. A nossa briga agora é para não permitir que os trabalhadores percam aquilo que conquistaram nos bons períodos do país. Aumento de salário, programas sociais que não permitiram que a miséria voltasse.
Lamentavelmente, nós estamos com o desemprego crescendo e isso é muito ruim. O emprego é uma coisa que dá cidadania ao ser humano. O ser humano, se tem emprego, saúde e salário, ele está muito bem.
Eu torço para o Brasil ficar bem em qualquer momento. Porque se o Brasil estiver mal, eu também estou mal. Se o Brasil for mal, o povo vai sofrer.
Primeiro, eu estou torcendo para dia 29 o Congresso não afastar a Dilma. Eu tenho esperança. Eu sou um homem de muita esperança.
Vai ser um momento importante, um momento histórico porque a presidenta vai ao Senado se expor. Ela corajosamente vai se colocar diante de seus acusadores para que o Judas Iscariotes possa acusá-la na frente dela.
E ela vai tentar mostrar para eles o erro que estão cometendo. Se a Dilma não conseguir convencer os 28 senadores (número necessário para evitar o impeachment), ela vai estar fazendo um gesto histórico neste país.
É uma mulher de coragem se expor diante de 81 senadores e ouvir de cada um, olho no olho de cada um, a acusação e poder, olho no olho, se defender.
Eu quero saber como os senadores vão voltar para casa e olhar para suas mulheres, filhos, netos. Eles vão ter que reconhecer que ilegalmente eles afastaram uma pessoa eleita nesse país.
E a história não julga na mesma semana. Às vezes a história demora séculos para julgar e eu trabalho com isso.
A história não termina dia 29. Ela começa dia 29.
Fonte: G1 

MARANHÃO

Justiça mantém perda de mandato de Lidiane Leite ao cargo de prefeita

Decisão foi baseada em ACP formulada pelo promotor Fábio Santos.
Descumprimento da decisão judicial acarretará multa no valor de R$ 5 mil.


Lidiane Leite foi reempossada ao cargo de prefeita de Bom Jardim na manhã desta terça (9) (Foto: Reprodução/TV Mirante)Lidiane Leite foi reempossada ao cargo de prefeita de Bom Jardim na manhã desta terça (9) (Foto: Reprodução/TV Mirante)
A Justiça do Maranhão decidiu suspender o decreto de nº 003/2016, da Câmara de Vereadores de Bom Jardim, a 275 km de São Luís, que reconduzia a Lidiane Leite ao cargo de prefeita do município. A decisão judicial reestabelece o decreto nº 006/2015, que declara a perda do mandato de Lidiane.
A decisão foi baseada em uma Ação Civil Pública (ACP) formulada pelo o promotor de justiça Fábio Santos de Oliveira contra o presidente da Câmara de Vereadores de Bom Jardim, Arão Sousa da Silva.
Ainda conforme a ACP, o decreto foi emitido irregularmente pelo o presidente da Câmara, desrespeitando dessa maneira os princípios da publicidade e transparência.
O Decreto Legislativo nº 006/2015, que afastou Lidiane Leite, atendeu os ditames da Constituição Federal e da Lei Orgânica do Município. O ato foi baseado no fato de que a prefeita afastada se ausentou do cargo, por mais de 15 dias, sem autorização da Câmara de Vereadores.
Em caso de descumprimento da decisão, foi fixado o pagamento de multa diária de R$ 5 mil a ser paga pelos funcionários ou autoridades responsáveis pelo cumprimento da ordem judicial.
Recondução
Lidiane Leite havia sido reconduzida ao cargo de prefeita de Bom Jardim no último dia nove de agosto após o Decreto Legislativo 006/2015, que decidiu pela perda do seu mandato ter sido revogado.
Na ocasião, Lidiane Leite se surpreendeu com a sua volta à vida política na cidade de Bom Jardim. “Foi uma surpresa para mim. Eu estava voltando até a estudar quando eu fui informada sobre a decisão”, disse Lidiane. Ela havia voltado ao cenário político recentemente quando participou de uma convenção partidária no município maranhense.
Relembre o caso
Lidiane Leite foi presa no dia 28 de outubro, na sede da Polícia Federal, em São Luís, depois de passar 39 dias foragida após ter a prisão decretada pela PF por suspeita de irregularidades encontradas em contratos firmados com ‘empresas fantasmas’. Após 11 dias encarcerada, ela foi solta pela Justiça sob a condição de uso de uma tornozeleira eletrônica. O escândalo teve repercussão internacional.
Lidiane foi eleita com 50,2% dos votos válidos (9.575), frente ao principal adversário, o médico Dr. Francisco (PMDB), que obteve 48,7% (9.289). Após a eleição, Lidiane passou a ostentar uma vida de luxo na internet.
Prefeita Lidiane Leite acompanhada do então namorado Beto Rocha (Foto: Arquivo pessoal)Prefeita Lidiane Leite acompanhada do então namorado
Beto Rocha (Foto: Arquivo pessoal)
“Eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô nem aí pra o que achem. Beijinho no ombro pros recalcados”, comentou na internet. A conduta chamou a atenção do Ministério Público, que passou a apurar fraudes em licitações do município.
Beto Rocha chegou a ser preso pela ‘Operação Éden’, da PF. Ele ocupava a função de secretário de Assuntos Políticos na gestão de Lidiane. Também foi detido Antônio Cezarino, ex-secretário de Agricultura. Ambos foram soltos no dia 26 de setembro, por determinação do Poder Judiciário.
Em julho, Humberto Dantas dos Santos, o Beto Rocha, foi novamente preso a pedido da Delegacia Especial da Mulher de São Luís. Segundo a polícia a ex-companheira dele, uma médica, denunciou Beto Rocha por agressão e tentativa de homicídio.
Lidiane Leite, ex-prefeita de Bom Jardim (MA) (Foto: Arquivo pessoal)Lidiane Leite, ex-prefeita de Bom Jardim (MA) (Foto: Arquivo pessoal)

