quinta-feira, 21 de maio de 2020

Governo do Suriname diz que há 'êxodo' de brasileiros saindo de Belém por conta do coronavírus

COVID-19 
No sábado (16) foram detidas dez pessoas vindas do estado no país vizinho; um deles testou positivo para Covid-19. Surinameses reclamam de supermercados fechados e outros superlotados.

overno do Suriname confirma rota clandestina pelo rio. — Foto: G1 Pará
Embarcações que saem de Belém, no Pará, estão transportando brasileiros que chegam sem autorização no Suriname durante a pandemia da Covid-19, segundo o governo local. Autoridades do país vizinho estão chamando este fluxo migratório de "êxodo".
No último sábado (16), dez brasileiros vindos do estado foram detidos na base naval de Nieuw Amsterdam, distante 10 quilômetros da capital do país, Paramaribo. Já na terça-feira (19), um deles testou positivo para o novo coronavírus. O G1 solicitou informações ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
"O que vemos agora é que há quase um êxodo de Belém. Já pegamos alguns (brasileiros) e estamos analisando a situação. (...) Manter essas pessoas custa muito dinheiro. Não é economicamente saudável ao país e, portanto, lidaremos com isso de uma maneira diferente", afirmou Jerry Slijngaard, diretor do Centro de Coordenação e Gestão de Desastres e membro da Equipe de Gerenciamento de Covid-19.
O caso acendeu sinal de alerta para autoridades do Suriname em relação à pandemia, pois o país registrava, até então, 10 infectados pelo novo coronavírus, sendo nove recuperados e apenas uma morte. O primeiro caso foi confirmado no dia 13 de março, e o último no dia 31 do mesmo mês, cenário que foi comemorado pelo governo.
"Fizemos o melhor possível nas últimas semanas para controlar a situação da Covid-19. Vi muitas pessoas darem uma contribuição positiva para que este momento estivesse acontecendo. Como resultado, estamos em uma situação em que poderíamos dizer: o 'Suriname controlou muito bem a Covid-19'”, disse o presidente Desiré Bouterse, em pronunciamento na televisão, no dia 10 de abril.
De acordo com diretora de saúde do Suriname, Cleopatra Jessurun, o brasileiro infectado foi isolado, e as autoridades investigam a rede de contatos dele e os locais onde esteve nos últimos dias. Jessurun informou que o mapeamento deve ajudar a detectar possíveis novos casos, e que os outros nove brasileiros também já estão em quarentena, sendo monitorados por técnicos de saúde.
Entre as medidas sanitárias mais rígidas adotadas pelo presidente Bouterse estão o toque de recolher das 20h às 6h e o fechamento de todas as fronteiras desde o primeiro caso de Covid-19. Segundo o governo do Suriname, há mais de 570 pessoas sendo monitoradas atualmente por técnicos, e todos que entraram no país durante a pandemia, incluindo os imigrantes que chegaram sem autorização, são alocados em hotéis, onde também recebem alimentação e suporte de saúde.

Rota

Na última quinta (14), o governo do Suriname já confirmava a existência da rota marítima clandestina feita por brasileiros, que estariam saindo do país, especificamente de Belém, por conta do avanço da Covid-19.
O Brasil registrava mais de 290 mil infectados e 19 mil mortes na manhã desta quinta (21). Já em Belém, os números oficiais apontam para mais de 7 mil casos e 772 mortes, sendo a quinta cidade com mais óbitos do país, de acordo com o Mapa do Coronavírus, levantamento do G1 junto às secretarias estaduais de saúde.
Jerry Slijngaard, do Gerenciamento de Covid-19 no Suriname, confirma rota clandestina de brasileiros. — Foto: G1 Pará
Jerry Slijngaard, do Gerenciamento de Covid-19 no Suriname, confirma rota clandestina de brasileiros. — Foto: G1 Pará
Segundo Jerry Slijngaard, a rota funciona da seguinte forma: os brasileiros deixam o país em embarcações de pequeno e médio portes e, já no território do Suriname, são atravessados para barcos de pesca, que os deixam em Paramaribo.
Ao serem presos, os imigrantes ficam em salas de quarentena, custeadas pelo governo, destinadas originalmente a repatriados, de acordo com Slijngaard. (veja trechos do pronunciamento no vídeo abaixo).
Jerry Slijngaard, do Gerenciamento de Covid-19 no Suriname, confirma rota clandestina de brasileiros.

