Brasiliense de 51 anos vai competir em Mundial de Kickboxing
Marcelo Ribeiro voltou aos combates despertado pelo diagnóstico de autismo do filho
Voltar a praticar um esporte e competir em alto rendimento depois
de um tempo afastado da rotina de exercícios pode ser um desafio. Para
superar as dificuldades, muitos atletas buscam algum incentivo para
conseguir ultrapassar os limites. É o caso de Marcelo Ribeiro, laureado
campeão mundial de kickboxing em maio, após ter passado 15 anos sem
competir. A inspiração para a jornada foi o filho de 2 anos,
diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA). Aos 51 anos, o
lutador brasiliense planeja conquistar outro título importante no
domingo (10/9), em Buenos Aires, no Mundial Aberto de Artes Marciais.
O
retorno de Marcelo ao kickboxing se deu por um convite de um antigo
professor, no início do ano. “Ele me ligou e disse que precisava de um
lutador para disputar a categoria máster no Mundial”, relembra o atleta,
que topou o desafio, mas pediu um ano para se preparar. No entanto, o
plano do professor era outro. A luta estava prevista para três meses
depois. Ao saber, Marcelo pensou em desistir. “Eu estava treinando, mas a
volta é muito dolorosa. Meu corpo não estava aguentando as dores.”
O
incentivo para continuar veio da mulher de Marcelo. Maria Aparecida de
Oliveira questionou o marido. “O Arthur aguenta, não desiste de nada e
você vai parar de lutar?”, repete Maria. O pai diz que desconfiava do
transtorno do filho desde que o menino tinha 9 meses, mas o diagnóstico
só saiu no início deste ano. “Para mim, lutar é um jeito de mostrar a
ele que surgirão várias barreiras e que ele precisa combater para
vencê-las”. Um dos obstáculos é o preconceito enfrentado desde cedo —
Arthur já chegou a ser proibido de brincar com colegas no bairro.
Marcelo
encarou o desafio e foi campeão nas categorias low kick e full contact
no Mundial da União Internacional de Artes Marciais das Américas
(Uiama), em maio, também na Argentina. Agora, o desafio é outro. Marcelo
disputa o boxe, o kickboxing low kick e o full contact no torneio
organizado pela União Mundial de Kickboxing (UMK).
Quinteto candango
Como
representante do país pela Confederação Brasileira de Lutas e Artes
Marciais (CBLAM), Marcelo diz que há boas expectativas. Ele é um dos
cinco lutadores da capital que representam o país na competição.
Altaceste Baptista, 54 anos, Washington Baptista, 33 anos, Wendel
Ferreira, 38 anos, e Patrick Isaac, 37 anos, lutarão ao lado do amigo.
Marcelo
explica que, devido ao evento já ter lutas definidas, isso permite que o
competidor dispute várias modalidades. “Já lutamos direto pelo cinturão
contra o campeão mundial, como se fosse um UFC”, comemora.
O
lutador é envolvido com artes marciais desde os 13 anos. Marcelo
conheceu a luta porque arrumava confusão na rua onde morava. “Um amigo
meu me convidou para treinar em vez de brigar e estou aqui até hoje”,
conta. A primeira modalidade que conheceu foi o caratê. Depois, o
brasiliense passou por boxe, kickboxing e, por último, o vale-tudo.
Projeto voluntário
Além
de incentivá-lo a voltar às competições, a síndrome do filho inspirou
Marcelo a criar um projeto que ajuda crianças que enfrentam dificuldades
por causa do autismo. A ideia surgiu quando o pai notou a melhora do
filho num dos treinos. “Quando o levei à academia, percebi que ele
interagiu com outras pessoas. Isso nunca tinha acontecido”, lembra o
lutador, impressionado com a reação de Arthur.
Junto
dos tratamentos que faz, a luta ajudou Arthur a se desenvolver. “Essa
parte de atividade é na qual ele mais se diverte e mais se destaca”,
afirma. Dessa forma, a intenção é levar isso para outras crianças que
precisam. “A ideia é começar a ajudar pela escola do Arthur, que também
atende outros autistas. Depois, começar a expandir para creches”,
imagina.
Ainda em fase de planejamento, Marcelo
conta com o apoio da equipe que treina com ele. “Como alcançamos um
nível alto de luta, no qual ganhamos a maioria dos títulos, esse seria
um novo desafio”, completa. A iniciativa tem caráter voluntário e
pretende orientar os pais de crianças que não sabem como auxiliar no
tratamento dos filhos.
As modalidades
O kickboxing é dividido em submodalidades. Os atletas competem em diferentes categorias divididas por peso, graduação e idade
Full contact: os
atletas podem utilizar técnicas de mão do boxe tradicional e todos os
tipos de chutes que atinjam o adversário da cintura para cima. É
permitido o nocaute.
Low kick: as mesmas definições técnicas do full contact, porém é permitido atingir adversário com chutes do joelho pra cima.
Semi contact: modalidade de contato controlado, na qual a luta é interrompida pelo juiz a cada golpe. Não é permitido nocautear o oponente.
Light contact: tem
as mesmas características do full contact, mas não é permitido
nocautear o adversário. Na modalidade, o lutador visa tocar o maior
número de vezes o oponente com o máximo de velocidade e sem grande
potência.
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