segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

DF



No DF, 10 professores da rede privada foram demitidos por dia em 2017

Sindicato diz que houve 3.702 desligamentos e denuncia queda na qualidade de ensino. Instituições falam em readequação de pessoal

Resultado de imagem para PROFESSOR
FOTO: REPRODUÇÃO INTERNET

O ano de 2017 foi de milhares de baixas na rede privada de educação do Distrito Federal. Levando em conta o total de demissões registrado ao longo dos 12 meses, a média de desligamentos alcançou a impressionante marca de 10 docentes que perderam o emprego a cada dia.
As 3.702 dispensas representam um crescimento de 14,25% em comparação a 2016, quando 3.240 professores foram demitidos no DF. O motivo, segundo o sindicato da categoria, é a rápida aplicação da reforma trabalhista e o modelo de gestão de grandes conglomerados que chegam à capital.
Quem revela o número é o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep). Segundo a entidade, semanalmente dezenas de profissionais vão à sede do Sinproep, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), para assinar rescisões contratuais. A demanda tem sido tão alta, que é preciso organizar a agenda, separando o atendimento entre escolas e faculdades afetadas.
Uma das instituições que mais demitiu, segundo o sindicato, foi a Rede de Ensino JK, que teria desligado aproximadamente 150 profissionais no decorrer do ano letivo. O grupo tem cinco faculdades e uma escola no DF, além de um centro de ensino superior e um colégio em Valparaíso (GO), no Entorno.
Outras duas instituições do DF que desligaram grande número de funcionários recentemente foram o Centro Educacional Católica de Brasília e a Universidade Católica de Brasília. Conforme informações do sindicato dos professores, 40 educadores foram demitidos: sete nos ensinos fundamental e infantil, oito na pós-graduação e 25 na graduação.
O Alub também foi afetado. Após adquirir boa parte da Rede JK, a instituição foi comprada pelo conglomerado carioca Educar Holding, dispensando 129 profissionais.
Medo tomou conta da categoriaNos últimos dias, o Metrópoles ouviu 10 profissionais de escolas e faculdades — professores, coordenadores e orientadores. Eles relataram que a categoria está apreensiva e pediram para não terem os nomes revelados (tanto quem ainda está no mercado quanto os que procuram nova oportunidade), pois temem sofrer retaliações.
É o caso de Maria*, que atuou por quase uma década na Católica. Segundo a profissional, a empresa alegou que os desligamentos não foram causadas pela qualidade dos trabalhadores, mas pela queda no número de alunos.
“A gente acompanhou os números durante os últimos meses e via que a situação não estava boa, mas sempre esperávamos melhora. Na verdade, a maior surpresa foi o fato de terem começado as demissões pelos funcionários com mais tempo na casa”, conta a professora.
No caso da rede de ensino JK, as demissões foram precedidas de boatos até se concretizarem. “Houve um ‘telefone sem fio’. Alguns pais comentaram conosco que a escola seria vendida, e a direção disse que aproveitaria alguns profissionais. Quando veio o aviso prévio, sabíamos que iríamos para a rua”, conta Sofia*, uma docente que perdeu o emprego no mês passado.
Para Carla*, orientadora de uma grande faculdade do DF, os colegas que recebem salários mais altos estão sendo substituídos por outros, com vencimentos menores. “Ouvimos que muitos cortes foram porque eles (instituições) consideravam os salários altos e queriam contratar novos profissionais por menos”, afirma.
Demissões atingiram mais as professorasSegundo o sindicato da categoria, o perfil dos educadores na fila do desemprego é formado 70% por mulheres. O levantamento aponta que a maioria dos profissionais demitidos têm entre 30 e 59 anos, sendo 21,66% do ensino superior e 44,65% da educação fundamental.
A situação, diz a entidade, tem reflexo na qualidade do ensino. “A médio prazo, a compra de instituições e a fusão de grupos acarreta prejuízo educacional. Eles diminuem os investimentos, centralizam a administração e o material didático, e acabam perdendo a qualidade”, diz Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sinproep.

Empresas falam em crise econômica
Na visão do presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF) Álvaro Moreira, as readequações no ensino envolvem questões multifatoriais. “A primeira delas é que vivemos a pior crise econômica da história do país. O atual governo fez uma mudança na legislação, mas, ao contrário do que falam, a reforma trabalhista vem para arrefecer o problema do desemprego. É uma medida para conter as consequências nefastas da [gestão] anterior”, acredita.
Segundo Moreira, outra realidade que contribuiu para as demissões foi a redução nos contratos do Fundo de Investimento Estudantil (Fies). Com crédito reduzido, houve menos matrículas nas instituições.
Responsável pelo Alub, a Educar Holding afirma que 129 docentes foram desligados e 105 admitidos. O grupo esclarece que em 2017 fechou duas das nove unidades do Alub, em Ceilândia Sul e no Recanto das Emas, que, juntas, atendiam cerca de 1 mil alunos.
Dizem também que “a readequação do corpo de docentes não tem nenhuma relação com a recente reforma trabalhista” e que “a contratação dos novos professores foi feita dentro das mesmas condições – sempre de acordo com a legislação – aplicadas aos demais profissionais da rede”.
A direção do Centro Educacional Católica de Brasília (CECB) alega que o fechamento de turmas foi o motivo das demissões. As vagas não foram repostas. “Tal medida se fez necessária em função de ajustes na gestão da instituição”, reforçou.
Ao Metrópoles, a Universidade Católica de Brasília (UCB) esclareceu que desligamentos pontuais de funcionários e docentes ocorridos recentemente não têm qualquer relação com a reforma trabalhista, como afirma o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal. Tal medida, segundo a UCB, se fez necessária em função de ajustes na gestão da Instituição.
Disse ainda que o desligamento dos docentes mencionado não irá comprometer o aprendizado dos estudantes.
Procurada pela reportagem, a Rede JK não retornou os contatos para comentar o assunto.
Colaborou Saulo Araújo
*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

FONTE: METRÓPOLES 

Nenhum comentário:

Postar um comentário