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Jerry Slijngaard, do Gerenciamento de Covid-19 no Suriname, confirma rota clandestina de brasileiros.
Moradores de Paramaribo relatam que houve aumento da circulação de pessoas em supermercados geralmente frequentados por brasileiros. Já outros estabelecimentos, também na capital, acabaram fechando as portas no dia da confirmação do novo caso de Covid-19.
Um comerciante, que preferiu não ser identificado, afirma que ao menos outras duas embarcações chegaram com mais imigrantes na última terça (19), também na base de Nieuw Amsterdam.
Estabelecimentos fecharam as portas no país depois da confirmação de um novo caso da Covid-19 — Foto: G1 Pará
Cidadãos surinameses, por outro lado, usaram as redes sociais para manifestar a indignação com a chegada dos brasileiros e, ainda, com o tratamento dado pelo governo local. "Agora estão hospedados no Torarica (hotel, em Paramaribo), com o nosso dinheiro arrecadado com os impostos que pagamos. Onde estão nossas autoridades?", disparou. "Por favor, os envie de volta. Entendo que eles estão procurando um lugar seguro, mas não podem entrar no nosso país sem autorização”, afirmou outro.
"Aqui, alguns mercados já voltaram a fechar as portas, pois tem muita gente, até em horário de pico, enchendo carrinhos, o que não é de costume. Se houver mais casos, vai voltar à loucura novamente", disse outro.
Números da Covid-19 no Suriname desde o 1º caso
País teve dez infectados e um óbito até 3 de abril. Novo caso surgiu em 19 de maio.
Novos casosInfectadosMortes14/0320/0322/0324/0325/0331/0301/0403/0419/0502,557,51012,5
Fonte: Johns Hopkins University & Medicine

Controle

Procurada pela reportagem sobre as medidas de controle migratório, a Polícia Federal afirmou, por meio de assessoria, que não tem atribuição sobre a saída dos brasileiros, somente sobre os imigrantes que chegam ao Brasil.
Já a Marinha, também por meio de sua assessoria, não comentou o caso e disse apenas que atua com as inspeções e patrulhas navais e que, em caso de irregularidade, aciona os órgãos competentes.
O governo do Pará, por meio da Secretaria de Segurança Pública (SEGUP), disse que "desconhece a relação entre as prisões citadas e a fuga de cidadãos paraenses para o Suriname"; que a "migração de brasileiros sem autorização para outros países é de responsabilidade de órgãos federais" e lembrou que o governo estadual suspendeu voos diretos entre Belém e Paramaribo, como medida de prevenção ao novo coronavírus.
A Prefeitura de Belém diz que não tem informações sobre o assunto.

Assistência

Em nota, a Embaixada do Brasil em Paramaribo diz que está em "permanente contato com as autoridades do Suriname" e que "sempre busca confirmação de situações concretas envolvendo brasileiros a partir de informações transmitidas pelo governo surinamês, pelo Conselho de Cidadãos, pela imprensa, por membros da comunidade brasileira e até mesmo por brasileiros envolvidos em alguma situação sensível, como falecimentos no exterior a detenções por autoridades".
Sobre os brasileiros que chegaram sem autorização, o embaixador Laudemar Aguiar afirmou que tomou conhecimento nos últimos dias. "Tomamos conhecimento da detenção de 10 brasileiros que tentaram ingressar ilegalmente de barco no Suriname e que um deles teria sido testado positivo para Covid-19, e que todos foram colocados em quarentena", disse.
Já o Consulado do Suriname em Belém afirmou ao G1 que tem conhecimento da migração irregular de brasileiros para Paramaribo, porém não tem autorização para comentar o assunto.

Repatriados na pandemia

Com o avanço da pandemia no Pará, os voos internacionais ficaram proibidos de pousar em Belém. A Justiça, então, chegou a determinar o cancelamento de um voo com repatriados do Suriname. No entanto, um voo especial fez a repatriação dos 51 brasileiros e um uruguaio. Entre eles, estavam:
  • 21 paraenses, que desembarcaram no Aeroporto Internacional de Belém no dia 31 de março;
  • um uruguaio, que teve entrada no Brasil autorizada pelo Itamaraty por questões de interesse público;
  • 13 maranhenses que conseguiram veículos terrestres disponibilizados pelo governo do Pará;
  • e os demais, brasileiros com passagem para voo logo em seguida, além de quatro que tiveram passagem paga pelo governo estadual para as cidades de Chapecó (SC), Petrolina (PE) e Natal (RN).
À época, os paraenses foram submetidos à inspeção de saúde por técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Secretaria de Saúde do Pará (Sespa); não tiveram sintomas, segundo a Polícia Federal (PF); e todos assinaram documento se responsabilizando a obedecer a quarentena de 14 dias, conforme a determinação de isolamento social para quem chegasse ao estado.
Também foi realizado o procedimento imigratório de 80 cidadãos surinameses que embarcaram no mesmo avião com destino ao seu país de origem.

FONTE: G1 PA

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