segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Da tempestade para a bonança: repórter mostra o dia da torcida na Bombonera em Boca x River

Por Victor Canedo — Buenos Aires
 
Da tempestade para a bonança: repórter mostra o dia da torcida na Bombonera em Boca x RiverDa tempestade para a bonança: repórter mostra o dia da torcida na Bombonera em Boca x River
Victor Canedo
Antes do jogo eu brincava com meus companheiros que seria um 0 a 0 típico. Pegado, corrido, tenso como sempre – e como nunca. Não esperávamos os gols (e eles vieram!), mas na verdade o resultado era secundário. Estamos falando da última final da Libertadores com sua identidade preservada. Os estádios e suas torcidas. A Bombonera, o Boca Juniors e o River Plate. Uma combinação para a história.
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Melhores momentos: Boca Juniors 2 x 2 River Plate pela final da Libertadores 2018
Foi a minha primeira cobertura numa decisão de Libertadores. Havia claramente um clima de tensão no ar, inflamado pelo jogo adiado da véspera. Falou-se por mais 24 horas da Superfinal - as TVs locais praticamente fizeram vigília na Bombonera à espera da confirmação da Conmebol. Por ironia ou não, nenhuma gota de chuva caiu neste domingo após o temporal de sábado.
Já no gramado do estádio, a uma hora de a bola rolar, conversei com alguns torcedores no setor de “La 12”, a organizada mais famosa do Boca. Crianças de oito anos me contaram que foram a vários jogos da campanha, claro, por influência dos pais fanáticos. Uma delas foi até Belo Horizonte ver seu time eliminar o Cruzeiro nas quartas de final. Estavam penduradas na grade, prontas para gritar e torcer.
Torcedores na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor CanedoTorcedores na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor Canedo
Torcedores na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor Canedo
No mesmo local, encontrei três pernambucanos que viajaram exclusivamente para a final. Passaram três dias à procura de ingressos até que resolveram pagar uma fortuna por eles. Espero, de verdade, que a experiência tenha sido à altura. Eu talvez também teria pago.
Havia mais gente debruçada. Alguns argentinos descobriram que era brasileiro e reclamaram:
- O Grêmio não podia ter feito isso.
Ouvi o mesmo de torcedores do River nas ruas, mas com a bronca direcionada ao Palmeiras. Está muito claro que se trata de uma final em que não perder será tão importante quanto... ganhar. Imagine o que significa fazer parte de uma geração com o carimbo de quem foi vice do torneio mais importante do continente justamente para o arquirrival. Isso acontecerá com um dos dois – e só descobriremos no dia 24, no Monumental.
Após gravar vídeos dos cantos da torcida, deixei o campo e parti para a arquibancada no segundo piso. Estavam, evidentemente, abarrotadas. Seguranças viraram curiosos e se acumulavam ao fim das cadeiras. Minha visão ficou limitada a parte do gramado - as reações seguiam com um leve atraso até que alguém da frente se levantasse, aplaudisse ou gritasse “uh”.
Visão encoberta na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor CanedoVisão encoberta na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor Canedo
Visão encoberta na Bombonera para Boca Juniors x River Plate — Foto: Victor Canedo
Resolvi subir mais um andar, ao céu aberto. Dali vi Ábila abrir o placar e, segundos depois, Pratto empatar. “E dá-lhe, dá-lhe Boca”, entoavam. Era jogo de torcida única – herança de uma medida de segurança adotada em 2013. A festa teria sido melhor com a presença de hinchas do River, mas paciência. No Monumental acontecerá o mesmo.
Benedetto fez o segundo. A Bombonera explodiu. Os versos “passam os anos, passam os jogadores, a 12 está presente e não para de alentar” contagiaram.
No intervalo, conversei com um jovem torcedor a respeito de sua preferência pelo futuro da Bombonera. Uma corrente pretende reformá-la, para modernizar e ampliar a capacidade – a quantidade de sócios que ficou fora da final foi tema durante a semana e até gerou protestos na porta do estádio. Outra quer simplesmente deixar como está, com 50 mil pessoas e a “caixa de bombons” intacta. Ele votou a favor das obras, ainda que o Boca fique sem casa por duas temporadas. Foi um papo necessário para distraí-lo por alguns minutos.
O nervosismo atacou no segundo tempo conforme o River ia gostando do jogo. O empate no gol contra de Izquierdoz precedeu um raro silêncio. A torcida sentiu o golpe, mas o Boca melhorou na sequência e acabou desperdiçando uma chance de ouro nos acréscimos com Benedetto – após bela jogada de Carlitos Tevez, que havia deixado o banco.
Apito final. Enquanto Tevez injetava ânimo em seus companheiros na saída de campo, surgiu o grito de que a volta olímpica seria dada no Monumental...

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