PARÁ
Com território maior do que alguns países da Europa, Xingu registrou aumento de 4 para 23 óbitos em menos de duas semanas; número de infectados sobe de 92 para 486 pessoas
Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira: 14 leitos de UTI para atender a nove cidades Foto: Divulgação
Com território maior do que alguns países da Europa, Xingu registrou aumento de 4 para 23 óbitos em menos de duas semanas; número de infectados sobe de 92 para 486 pessoas
Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira: 14 leitos de UTI para atender a nove cidades Foto: Divulgação
Em 12 dias, o número de mortes por Covid-19 quintuplicou na região do Xingu, no Estado do Pará. Entre os dias 7 e 18 de maio, os óbitos confirmados subiram de quatro para 23.
Uma escalada na mesma proporção ocorreu na propagação do coronavírus. O número de infectados subiu de 92 para 486 pessoas.
O Xingu abrange os municípios de Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Porto de Moz, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu em um total de 250 mil quilômetros quadrados - uma área mais extensa do que a soma dos territórios de Portugal e Grécia.
Dentro do perímetro mencionado, povoado por aproximadamente 400 mil pessoas, os pacientes infectados em estado grave têm apenas uma opção de internação em UTI: o Hospital Regional Público da Transamazônica, na cidade de Altamira, com 14 leitos de Unidade de Terapia Intensiva.
“Altamira é referência e recebe pacientes dos municípios vizinhos. Mas apenas o Hospital Regional atende alta complexidade em toda a região. Não tem esse tipo de atendimento em hospital privado aqui. Mesmo quem tem dinheiro não tem opção. O Hospital Regional já estava no limite, mas a situação ficou ainda mais difícil com a Covid-19 ”, disse Renan Granato, diretor da Faculdade de Medicina do campus de Altamira da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Na unidade de Altamira, havia apenas nove leitos para tratamentos intensivos antes da pandemia. Nas últimas semanas, os profissionais de saúde do Hospital Regional converteram os cinco leitos da UTI pediátrica para o atendimento a pacientes adultos.
“Imagina um paciente grave, com necessidade respiratória, que precisa vir de Porto de Moz. Para chegar a Altamira ele tem que pegar uma ambulancha, viajar de 3 a 4 horas, chegar a Vitória do Xingu, pegar uma ambulância e enfrentar 60 quilômetros de estrada. Nem a ambulancha nem as ambulâncias têm UTI móvel. Nós já tivemos casos de pacientes que não chegaram vivos”, disse Granato.
CARTA ABERTA DOS MÉDICOS
O diretor da faculdade é signatário de uma carta aberta publicada por 68 médicos de Altamira no dia 11 de maio. Naquela altura, os profissionais de saúde já classificavam o cenário como “desesperador”: leitos de UTI sem todos os equipamentos essenciais para o funcionamento adequado e falta de medicamentos básicos para o tratamento intensivo.
Na mensagem, os médicos se queixaram dos nove respiradores que receberam do Governo do Pará considerados “inadequados para atender pacientes graves”.
Questionada por ÉPOCA, a Secretaria de Saúde do Estado do Pará não se manifestou até a publicação desta reportagem.
ESPERA POR NOVOS LEITOS DE UTI
Os médicos também criticaram a empresa Norte Energia, operadora da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que anunciou a doação de dez leitos de UTI mas com previsão de entrega apenas para o mês de julho.
A Norte Energia afirmou, em nota, que já adquiriu todos os equipamentos e materiais que se propôs a disponibilizar, inclusive os leitos de UTI. E justificou que há “um grave problema da parte de fornecedores de modo geral, decorrente da intensa demanda frente ao momento atual”. E acrescentou que tem feito “esforços junto a seus fornecedores no sentido de antecipar as datas de entrega dos equipamentos e materiais”.
LOCKDOWN EM ALTAMIRA
Para conter o avanço da pandemia na região, o Ministério Público Estadual e as Defensorias do Estado e da União entraram na Justiça para pedir o lockdown em Altamira. Os casos registrados no município representam 37% do total na região do Xingu e a cidade recebe os doentes das outras localidades que estão à procura de atendimento médico.
As instituições solicitaram a proibição da entrada de carros particulares e de pessoas que não possam comprovar residência no município ou que não desempenham trabalho essencial em órgãos públicos. A exceção seria o transporte de pacientes para atendimento de saúde, atividades de segurança ou trabalho em serviços considerados essenciais.
FONTE: ÉPOCA/Alfredo Mergulhão
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