Fonte: G1 

ECONOMIA

Arrecadação cai 5,8%, para R$ 107 bilhões, e tem pior julho em 6 anos

Na parcial do ano, arrecadação tem queda de 7,11%, para R$ 724 bilhões.
Apesar do resultado, números revelam que queda na arrecadação é menor.


A arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$ 107,41 bilhões em julho, o que representa uma queda real (descontada a inflação) de 5,8% frente ao mesmo mês de 2015. Foi o pior mês de julho desde 2010, segundo números da Secretaria da Receita Federal divulgados nesta sexta-feira (19).
O fraco desempenho da arrecadação se deve à recessão da economia brasileira, a maior da história. Com a economia fraca, cresce o desemprego e a inadimplência e recuam as vendas de produtos e serviços. Como consequência, as pessoas e empresas pagam menos impostos.
Arrecadação - Julho
Em R$ bilhões
105,25128118,58119,63117,71114,02107,4120102012,520150255075100125150
Fonte: Secretaria da Receita Federal
No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, a arrecadação totalizou R$ 724 bilhões. Comparado ao mesmo período do ano passado, houve queda real de 7,11%. O resultado também é o pior para este período desde 2010, ou seja, em seis anos.
Apesar do resultado negativo, os dados do Fisco mostram que a queda na arrecadação vem diminuindo. Na parcial do primeiro trimestre, a queda real da arrecadação, acumulada naquele período, estava em 8,19%. Nos meses seguintes, porém, essa retração foi ficando menor, chegando a 7,91% em abril, 7,36% em maio e 7,33% em junho. Já na parcial dos sete primeiros meses do ano, atingiu 7,11%.
Atividade e desonerações
A Receita Federal informou que a queda da atividade econômica influenciou para baixo o resultado da arrecadação. Em julho deste ano, na comparação com o mesmo mês de 2015, a produção industrial recuou 6%, as vendas de bens caíram 8,37% e o valor em dólar das importações recuou 29,4% - influenciado também pela alta do dólar.
Também houve aumento das demissões neste ano, por isso o recolhimento do imposto previdenciário recuou R$ 450 milhões em julho. Ainda segundo o Fisco, influenciou para baixo a arrecadação previdenciária o processo de desoneração da folha de pagamentos - parcialmente revertida no início de 2016.
Essas desonerações, feitas durante o governo da presidente afastada, Dilma Rousseff, foram responsáveis por uma perda de R$ 7,56 bilhões na arrecadação em julho de 2016, impacto menor que o registrado no mesmo mês do ano passado, quando a perda somou R$ 8,34 bilhões. Nos sete primeiros meses deste ano, as renúncias com as desonerações somaram R$ 52,84 bilhões.
Arrecadação - Janeiro a Julho
Em R$ bilhões
699,86797,69812,75817,89817,29793,51737,1320102012,5201502004006008001000
Fonte: Secretaria da Receita Federal
“Fatores desfavoráveis ainda continuam pesando no desempenho da arrecadação, como o nível do desemprego, a renda e o consumo das famílias. Apesar de ainda negativa, a produção industrial está se estabilizando, com leve recuperação das vendas do comércio também. A gente nota uma leve e tímida recuperação [da atividade]. Apesar de ter sinais de ligeira retomada [na economia], a reversão do desempenho negativo [da arrecadação] vai demorar ainda”, avaliou o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias.
Alta de tributos
Os números da Receita Federal mostram que a arrecadação caiu, no mês passado, e na parcial deste ano, apesar do aumento da Contribuição de Intervenção Sobre Domínio Econômico (CIDE) dos combustíveis, que vigora desde meados do ano passado.
Em 2015, o governo também subiu tributos sobre empréstimos, carros, cosméticos, cerveja, vinhos, destilados, refrigerantes, bancos, receitas financeiras das empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos, gasolina, importações e exportações de manufaturados, entre outros.
Neste ano, o governo continuou elevando impostos, entre eles os que incidem sobre viagens, computadores, chocolates, sorvetes e cigarros.
Mais recentemente, o governo anunciou o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras para compra de dólares, de 0,38% para 1,1%. A medida, porém, terá impacto na arrecadação somente nos próximos meses.
Meta fiscal
O fraco desempenho da arrecadação nos sete primeiros meses deste ano dificulta o cumprimento da meta fiscal - fixada em um déficit primário (despesas maiores do que receitas, sem contar os juros da dívida pública) de R$ 170,5 bilhões para as contas do governo em 2016.
No ano passado, o rombo fiscal já somou cerca de R$ 115 bilhões e, para 2017, a estimativa é de um déficit de R$ 139 bilhões. Recentemente, o governo revisou para cima a estimativa de gastos e reduziu a previsão de arrecadação. Informou ainda que, por isso, acabou a folga que existia na peça orçamentária de 2016.
Até o fim do ano, o governo pode ter de implementar cortes de gastos para não comprometer o atingimento da meta fiscal. Altas de tributos também não estão descartadas. A consequência de as contas públicas registrarem déficits fiscais seguidos é a piora da dívida pública e mais pressões inflacionárias.
Devido ao fraco desempenho da economia, dificuldades para aprovar medidas necessárias no Congresso Nacional e piora do endividamento, o Brasil já teve retirado o chamado "grau de investimento" - uma recomendação para investir no país - pelas três maiores agências de classificação de risco (Standard & Poors, Fitch e Moody´s).
Fonte: G1 

