MUNDO
O retrocesso chega a níveis semelhantes aos de cerca de uma década atrás. Mesmo com o aumento populacional, houve, por outro lado, um avanço da ciência e de recursos tecnológicos que deveriam facilitar o acesso da população a alimentos.O contingente de desnutridos aumentou de 804 milhões de pessoas em 2016 para quase 821 milhões em 2017.
ONU aponta como outras causas o clima e crises econômicas, em cenário no qual número de desnutridos subiu de 804 milhões para 821 milhões
Região síria de Mosul sofre com o drama da fome
Reuters/Khalid al-Mousily/22-08-18
A fome no mundo cresceu pelo terceiro ano consecutivo, segundo levantamento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) divulgado na última terça-feira (11). As questões climáticas, as fortes crises econômicas e conflitos armados são chave para este aumento.
O relatório, denominado Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018, apontou que, em 2017, uma em cada nove pessoas no planeta foi vítima da fome.
O retrocesso chega a níveis semelhantes aos de cerca de uma década atrás. Mesmo com o aumento populacional, houve, por outro lado, um avanço da ciência e de recursos tecnológicos que deveriam facilitar o acesso da população a alimentos.O contingente de desnutridos aumentou de 804 milhões de pessoas em 2016 para quase 821 milhões em 2017.
Os conflitos armados se mantêm como um dos pilares da desnutrição em vários países da África e da Ásia, que não conseguem um mínimo de organização institucional para iniciar um processo de desenvolvimento.
A instituição de caridade Save the Children estima que 600 mil crianças localizadas em zonas de guerra podem morrer de fome extrema até o final deste ano, à medida que a redução de fundos entra em vigor e partes em conflito impedem a chegada de suprimentos a pessoas necessitadas.
Em relação a países como o Sudão do Sul e a Síria, onde há fortíssimas crises de falta de alimentos, como em Mosul, a FAO não apresentou dados sobre o número de desnutridos, provavelmente por causa da dificuldade de acesso e de realização do levantamento.
Veja alguns dos principais casos em que a guerra serviu para aumentar também o sofrimento decorrente da fome:
República Centro-Africana
A fome atingia 39.5% da população, num total de 1,6 milhão de pessoas entre 2004 e 2006. No período de 2015 a 2017, o índice chegou a 61,8% , ou 2,8 milhões de habitantes.
O país está em guerra interna desde 2012. Em 2013, o caos aumentou com o golpe comandado por uma maioria muçulmana (Séléka) que derrubou o ex-presidente François Bozizé e colocou no poder o militar Michel Djotodia.
Opositores dos Sélékas, os cristãos anti-balakas iniciaram uma contraofensiva, com grande quantidade de mortes de ambos os lados.
Iêmen
No Iêmen, atingido por uma guerra de vários anos, o número de pessoas passando fome subiu 53% em uma década. A fome atingia 6.2 milhões de pessoas entre 2004 e 2006, ou 30,1% da população. Entre 2015 e 2017, chegou 9.5 milhões, ou 34.4%.
A guerra teve início no fim de 2014 e se intensificou em março de 2015 no país. Apoiados pelo Irã, os houthis entraram em conflito com o governo do presidente Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi, que fugiu do país e renunciou após os rebeldes tomarem a capital Saná.
Mas ele retornou com o apoio da Arábia Saudita, presente na guerra que já matou mais de 10 mil pessoas.
Lesoto
A fome atingia 11.7% da população, cerca de 200 mil pessoas, entre 2004 e 2006, e chegou a 12.8%, ou 300 mil habitantes entre 2015 e 2017.
Estado independente em 1966 e situado dentro da África do Sul, o Lesoto, que é uma monarquia constitucional, convive com permanentes conflitos civis.
É comandado por um governo de coalizão que assumiu após eleições que não tiveram um resultado formalizado em 2012.
Uganda
Em Uganda, o número de pessoas em situação de fome mais que duplicou em uma década. Entre 2004 e 2006, a fome atingia 24.1% da população, um total de 6,9 milhões de pessoas. No período de 2015 a 2017, chegou a 41.4%, 17,2 milhões de ugandenses.
Mesmo com a tomada de poder de Yoweri Museveni em 1986, após uma guerra civil, o país mantém grupos em conflitos armados internos. Museveni foi eleito posteriormente, em 1996, mas é criticado por desrespeito aos direitos humanos e abusos no poder.
A chegada de refugiados do Sudão do Sul ao país, sem a infraestrutura necessária para acolher tal demanda, também é um fator que tende a aumentar o drama local da fome.
- INTERNACIONAL
Eugenio Goussinsky, do R7
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