Com 40 denúncias formais, Polícia Civil indicia médico por abusar de paciente, em Goiânia
Primeiro inquérito já foi enviado ao judiciário e trata caso de uma das vítimas. Segundo TJ-GO, processo corre em segredo de Justiça.
Médico é preso e indiciado por abusar de paciente em Goiânia (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
A Polícia Civil indiciou o médico Joaquim de Sousa Lima Neto, de 58 anos, por violação sexual mediante fraude por abusar de uma paciente, em Goiânia. O indiciado continua preso. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) recebeu 40 denúncias contra o profissional, das quais oito poderão se transformar em processos judiciais, como explicou a delegada responsável pelo caso, Bruna Damasceno.
“Ouvimos todas as vítimas, mas só podemos indiciar o autor pelos casos que ocorreram até seis meses antes da vítima fazer a denúncia na delegacia. De toda forma, vamos usar todos os depoimentos colhidos para provar a prática dele. A forma que ele agia era sempre a mesma, mesmas perguntas, a maneira de praticar a violência sempre parecida”, disse ao G1.
Ainda segundo a delegada, uma das vítimas que denunciou o médico voltou atrás. No caso dela, o inquérito será enviado à Justiça, com a retratação, e caberá ao juiz que recebê-lo arquiva-lo. Ainda assim, Damasceno considera muito grande a quantidade de vítimas.
“Assusta sim o número de denúncias. Não é normal e nunca vai ser, nem mesmo para quem trabalha com esse tipo de caso. É muito aviltante se aproveitar de um momento, muitas vezes de fragilidade, para cometer uma violência como essa”, completou.
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) informou que, por se tratar de abusos sexuais, o caso segue em segredo de justiça, portanto, não é possível consultar o andamento do processo.
Advogado do médico, Tito do Amaral informou ao G1 que havia feito um pedido de revogação da prisão dele, que foi indeferido. Portanto, a defesa entrou com um pedido de habeas corpus nesta segunda-feira (5). “Ele se declara inocente de todas as acusações e vamos juntar provas e testemunhos para comprovar isso”, afirmou.
Jovem de 22 anos foi uma das vítimas a denunciarem o médico por abuso em Goiânia (Foto: TV Anhanguera/Reprodução)
Investigações
Joaquim foi preso na terça-feira (23). Segundo a Polícia Civil, o profissional já foi condenado por violação sexual mediante fraude de outras pacientes, em 2015, e recebeu como pena multa de R$ 5 mil, além de três anos de prisão, convertidos em serviços comunitários. No entanto, a defesa recorreu e ele continuou trabalhando e cometendo os abusos.
Após as denúncias, o profissional foi afastado do Hospital São Loucas, onde trabalhava, em Goiânia. Conforme defesa da unidade, a direção só soube das denúncias no dia 27 de dezembro, após ser procurada pela polícia. Joaquim foi preso quase um mês depois. A comissão de ética do hospital encerrou o contrato de locação com o médico e o afastou do corpo clínico da unidade.
O médico também é investigado pelo Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego). Segundo consta no sistema de consulta do órgão, o profissional em situação "regular", mas como "não registrado" no campo de especialidade. De acordo com o presidente do conselho, Leonardo Reis, o fato pode implicar mais um agravante no processo instaurado contra o profissional no órgão.
Denúncias
Entre os depoimentos já colhidos pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) estão o de duas irmãs, de 20 e 22 anos. Uma delas contou que, durante um exame, o profissional fazia perguntas obscenas. “Ele [Joaquim] já começou com muita conversa estranha. Já ficou perguntando quais lugares que eu gostava de fazer sexo. Na hora do exame, quanto me tocava ele ficou perguntando se eu estava gostando”, afirmou.
Uma ex-funcionária do Hospital São Lucas, que fazia tratamento com Joaquim de Sousa Lima Neto, disse que também foi vítima do profissional. Em entrevista à TV Anhanguera, a mulher afirma que alertou caso à secretária dele e foi aconselhada a ficar calada porque médico “era sempre superior”. Segundo a Polícia Civil, 23 mulheres já registraram denúncia na delegacia.
A mulher contou, chorando, que em uma das consultas o médico tentou agarrá-la. “Eu falei para ela: [secretária] ‘Eu acho que aconteceu uma coisa diferente, o doutor falou umas coisas para mim, ele ficou falando umas ‘safadagens’. Aí ela: ‘não, relaxa, ele faz isso com várias pessoas, é o jeito dele. Se eu fosse você guardava isso para você, porque você é só uma funcionária, o médico aqui é sempre superior, e é melhor você não contar isso para ninguém”.
“Eu fui buscar uma receita com ele. A gente entrou no consultório e ele trancou a porta. Eu já fiquei com medo. Aí ele saiu da cadeira com a calça aberta. Eu fiquei me esquivando, tentando abrir a porta, mas eu estava sem as chaves e ele veio e começou a passar a mão no meu cabelo. Ele chegou a se esfregar em mim”, contou.
O G1 não conseguiu contato com a secretária para obter o posicionamento sobre o caso.
G1
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