DISTRITO FEDERAL

Metroviários rejeitam proposta do GDF e decidem manter greve

Oferta do Metrô 'não atende aos pleitos', declarou sindicato da categoria.
Com a falta de consenso, trens continuam circulando só em horário de pico.

Painel informativo instalado na estação Arniqueiras, em Águas Claras (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)Painel informativo instalado na estação Arniqueiras, em Águas Claras (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)
Os metroviários rejeitaram na noite desta quinta-feira (17) uma proposta apresentada pelo governo do Distrito Federal para encerrar a greve da categoria, iniciada em 14 de junho. No Tribunal Superior do Trabalho (TST), a direção do Metrô tinha concordado em suspender a entrega do controle da bilheteria ao DFTrans, discutir à parte o desconto dos dias parados e melhoria nas condições de trabalho.
"Infelizmente, desde janeiro, nós estamos negociando, tentando resolver o impasse. E é isso o que a gente recebe. A gente recebeu essa proposta e infelizmente não atende aos pleitos", disse Ronaldo Amorim, diretor do Sindicato dos Metroviários. "O governo infelizmente não flexibiliza a negociação com os metroviários."
Com a falta de consenso, ficará ao cargo da Justiça Trabalhista definir os próximos passos da mobilização. A direção do Metrô informou que vai aguardar o TST se manifestar. Enquanto isso, o Metrô continua funcionando apenas em horário de pico – das 6h às 9h e das 17h às 20h30.
Prejuízo
O Metrô estima um prejuízo de R$ 13 milhões na arrecadação com vendas de passagens por causa da greve dos servidores. A empresa também informou que economizou R$ 648,6 mil em gastos com energia elétrica apenas no primeiro mês da paralisação. O Metrô não divulgou um levantamento considerando todo o período da greve.
Outra fonte de arrecadação importante para a companhia é a receita gerada com publicidade veiculada no sistema, estimada em R$ 300 mil mensais. Ao longo da greve, foram R$ 610 mil vindos de anunciantes que deixaram de entrar no caixa da companhia. O Metrô informou que há 18 meses busca fortalecer a marca para atrair novos parceiros e investidores.
Em condições normais, os vagões do metrô operam por 117 horas semanais, enquanto, durante a greve, este período é reduzido para 39 horas semanais. Isso representa queda de 66,7% no tempo de operação.
A companhia alega ter realizado mais de 15 reuniões e audiências com os grevistas, mas sem sucesso nas negociações. O Metrô sustenta que não tem condições de conceder o reajuste pleiteado pela categoria.
Corte de ponto
Nesta terça-feira (16), o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, disse que não pretende pagar os servidores do Metrô pelos dias parados durante a greve, iniciada em 14 de junho. O depósito integral dos salários é uma das condições impostas pelo Sindicato dos Metroviários para aceitar um acordo e poder voltar ao trabalho, após mais de dois meses de paralisação.
“Não existe acordo sem abono de faltas. A greve foi ocasionada pela incompetência da administração. Querem cobrar dos trabalhadores algo que foi culpa deles, até porque a categoria evitou o movimento enquanto pôde”, disse Sousa. “O que vemos é que o governo não tem se movido para resolver a situação.”
