terça-feira, 7 de maio de 2019

Moradores de Brumadinho correm riscos de desenvolver doenças cardiovasculares

BRASIL
Liberados com a lama, metais pesados podem ter contaminado sobreviventes, profissionais de resgate e até jornalistas que acompanharam a tragédia de perto


Brumadinho (MG) foi invadida por lama contaminada com metais pesados depois do rompimento de barragem da Vale (Foto: Flickr/Felipe Werneck/Ibama/Creative Commons)
O rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, ocorreu em 25 de janeiro deste ano, mas as consequências da tragédia se alastram com o tempo. Uma nova pesquisa do Centro de Estudos do Sistema Nervoso Autônomo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Marília aponta que os moradores e os visitantes da região – principalmente na época do desastre – apresentam maiores riscos de desenvolver doenças cardiovasculares como acidentes vasculares cerebrais (AVC), infarto e insuficiência cardíaca. 
O problema é a exposição aos metais pesados liberados com a lama da barragem. "Pesquisas mostram que a área está contaminada com níquel, rádio, alumínio e manganês", diz à GALILEU Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp e um dos autores do estudo. "O valor de chumbo e mercúrio já é 21 vezes mais alto do que o aceitável para a saúde humana. É uma situação bem grave." 
Cerca de um mês depois da tragédia, uma expedição no Rio Paraopeba – um dos principais da região – encontrou níveis altíssimos de metais nas águas. A resolução Conama 357 de março de 2015, que classifica a qualidade das áreas fluviais no país, indica que a concentração de cobre pode ser, no máximo, de 0,009 mg/L. Na análise, o Paraopeba chegou a ter mais de 4 mg/L. 
Segundo Valenti, a contaminação, a curto prazo, compromete o sistema nervoso central e o aparelho digestivo, podendo causar tontura, vômitos e diarreia. Mas a longo prazo, as pessoas expostas podem apresentar problemas cardíacos. 
As enfermidades podem ocorrer em moradores e nos visitantes de Brumadinho e arredores do Rio Paraopeba após a tragédia. Isso inclui sobreviventes, bombeiros, trabalhadores de resgate e até profissionais de imprensa. 
Contaminação
A exposição aos metais pesados pode ocorrer de duas maneiras: por via oral ou respiratória. Na primeira, o perigo está no consumo de alimentos ou água contaminada. "Isso chega no intestino, que absorve tudo o que a pessoa comeu", explica o professor. "Os metais vão para os vasos sanguíneos, chegando no coração."  
Já pela via respiratória, os metais entram no sangue por meio do contato dos alvéolos (estruturas pulmonares onde ocorre troca gasosa). "Há prejuízo no funcionamento dos reflexos cardiovasculares", detalha. "E quando isso acontece, pode causar hipertensão." 
Trabalhadores que foram até Brumadinho (MG) também podem sofrer com doenças do coração por causa dos metais pesados (Foto: Diego Baravelli/Wikimedia Commons)
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Uma vez dentro dos vasos sanguíneos, os metais aumentam o estresse oxidativo (excesso de radicais livres) e ocasiona a degradação dos lípidos, compostos químicos do organismo. Diante disso, todos os órgãos do corpo podem ser comprometidos. 
Desastre sem fim 
De acordo com Valenti, a contaminação via respiratória aconteceu de forma mais intensa na primeira semana após o rompimento da barragem. O problema ainda pode afetar quem reside ou passa por Brumadinho. "Tudo vai depender de como foi feita a limpeza da região", pondera. 
Para detectar uma possível contaminação, o professor indica que as pessoas façam exame de sangue. Contudo, nem todos os metais podem ser detectados como acima do limite: "É importante marcar uma consulta com um cardiologista, endocrinologista ou pneumologista".
O pesquisador ressalta que não existem tratamentos que removam completamente os metais do organismo. No entanto, o acompanhamento médico pode garantir terapias farmacológicas para melhorar a circulação sanguínea e a quantidade de metais presentes no corpo. Além disso, o profissional de saúde tem papel essencial no aconselhamento dos melhores hábitos de alimentação e atividades do paciente para que as enfermidades não piorem. 
"A melhor maneira de prevenção é não ter contato com o que é originado da região", afirma. "Mas o grande estrago já foi feito. Agora é importante que o poder público tenha consciência de fazer a limpeza correta do meio ambiente, além de cuidar da saúde preventiva das pessoas." 
GALILEU

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