O objetivo da pesquisa é medir o impacto do atual sistema de criação industrial intensivo no bem-estar dos animais e na alimentação da população em quatro países, incluindo o Brasil

Amostras de carne suína comercializada em grandes redes de supermercado apresentaram bactérias multirresistentes que podem diminuir a eficácia de antibióticos importantes aos seres humanos. O resultado é fruto de pesquisa global encomendada pela organização não-governamental Proteção Animal Mundial (World Animal Protection), com o objetivo de medir o impacto do atual sistema de criação industrial intensivo no bem-estar dos animais e na alimentação da população em quatro países – Austrália, Brasil, Espanha e Tailândia. No Brasil, as análises foram feitas pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), em amostras das redes Carrefour, Extra, Pão de Açúcar e Walmart.
O resultado do estudo demonstra a presença de alto índice de bactérias nas amostras de todos os supermercados pesquisados. No Brasil, o caso mais preocupante foi de amostra coletada no Walmart que apresentou bactérias resistentes à colistina, um antibiótico considerado de alta importância à saúde humana, cujo o uso em animais como melhorador de desempenho está proibido no Brasil desde 2016. “A pesquisa pode evidenciar que medicamentos são usados de forma indiscriminada na criação de suínos. Muito além de tratar doenças, os antibióticos são comumente utilizados para evitar enfermidades oriundas de problemas de manejo e alto níveis de estresse sofridos por animais em confinamento extremo”, explica o gerente de agricultura sustentável da Proteção Animal Mundial, José Rodolfo Ciocca. Segundo ele, é bom ressaltar que a contaminação das amostras pode ter ocorrido nas etapas de manuseio da carne.
O uso excessivo de antibióticos em porcos leva à disseminação das bactérias multirresistentes e pode afetar milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento. Reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as bactérias multirresistentes são consideradas uma das maiores ameaças à saúde e ao desenvolvimento global. Anualmente, cerca de 700 mil pessoas morrem em virtude de infecções resistentes a esses remédios, estima-se que até 2050 esse índice chegará a 10 milhões de mortes por ano.
Consumo consciente - Segundo pesquisa realizada pela Proteção Animal Mundial, 80% dos consumidores brasileiros estão preocupados com o impacto do uso rotineiro e indiscriminado de antibióticos em animais utilizados na alimentação humana. No entanto, 66% da população desconhece a forma como os animais são criados, incluindo as práticas cruéis que causam sofrimento ao longo da vida do animal. No caso das fazendas com baixos níveis de bem-estar para suínos, tais práticas incluem:
- Os leitões são desmamados muito cedo e as matrizes suínas são mantidas em gaiolas, do tamanho de uma geladeira, incapazes de se movimentar, o que causa estresses desnecessários.
- Os leitões são mutilados, na maior parte dos casos sem anestesia: seus rabos são cortados, seus dentes são desgastados ou cortados, suas orelhas mutiladas para identificação e grande parte dos leitões machos são castrados cirurgicamente sem qualquer alívio da dor.- Os porcos vivem em condições estressantes que baixam sua imunidade e facilitam a propagação da infecção, levando ao uso excessivo rotineiro de antibióticos.
“Para mudar essa situação precisamos da união de todos. As grandes redes de supermercados são os principais compradores de carne suína, é essencial que eles exijam dos produtores a adoção de sistemas com melhores indíces de bem-estar, incluindo o uso responsável de antibióticos. Já os consumidores têm o poder de mudar a realidade de milhões de animais, indagando sempre sobre a origem dos produtos que consomem e exigindo padrões de bem-estar animal aos supermercados e restaurantes”, finaliza Ciocca, lembrando que a Proteção Animal Mundial desenvolveu um Guia de Consumo Consciente com um passo-a-passo para adoção de pequenas ações diárias que podem gerar grandes mudanças na indústria agropecuária.
Fonte: Sorella PR
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