Se não se conseguir contê-lo a tempo, uma tarefa que se prevê difícil, teme-se uma catástrofe humanitária entre os rohingya no Bangladesh
LUÍS M. FARIA
A catástrofe humanitária que se temia nos campos de refugiados do Bangladesh pode estar prestes a acontecer. Depois de terem sido confirmados os dois primeiros casos de infeção pelo coronavírus, a ameaça de um ciclone vem acrescentar um fator que poderá contribuir para gerar uma situação incontrolável, se resultar em chuvas pesadas que provoquem inundações e contaminem as fontes de água, escreve o "Guardian".
Desde o início da pandemia que se temia o que pudesse acontecer aos refugiados rohingya nos campos em Cox's Bazar, uma zona do Bangladesh próxima de Myanmar (antiga Birmânia). Quando o exército deste país levou a cabo uma campanha de limpeza étnica em 2017, quase um milhão de roghingya fugiram para o Bangladesh, onde vivem uma existência precária em campos sobrelotados e sem condições sanitárias. Um deles, o de Kutupalong, onde o vírus foi detetado, é o maior campo de refugiados do mundo.
A partir do momento em que vírus entrasse nos campos, previa-se que não fosse fácil controlá-lo nem minorar as suas consequências, até pelos problemas de saúde que muitos refugiados já têm devido às condições em que vivem e a tudo o que já passaram.
Apesar dos esforços de várias ONGs e outras entidades para instalar pontos de lavagem das mãos e dar assistência médica, a extrema proximidade das pessoas - chega a haver uma dezena a partilhar uma pequena divisão - daria ao vírus condições para se propagar rapidamente.
As autoridades do Bangladesh impuseram o confinamento nos campos e reduziram muito as visitas, mesmo de trabalhadores humanitários, a fim de limitar as possibilidades de transmissão. Mas na zona à volta dos campos o vírus já se estava a espalhar, e era uma questão de tempo até ser detetado lá dentro.
Os dois infetados agora descobertos, um refugiado e um homem que reside próximo, foram postos em isolamento e estão a ser tratados. Procura-se identificar os contactos que tiveram, e as medidas de prevenção já em curso, incluindo testes, foram intensificadas.
Porém, mantêm-se bloqueios que dificultam esses esforços, incluindo a proibição da internet que as autoridades impuseram em setembro, alegadamente por motivos de segurança. Várias ONGs têm apelado ao levantamento da proibição, a fim de limitar a disseminação de falsos rumores e permitir que os residentes dos campos possam receber informação de saúde adequada.
"Os nossos piores medos confirmaram-se", diz o coordenador regional de uma dessas ONGs, a Oxfam, citado pelareliefweb.int. "Com 40 mil pessoas acumuladas por metro quadrado, manter o distanciamento social é impossível. As pessoas partilham água e instalações sanitárias, tornando um enorme desafio manter a estrita higiene que é necessária. Para evitar um surto grave, devem ser rapidamente tomadas mais medidas de prevenção e contenção, adaptadas às necessidades de mulheres e homens".
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