sexta-feira, 16 de maio de 2025

A Revolução Militar Alemã: Como Putin Despertou um Gigante Adormecido

 MUNDO

"A era do pós-Guerra terminou; vivemos uma nova era pré-conflito". Com estas palavras contundentes publicadas na imprensa alemã, a Alemanha sinalizou uma mudança histórica em sua política de defesa. Após décadas evitando projetar poder militar, o país está agora conduzindo sua maior expansão bélica desde a Guerra Fria.

Confira nossa análise em vídeo:

Do pacifismo à potência militar

A Alemanha, que há poucos anos hesitava até mesmo em enviar capacetes para zonas de conflito, investe agora bilhões em tanques, aviões de combate e sistemas de defesa avançados.

Entre 1945 e 1990, o desenvolvimento militar alemão foi fortemente restringido devido às suas ações durante a Segunda Guerra Mundial e à subsequente divisão do país. Mesmo atualmente, essas limitações permanecem em vigor. Pelo Acordo Final sobre a Alemanha, suas forças armadas são limitadas a 370 mil militares ativos, dos quais não mais de 345 mil podem servir no exército e na força aérea. O país também está proibido de desenvolver armas nucleares.

Além dessas restrições externas, a Alemanha, traumatizada por seu passado nazista, adotou voluntariamente uma postura antimilitarista, mantendo suas forças armadas sob rígido controle civil e evitando participar de operações militares ofensivas por décadas.

A deterioração das forças armadas alemãs

Em agosto de 2019, a revista britânica The Spectator publicou um artigo onde classificava o exército alemão como uma "piada completa", afirmando que o país era totalmente incapaz de cumprir seu papel como membro da NATO.

Segundo o ex-Inspetor Geral da Bundeswehr, Eberhard Zorn, em novembro de 2022, apenas 30% dos helicópteros supostamente disponíveis para a marinha alemã estavam realmente operacionais. Apenas um terço de seus caças de combate funcionava. Mais da metade de seus veículos de infantaria Marder estava fora de serviço. E somente três de seus seis submarinos podiam navegar.

O ponto de virada: a invasão da Ucrânia

Três dias após a invasão russa à Ucrânia, o chanceler alemão Olaf Scholz subiu ao pódio do Bundestag e anunciou o que chamou de "Zeitenwende" – um ponto de virada histórico. "Vivemos agora em um mundo diferente. O mundo depois é diferente do mundo antes", declarou Scholz.

Em um único discurso, Scholz derrubou pilares da política alemã que pareciam inabaláveis: anunciou um fundo especial de 100 bilhões de euros para modernizar as forças armadas; comprometeu-se a aumentar permanentemente os gastos militares para além da meta de 2% do PIB exigida pela NATO; e, mais surpreendentemente, autorizou o envio de armas letais para uma zona de conflito ativo – a Ucrânia.

Como explicou um parlamentar alemão: "Acordamos em um mundo diferente. E quando o mundo muda, se você não muda com ele, você se torna irrelevante."

A transformação militar alemã

Nos 16 meses seguintes à invasão da Ucrânia, a Alemanha fez vários movimentos decisivos: encerrou sua dependência do petróleo e gás russo, enviou armamentos para a Ucrânia e se tornou um dos mais importantes apoiadores financeiros do país invadido, ficando em segundo lugar apenas atrás dos Estados Unidos em termos de países que mais doaram dinheiro para a causa ucraniana.

Em termos de orçamento, a Alemanha está se preparando para se tornar o quarto maior investidor em defesa do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, Rússia e China. Somente em 2024, o país gastou cerca de 88 bilhões de dólares em defesa, um aumento de 28% em relação ao ano anterior e quase 90% a mais do que há dez anos.

O novo arsenal alemão

O país está reforçando seus estoques de tanques de batalha Leopard 2A8, considerados entre os melhores do mundo. Esses veículos de 65 toneladas têm blindagem reativa, sistemas de mira computadorizados avançados e um canhão de 120mm capaz de atingir alvos com precisão a mais de três quilômetros.


A marinha alemã está desenvolvendo os novos submarinos U212CD, praticamente indetectáveis e capazes de ficar submersos por semanas graças à sua propulsão independente de ar.

No setor aéreo, a Alemanha está adquirindo 35 caças F-35A, aviões furtivos praticamente invisíveis ao radar, que podem carregar tanto armas convencionais quanto nucleares americanas como parte do acordo de compartilhamento nuclear da NATO.

Para defesa aérea, os alemães estão comprando mais sistemas Patriot — os mesmos que têm protegido o céu ucraniano — e o sistema alemão IRIS-T, que tem demonstrado uma taxa de sucesso impressionante contra mísseis e drones russos na Ucrânia.

Além do hardware: tecnologia e presença militar

Um dos movimentos mais surpreendentes da Alemanha é o envio de uma brigada blindada de 5.000 soldados para a Lituânia. Este é um passo histórico, já que desde a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha evitava posicionar tropas permanentemente fora de seu território. Agora, soldados alemães estão a menos de 200 quilômetros da fronteira russa.

O país também está investindo pesadamente em guerra eletrônica, satélites espiões e inteligência artificial. Com novos satélites, pode monitorar movimentos de tropas russas em tempo real, enquanto seus sistemas de interferência de radar e comunicações podem neutralizar as capacidades inimigas.

O uso crescente da inteligência artificial permitirá à Alemanha desenvolver novos drones e sistemas autônomos que podem enfrentar ameaças sem colocar tantos soldados em risco.

O retorno ao combate

Em 2024, a tecnologia alemã passou por um teste real. A fragata alemã Hessen, enviada para o Mar Vermelho, tornou-se o primeiro navio de guerra alemão a entrar em combate desde a Segunda Guerra Mundial, ao abater drones Húti que ameaçavam navios mercantes.

Análise: Consequências geopolíticas

Analistas de defesa acreditam que, se continuar nesse ritmo, a Alemanha poderá ter a força terrestre mais poderosa da Europa Ocidental até o final desta década. Combinando seu poder econômico com novas capacidades militares, o país está se posicionando como o pilar da defesa europeia.

Isso muda profundamente os cálculos de Vladimir Putin. O líder russo, que antes via a Alemanha como um gigante econômico mas um anão militar, agora precisa considerar que qualquer agressão contra a NATO enfrentará uma resposta alemã robusta e determinada.

A Alemanha de hoje não é a Alemanha de 2022. Ela removeu as autolimitações militares que impôs a si mesma e está determinada a assumir responsabilidades militares proporcionais ao seu peso político e econômico.

Ironicamente, ao invadir a Ucrânia, Putin não apenas falhou em dividir o Ocidente, mas despertou o gigante adormecido da Europa. Uma Alemanha remilitarizada, trabalhando em estreita colaboração com seus aliados na NATO, representa exatamente o tipo de Europa forte e unida que Putin mais temia.

O futuro dirá se este "despertar militar alemão" será suficiente para manter a paz no continente europeu ou se marcará o início de uma nova e perigosa corrida armamentista no coração da Europa.


FONTE: REALIDADE MILITAR YOUTUBE

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