Entre as demandas dos metroviários estão a reposição das perdas com a inflação e melhorias de condições de trabalho. “Queremos um ambiente de trabalho ergonômico, que não adoeça tanto o trabalhador, com escalas de trabalho, onde a empresa não fica colocando sobre um empregado o trabalho de quatro outros”, continuou o sindicalista.
Passageiros aguardam para embarcar em trem do Metrô no Distrito Federal (Foto: Andre Borges/Agência Brasília)Passageiros aguardam para embarcar em trem do Metrô no Distrito Federal (Foto: Andre Borges/Agência Brasília)
Greve não abusiva
No fim de julho, o TST decidiu pela legalidade da greve. A sentença determinava que os dias de paralisação não podem ser descontados da folha. Se o corte de ponto já tiver sido feito, segundo o TST, o Buriti terá que emitir pagamento complementar.
A decisão provisória é assinada pelo presidente em exercício do tribunal, ministro Emmanoel Pereira. Na ocasião, o Metrô confirmou que houve corte na folha de julho, mas disse não saber qual será o procedimento para repor os pagamentos.
O diretor jurídico do sindicato, Júlio Oliveira, afirmou que os trabalhadores foram descontados em pelo menos 20 dias de trabalho. Durante a Olimpíada, os funcionários trabalharam normalmente por determinação judicial.
Entenda a greve
Segundo o sindicato da categoria, há déficit de cerca de 800 funcionários. A entidade diz que há 900 aprovados em concurso aguardando covocação. O quadro atualmente tem 1,2 mil servidores.
Os servidores cruzaram os braços em 14 de junho para pedir a convocação dos aprovados no concurso de 2014 e a reposição da inflação anual na data-base (pouco mais de 9%). O salário inicial de um agente de segurança da empresa é de R$ 2,9 mil, o mais baixo da empresa. O maior salário inicial é o de engenheiro – R$ 6 mil.
Fonte: G1 

DISTRITO FEDERAL

Joe Valle volta à Câmara, e Secretaria de Trabalho do DF tem novo chefe

Ex-chefe de gabinete de Valle, sociólogo Gutemberg Gomes assume cargo.
Suplente, Roosevelt Vilela devolverá o gabinete; mudança já foi publicada.


O secretário do Trabalho do DF, Joe Valle, durante discurso de posse (Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília)O secretário do Trabalho do DF, Joe Valle, durante discurso de posse (Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília)
O secretário de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal, Joe Valle (PDT), foi exonerado do cargo nesta sexta-feira (19). Ele deixa a pasta para retornar à Câmara Legislativa, onde tem mandato de distrital até 2018.
A mudança foi publicada no Diário Oficial do DF, que também traz a nomeação de Antônio Gutemberg Gomes de Souza como novo secretário. Gutemberg Gomes foi chefe de gabinete de Joe Valle, assessor especial de Marina Silva e gestor no Ministério do Meio Ambiente.
Com o retorno de Valle, o suplente Roosevelt Vilela (PSB) deixa a composição da Câmara. Bombeiro militar e ex-administrador de Candangolândia, Núcleo Bandeirante e Park Way, o político ocupava o cargo desde 28 de outubro.
Mais mudanças
Na próxima semana, outras mudanças devem acontecer na estrutura da Câmara Legislativa. Na quarta (17), a vice-presidente Liliane Roriz (PTB) renunciou ao cargo na Mesa Diretora, após a divulgação de diálogos gravados pela parlamentar que revelam um suposto esquema de propina em emendas.
Como faltam mais de três meses para a mudança da Mesa Diretora, uma nova eleição terá de ser convocada para preencher o cargo. A Câmara também deverá decidir se indica substituto para Roosevelt Vilela na CPI da Saúde. 
Fonte: G1