sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ex-governador do DF Joaquim Roriz tem Alzheimer em estado avançado, diz laudo

POLÍTICA DF

Exame do IML diz que político não consegue reagir ao mundo exterior, e nem executar tarefas básicas; com isso, ele deve ser excluído de processo no TJ por improbidade. Familiares seguem como réus na mesma ação; clã não quis comentar o caso.
O ex-governador Joaquim Roriz (Foto: TV Globo/Reprodução)
O ex-governador Joaquim Roriz (Foto: TV Globo/Reprodução)

ex-governador do Distrito Federal e ex-senador Joaquim Roriz tem mal de Alzheimer em estágio avançado e quadro de demência vascular, aponta laudo do Instituto Médico Legal elaborado a pedido da 2ª Vara Criminal de Brasília. As informações foram divulgadas pelo jornal "Correio Braziliense" e confirmadas pelo G1 e pela TV Globo nesta sexta-feira (2).
Além da análise clínica de Joaquim Roriz, o laudo se baseia em exames de imagem, relatórios médicos e entrevistas com a mulher do político, Weslian, e com o advogado do político, Eduardo Matos. De acordo com o documento, Roriz não esboçou reação durante os testes de estado mental.
G1 entrou em contato com a família do ex-governador, que não quis se pronunciar sobre o tema. Em uma resposta sucinta, o clã pediu que "o momento da esposa e filhas do ex-governador Roriz seja respeitado."
Em agosto de 2017, o político passou por complicações relacionadas a outra doença crônica – o diabetes. Internado por conta dos problemas circulatórios, ele chegou a amputar dois dedos do pé esquerdo, recebeu alta e, dias depois, teve de amputar a perna direita na altura do joelho. Naquele momento, a família também evitou declarações à imprensa.

Quadro delicado

O laudo psiquiátrico descreve Joaquim Roriz como um paciente dependente, que não consegue realizar ações simples por conta própria e tem pouca compreensão do mundo exterior. De acordo com as informações prestadas por Weslian, os primeiros sintomas começaram a surgir há oito anos, e se agravaram desde 2015.
"[Weslian] afirma que notou que o periciando [Joaquim Roriz] passou a se mostrar melancólico e frequentemente o via chorando, sozinho", diz o relato da entrevista. Nesse período, o ex-governador começou a ter dificuldade em reconhecer os filhos e o advogado, e passou a enfrentar lapsos temporários no meio de uma frase.
O ex-governador do DF Joaquim Roriz, ao lado da mulher, Weslian, em 2015 (Foto: TV Globo/Reprodução)O ex-governador do DF Joaquim Roriz, ao lado da mulher, Weslian, em 2015 (Foto: TV Globo/Reprodução)O ex-governador do DF Joaquim Roriz, ao lado da mulher, Weslian, em 2015 (Foto: TV Globo/Reprodução)

O quadro piorou ao longo do tempo, e Roriz passou a "não reconhecer a grande maioria das pessoas com as quais convive, estranhava a casa e a chamava para ir embora". A descrição é confirmada pelo advogado, que cita uma "piora de 90%" e dificuldade em reconhecer o próprio nome.
Atualmente, segundo Weslian, o marido não sabe lidar com dinheiro, não realiza tarefas domésticas, "não sabe o que acontece na política" e chama pela mulher com frequência, ao longo do dia.
Com incontinência e dificuldade de se alimentar, Joaquim Roriz passou a depender de cuidadores e um enfermeiro particular para atividades cotidianas, como tomar banho. O político também padece de problemas de coluna e insuficiência renal crônica – em razão desta última, faz hemodiálise diariamente em casa há seis anos.

