domingo, 18 de dezembro de 2022

Efeito Lula provoca fenômeno atípico nos juros do Brasil

 ECONOMIA

Juros futuros sobem na contramão do comportamento observado em outros países e segue descolado de fatores externos

Lula: ministérios vão subir de 23 para 37 Foto: O Povo +

A troca de governo vinha gerando um certo alívio no mercado na expectativa de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seria pragmático e pudesse resgatar um compromisso com a responsabilidade fiscal. Apesar de sinais dúbios, durante a campanha eleitoral, o presidente eleito reafirmou diversas vezes a importância de garantir “credibilidade, previsibilidade e estabilidade” para governar. As primeiras sinalizações do presidente eleito, no entanto, vão na direção contrária, conforme mostra reportagem de VEJA desta semana. O aumento de gastos previsto na PEC da Transição, com um estouro no teto de mais de 145 bilhões de reais por dois anos, e a indicação de nomes ligados à velha política do PT na composição do governo não inspiram confiança nos investidores. 

O sentimento de incerteza aumentou e as perspectivas inflacionárias e a curva de juros voltaram a subir. Antes da eleição, a curva de juros futuro precificava a Selic abaixo de 12%, mas agora já chega a ultrapassar 14% nos contratos para 2024, ficando em torno de 13% nos próximos anos. Segundo Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e fundador da gestora Oriz Partners, a taxa de juros costuma ser influenciada por fatores globais, o que não está acontecendo agora. Na projeção para os próximos três anos, os juros do Brasil escalaram de 11,8% antes da eleição para 13,6% depois da eleição, enquanto os juros americanos caíram de 4,4% para 3,9% no mesmo período após resultados melhores nos dados econômicos, segundo informações compiladas pela Oriz. “Esse movimento praticamente está ocorrendo só no Brasil. 


No mesmo período, a taxa de juros do México, que é um país semelhante e emergente, também está caindo”, diz. A perspectiva do mercado era que o BC começasse a baixar os juros no início de 2023, mas a deterioração fiscal no cenário doméstico com as sinalizações de aumento de gastos pelo novo governo aumentou a percepção de risco. “O Brasil estava em um bom momento com projeções de corte, mas o que governo propõe vai aumentar as incertezas e retardar a queda de juros, causando impactos no endividamento público e na sustentabilidade fiscal. O que o mercado está precificando são os anúncios de um mal começo do novo governo”, diz Kawall.


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