Por que a inflação do governo é diferente da que sentimos no bolso?
Alimentos tiveram inflação negativa em 2017Agência Brasil
A inflação encerrou 2017 abaixo do piso da meta do governo pela primeira vez em 18 anos. Ao longo do ano passado, os preços subiram 2,95%, segundo IPCA, o índice oficial. Mas não é isso que as pessoas estão sentindo no bolso.
“Fechou baixa para o governo, porque se eu depender da minha aposentadoria para viver, morreria de fome”, diz o aposentado José Carlos Del Vigna, de 74 anos, que recebe R$ 1.900 do INSS.
“Eu pagava R$ 100 para encher o tanque, agora gasto R$ 125. O gás subiu muito. A energia subiu também. A inflação do ano passado foi de 8% a 10% no meu bolso, diz.
Para a aprendiz Larissa Marques de Souza, de 19 anos, a inflação subiu mais ainda. A escola particular da filha Luany, de dois anos, aumentou 44% e ela tirou a criança.
“A mensalidade passou de R$ 500 para R$ 720 por mês. Isso é 60% do meu orçamento. Ou eu pago a escola, ou mantenho minha filha. Os dois não dá”, diz.
A aprendiz agora sofre para colocar o filho na creche, que não tem vagas. “Fiz uma reclamação na Defensoria Pública e estou aguardando. Se estivesse bom mesmo, eu poderia comprar mais coisas. Mas eu compro cada vez menos”, diz.
Larissa teve de tirar a filha Luany da escola particularReprodução/Facebook
Por que a inflação do governo é tão diferente da que sentimos no bolso?
A inflação medida pelo governo não atinge todo mundo da mesma forma, já deu pra notar. Mas por que isso acontece?
O IPCA, que é o índice oficial da inflação no Brasil, mede os preços de uma cesta de produtos e serviços consumidos por famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos.
"Dentro dessa cesta tem luz, água, transportes, o pãozinho, viagens aéreas, remédio, escola. Nem todo mundo usa tudo. Para um aposentado, a inflação subiu mais porque ele gasta com plano de saúde e remédios, que tiveram aumentos maiores”, explica Clemens Nunes, professor da Escola de Economia da FGV-SP.
Para as famílias de baixa renda, que gastam basicamente com alimentação, transporte público e moradia, a inflação pesou menos, afirma o professor, porque houve uma safra recorde de alimentos e o preço dos aluguéis ficaram mais controlados por causa da crise.
O grupo alimentação e bebidas teve inflação negativa de 1,87%, ou seja, os preços caíram. Os gastos com habitação subiram 6,26% e o transporte público subiu 4,10%.
‘Mas para as famílias de classe média, que gastam com plano de saúde e escola particular, que consomem mais serviços, a inflação aumentou mais, pois os serviços subiram bem acima da média. O plano de saúde, por exemplo, subiu 13,53% no ano. Já o grupo educação teve alta de 7,11% no ano passado, mas as creches subiram mais: 13,23%. Larissa Souza que o diga.
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