Sem reação

Além das entrevistas colhidas, o médico legista também realizou testes com Joaquim Roriz para aferir a capacidade de compreensão do paciente. No laudo, o especialista descreve um quadro de "nítida apatia", e baixa reação em relação aos exercícios propostos.
De acordo com o médico, Roriz não respondeu aos questionamentos feitos, e permaneceu olhando para frente, "com pouca expressão facial e em silêncio". Quando se manifestou, foi para dizer a Weslian que desejava voltar para casa.
Joaquim Roriz em foto de junho de 2010 durante convenção do PSDB, no Hotel San Marco, em Brasília (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Arquivo)Joaquim Roriz em foto de junho de 2010 durante convenção do PSDB, no Hotel San Marco, em Brasília (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Arquivo)Joaquim Roriz em foto de junho de 2010 durante convenção do PSDB, no Hotel San Marco, em Brasília (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/Arquivo)

Não se mostrava atento aos eventos que ocorriam a sua volta e era difícil chamar sua atenção para que olhasse ao entrevistador. Sua linguagem era escassa, sendo compreensíveis somente alguns sons ao longo do exame e frases simples direcionadas somente para sua esposa", diz o laudo.
Na conclusão, o médico confirma o diagnóstico de mal de Alzheimer e demência vascular – provocada por problemas de circulação na região cerebral. Os sintomas, diz o documento, permitem o enquadramento do caso no conceito de alienação mental.
"Este distúrbio torna o indivíduo incapaz de responder por seus atos na vida civil, sendo inteiramente dependente de terceiros para responsabilidades exigidas pelo convívio em sociedade."
Apesar disso, o laudo deixa claro que, na época dos fatos denunciados à Justiça, entre 2004 e 2007, Roriz tinha pleno entendimento sobre o caráter ilícito das condutas atribuídas a ele. No momento atual, porém, a capacidade de entender o processo não existe mais.

Ação por improbidade

A avaliação foi pedida pelo MP no âmbito do julgamento de Roriz e três parentes por improbidade administrativa. O grupo já foi condenado em primeira instância por facilitar dois empréstimos do Banco de Brasília (BRB), no valor total de R$ 6.742.438,84, para empresários da construção civil em troca de 12 apartamentos em Águas Claras.
Weslian Roriz faz campanha ao lado do marido Joaquim Roriz (Foto: Divulgação / Assessoria)Weslian Roriz faz campanha ao lado do marido Joaquim Roriz (Foto: Divulgação / Assessoria)
Weslian Roriz faz campanha ao lado do marido Joaquim Roriz (Foto: Divulgação / Assessoria)
A família recorreu da condenação, e o tema voltou a ser analisado pelo Tribunal de Justiça em 2016. Dentro desse processo, Joaquim Roriz teria de ser citado por um oficial de Justiça, mas não conseguiu receber o mandado em razão das complicações do mal de Alzheimer. O exame psiquiátrico foi pedido, então, para confirmar essa motivação.
Com a apresentação do laudo, a expectativa é de que Joaquim Roriz seja excluído da lista de réus e declarado "inimputável" – ou seja, incapaz de cumprir qualquer tipo de pena. Neste caso, as filhas Jaqueline, Liliane e Weslliane Roriz e o neto Rodrigo Roriz, que também são réus no mesmo processo, continuam a responder pelos crimes.

Décadas na política

Joaquim Roriz foi governador do DF por quatro mandatos – em 1990, foi o primeiro mandatário eleito do Palácio do Buriti. Conhecido por doar lotes para a população de Brasília, Roriz inaugurou a primeira linha de metrô da capital federal e foi o responsável pela construção da Ponte JK, um dos cartões postais do DF.
Em meio ao quarto mandato como governador do DF, Roriz deixou a gestão do Palácio do Buriti para se candidatar ao Senado Federal. Ele foi eleito, mas renunciou cinco meses após assumir o cargo, em julho de 2007, para evitar um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa.
As investigações da Operação Aquarela mostraram que o político foi flagrado em escutas telefônicas com o ex-diretor do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklin de Moura, que estava preso sob suspeita de comandar um esquema de desvio de dinheiro de cartões de crédito. Em 2017, uma das acusações desse processo prescreveu, e o processo foi extinto.

FONTE: G1 DF

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