segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Tempo




Tempo, tempo, tempo…

O governo brasileiro promoveu uma reforma trabalhista para tentar corrigir deformações históricas, sacudir a poeira da CLT, remover remendos jurídicos e assim iniciar uma nova era nas relações capital/trabalho no País. O setor produtivo ainda comemora a aprovação da Lei 13.467/2017, por entender que ao longo dos anos a CLT engessou o desenvolvimento dessas relações, com uma série de amarras para empresas e trabalhadores.
Há muitos anos tenho estudado o tempo. Desde o dia em que li a frase: o tempo é um eterno ladrão que nunca se consegue alcançar. Foi aí que comecei minhas pesquisas. Acho que o pior de tudo é que nós não o vemos pessoalmente, mas podemos ver e sentir o efeito do tempo passando. É só você olhar em volta e perceber que as pessoas vão desaparecendo e a paisagem se modificando – casas velhas são demolidas para dar lugar a prédios modernos. É como se a cidade estivesse sempre se movendo e se reformulando.
E quem faz esses movimentos e promove essas mudanças? É o tempo.
Outro dia estava andando no shopping e vi uma velha e pensei que a conhecia – voltei atrás e olhei de novo e para meu espanto era eu mesma refletida em um espelho. Foi um choque e logo descobri o responsável: foi o tempo.
Apesar de todos os enfrentamentos que o tempo nos faz passar, é preciso reconhecer que ele tem o dom de nos fazer esquecer dores devastadoras pelas quais passamos em nossas vidas. Podemos não nos esquecer completamente, mas diria que as feridas são cicatrizadas até porque devemos encarar novos desafios que o próprio tempo nos traz continuamente.
Os mais otimistas dizem que o tempo nos torna mais sábios, mais reflexivos, ponderados, pacientes e nos conduz a um processo de crescimento e felicidade.
Os mais românticos dizem que só o tempo é capaz de entender e ajudar um grande amor. E é somente o tempo que mostra que no correr dos anos o verdadeiro amor supera a idade, a doença e permanece conosco para sempre.
Os mais filosóficos dizem que há o tempo certo para ser feliz ou triste, ter paz ou guerra, de falar ou de calar, de viver ou de morrer, de amar ou desamar.
Existem ainda os que dizem que não têm tempo para nada e estão sempre correndo e exaustos. Para esses eu diria que tempo é uma questão de prioridade e para isso organize-se com uma agenda e faça uma listagem de como vai realizar suas tarefas. É preciso respeitar o limite de cada um porque tem gente que consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo, o que não é o meu caso.
Hoje, fala-se muito nos ladrões do tempo: as redes sociais são o assassino-mor – Facebook, whatsapp, youtube, instagram, twitter e outros. Eu não concordo com isso por dois motivos: 1) o mundo pós internet mudou e nós temos que acompanhar essas mudanças ou nos condenaremos a viver numa ilha deserta; e, 2) penso no início da Filosofia Socrática – “Conhece-se te a ti mesmo” e isto implica em saber o que nos faz felizes e a maioria das preferências recai atualmente em nos socializarmos virtualmente.
Isto é estatístico e contra fatos não há argumentos, portanto cada um que gaste o seu tempo como gostar, desde que possa bancar as consequências.
Mini-crônica da mulher que conversava com o Tempo:
Maria Luiza estava viúva com seus sessenta anos e sentia-se muito solitária apesar dos filhos e dos netos. Ela sempre pensava que gostaria de encontrar um homem que trouxesse estampado nos olhos a bondade, o respeito, o amor e a compaixão.
Tinha um fato em sua vida que era perturbador: desde criança, antes de algum acontecimento importante, sentia um leve vento lhe tocar as faces e ele tinha o perfume de todas as estações do ano e ela então sentia uma presença amiga. Percebeu esta aragem antes de seus filhos nascerem, antes de seus pais morrerem e horas antes de seu marido Pedro falecer.
Acabou por intuir que era o Tempo lhe trazendo os avisos e foi assim que ficaram amigos. Muitas vezes os netos a viam sorrir e pensavam que a avó estava envelhecendo, mas era o Tempo que soprava em seus ouvidos notícias boas.
Um dia ao tomar seu café sentiu uma súbita dor no braço esquerdo, no peito e muita náusea. Derrubou a xícara no chão e sentiu um vento forte passar. A empregada veio da cozinha e gritou pelo neto de Maria Luiza que era estudante de medicina. Ele viu que a avó estava infartando e lhe fez ingerir duas aspirinas e pediu para a empregada chamar o SAMU e avisar seus pais enquanto fazia a avó tossir e lhe fazia pressão com as mãos em seu peito.
(Nota da autora: vocês estão pensando que Maria Luiza vai morrer e seu falecido Pedro lhe faz sinais para segui-lo? Não, nada disso na minha história – o poder de quem escreve é exatamente o de decidir o destino de seus personagens e eu decidi que ela vai viver). Vai para o hospital, se recupera e conhece um enfermeiro de sua idade e que tinha os olhos cheios de bondade, respeito, amor e compaixão. Estão juntos e felizes.
Foi então que ela questionou o Tempo: – O que foi tudo isso? E ele lhe soprou: – Diz um ditado árabe que os homens são como tapetes, que precisam ser sacudidos para voltarem a exercer suas funções. Você levou uma sacudidela para encontrar o amor que desejava.
Maria Luiza perguntou ao Tempo: – Quanto tempo vai durar?
(Nota da autora: como essa crônica é interativa e para fazer refletir eu passo para cada leitor escrever a resposta do Tempo para Maria Luiza).
Maria Luiza: – Quanto tempo vai durar?
Tempo: – “……………………………..”.
Ceminha Siqueira Canhamero
Professora de História e colaboradora do Jornal O Regional.
*ARTIGOS ASSINADOS NÃO REFLETEM A OPINIÃO DO JORNAL O REGIONAL



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