Homem que morreu após contrair Covid-19 em hospital público do DF tinha recebido alta e aguardava vaga em abrigo
COVID-19
Informação foi confirmada ao G1 pelo Ministério Público. Divino Joaquim do Vale foi internado no Hospital de Ceilândia em fevereiro e morreu nesta quarta-feira (20).
Divino Joaquim do Vale, de 55 anos, vítima da Covid-19, no DF — Foto: Arquivo pessoal
"Ele já tinha alta do hospital, mas não havia estrutura familiar para recebê-lo."
Questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde informou que Divino Joaquim do Vale teve alta no dia 16 de fevereiro. No entanto, o Ministério Público aponta que só recebeu o relatório do Núcleo de Serviço Social do Hospital Regional de Ceilândia (HRC), sobre a situação do paciente, no último dia 15 de maio.
Durante todo esse tempo, a vítima – que morreu na última quarta-feira (20) – permaneceu no hospital público. De acordo com a Secretaria de Saúde, "não é possível saber quando e nem como o paciente foi infectado, se foi devido ao contágio por contato com outro paciente ou visitante com a Covid-19".
Segundo a pasta, "o paciente apresentava condições especiais e fazia hemodiálise três vezes por semana". A secretaria disse que o nome de Divino Joaquim foi encaminhado para uma Organização da Sociedade Civil (OSC), que trabalha com acolhimento, em 19 de maio – um dia antes da morte – para avaliação, "tendo 15 dias para apresentar o relatório" (leia íntegra no fim da reportagem).
A Promotoria de Justiça de Defesa da Pessoa com Deficiência (Proped) informou que pediu à Central de Vagas da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) a transferência de Divino para um abrigo no dia 15 de maio. Segundo a Proped, o caso também foi encaminhado à Defensoria Pública.
Além disso, a promotoria afirmou que recomendou à Sedes, que "ainda neste mês de maio, fosse concedida prioridade às demandas de acolhimento de pessoas com deficiência internadas em hospitais e em condição de alta médica".
Internação de Divino
Hospital Regional de Ceilândia, no Distrito Federal, em imagem de arquivo — Foto: TV Globo/Reprodução
Divino Joaquim do Vale foi internado no HRC em fevereiro. Segundo a Secretaria de Saúde ele tinha neuropatia, cardiopatia e hipertensão.
A ex-mulher dele contou ao G1 que, mesmo internado em Ceilândia, Divino fazia hemodiálise no Hospital de Base, que fica na Asa Sul. "Uma ambulância levava ele até o Base. Mas, na última semana, eu recebi uma ligação informando que ele não estava indo fazer o procedimento", disse Eunice Maria dos Santos, de 50 anos.
"Ele pegou coronavírus dentro do Hospital de Ceilândia, não temos dúvida disso."
Divino Joaquim do Vale deixou um casal de filhos. O corpo foi enterrado na quarta-feira, no cemitério de Taguatinga.
O que diz a Secretaria de Saúde
"A Secretaria de Saúde informa que o paciente D.J.V. recebeu alta hospitalar no dia 16/02/2020. No entanto, permaneceu no Hospital Regional de Ceilândia sob internação social, visto que a família não apresentou condições de recebê-lo. O paciente apresentava condições especiais e fazia hemodiálise três vezes por semana. Desde sua alta médica, o serviço social da unidade buscou uma moradia adequada para o paciente, prevendo, justamente, os riscos da permanência em ambiente hospitalar. No dia 18 de maio, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) recebeu o pedido de vaga em Acolhimento de Adultos com Deficiência para o paciente D.J.V., enviado pela Promotoria de Justiça da Pessoa com Deficiência (Proded). Já no dia 19 de maio, o nome do paciente foi encaminhado para a Organização da Sociedade Civil parceira para avaliação socioassistencial, tendo 15 dias para apresentação de relatório para o acolhimento. A Sedes informa, ainda, que o Acolhimento Institucional, na modalidade de longa permanência, precisa sempre ser a última opção. Por isso, é necessário realizar o diagnóstico socioassistencial para identificar se a família do paciente realmente não tem condição de acolhe-lo, bem como avaliar se a pessoa necessita de cuidados médico continuados."
O que diz o Ministério Público
"O caso do sr. Divino realmente passou por aqui. O MPDFT recebeu, em 15 de maio, relatório social do Núcleo de Serviço Social do Hospital Regional de Ceilândia sobre a situação de fragilidade sociofamiliar do paciente (ele já tinha alta do hospital, mas não havia estrutura familiar para recebê-lo). A partir desse documento, a Promotoria de Justiça de Defesa da Pessoa com Deficiência (Proped) requisitou à central de vagas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedes) o acolhimento do sr. Divino em residência inclusiva para pessoas com deficiência adequada às suas necessidades. A Proped também encaminhou cópia do caso à Defensoria Pública, para atuação na defesa dos direitos individuais do paciente. Além disso, a Promotoria recomendou à central de vagas da Sedes, ainda neste mês de maio, que fosse concedida prioridade às demandas de acolhimento de pessoas com deficiência internadas em hospitais e em condição de alta médica. Em resposta do dia 19 de maio, a central de vagas informou que vem atribuindo prioridade a esses casos. Quanto ao falecimento do sr. Divino por suspeita de infecção por Covid-19, a Proped aguardará as apurações da causa da morte para deliberação sobre eventuais medidas cabíveis por parte do Ministério Público."
Mortes por Covid-19 no DF até quarta-feira (20 de maio)
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