"Não importa o que se perca de comércio. O que estamos a dizer aqui é: você não pode matar seu povo, não pode cassar direito", afirmou o chanceler argentino Jorge Faurie.
Segundo Nunes, o Brasil não suspenderá a exportação de alimentos para a
Venezuela, porque agravaria a crise humanitária. O protocolo de Ushuaia
não prevê a expulsão de um membro do Mercosul.
"Queremos que a Venezuela volte. Esse é o objetivo. Queremos que ela se reencontre com a democracia", afirmou o chanceler brasileiro.

Reunião do Mercosul em São Paulo (Foto: Gabriela Bazzo/G1)
Tentativa de diálogo
Ao assumir a presidência temporário do bloco, em julho deste ano, o
presidente Michel Temer afirmou que os países que integram o Mercosul reconheceram uma “ruptura” democrática na Venezuela.
Daquela reunião saiu um comunicado em que os países pediam o restabelecimento da ordem institucional e que o governo de Maduro e a oposição iniciassem um diálogo para um "arranjo político crível".
O governo brasileiro iniciou então a fase de consultas, em que a
Venezuela foi chamada a se pronunciar sobre a decisão do Mercosul.
O presidente venezuelano foi consultado sobre a possibilidade de abrir
diálogo com a oposição em uma reunião no Brasil, com a intermediação do
Mercosul, mas recusou.
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"Não tomamos essa decisão com alegria. Gostamos e respeitamos a Venezuela, que já acolheu pessoas que fugiam de ditaduras. Espero que possamos chegar à estabilidade o mais cedo possível", afirmou Rodolfo Nin Novoa, ministro do Uruguai.
Blanca Montilla mora há 10 anos no Brasil e comemorou a decisão do Mercosul (Foto: Gabriela Bazzo/G1)
Situação na Venezuela
A crise venezuelana entrou em uma nova etapa com a instalação nesta sexta-feira da Assembleia Constituinte que vai reescrever a Constituição.
O governo afirma que trará paz ao país, mas a oposição, que não lançou
candidatos, denuncia que ela foi convocada para perpetuar Maduro no
poder.
A posse dos constituintes, todos chavistas, ocorre após quatro meses de
protestos opositores, que já deixaram mais de 100 mortos. Durante os
protestos, multiplicaram-se as denúncias de violações dos direitos
humanos por parte das forças de ordem, acusadas pelos opositores de
exercer uma "forte repressão".
O confronto entre poderes é constante desde janeiro de 2016, quando a
coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) assumiu o controle do
Legislativo após 17 anos de hegemonia chavista.
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Manifestante atira um
coquetel molotov na direção de policiais ao lado de companheiros que se
protegem atrás de escudos improvisados durante protesto contra o
governo de Nicolás Maduro que acabou em confronto em Caracas, na
Venezuela. Ao fundo, faixa exibe a frase: 'Valerá a pena' (Foto: Ueslei
Marcelino/Reuters)
A Venezuela tem sua economia devastada desde 2014 por conta da queda
dos preços do petróleo. O país, que obtém 96% de suas divisas com a
exportação da commodity, encadeia três anos de forte contração (9,7% em
2016, segundo a Cepal).
A Venezuela reduziu drasticamente as importações, gerando uma severa escassez de alimentos e medicamentos.
O país também tem a inflação mais alta do mundo, que o FMI projeta em
720% para 2017. Maduro atribui o colapso a uma "guerra econômica" de
empresários de direita pra derrubá-lo, apoiada pela oposição e pelos
Estados Unidos.
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Há 15 anos no Brasil, Geraldo Garcia lamentou a violação dos direitos humanos em seu país de origem (Foto: Gabriela Bazzo/G1)
Constituinte
Governos de vários países, entre os quais o do Brasil, condenaram a
eleição para a Constituinte. Em nota, o Itamaraty pediu a suspensão da
Constituinte.
O Ministério de Relações Exteriores brasileiro afirmou que o governo
venezuelano não respeitou o desejo de seu povo e lamentou que os pedidos
da comunidade internacional para que a eleição fosse cancelada não
tenham sido atendidos.
As eleições da Constituinte foram salpicadas por denúncias da
Smartmatic - empresa que deu o suporte tecnológico ao pleito - de que o
dado de participação foi inflado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE)
em um milhão de eleitores (o organismo reportou oito milhões). A suposta
fraude é investigada pelo Ministério Público.
Venezuela no Mercosul
A Venezuela foi admitida no Mercosul em 2012, em uma manobra dos
governos de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, da Argentina. Depois da
suspensão temporária do Paraguai, causada pelo impeachment do
ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, Brasil e Argentina convenceram o
Uruguai a acelerar a admissão da Venezuela, que só dependia da aprovação
do Congresso paraguaio.
O país entrou oficialmente no bloco em dezembro do mesmo ano e, depois
de ser readmitido, o Congresso do Paraguai, em uma negociação tocada
pelo presidente Horácio Cartes, concordou em aprovar sua admissão para
regularizar a situação.
A Venezuela, no entanto, descumpriu a maior parte dos prazos de adesão
ao bloco, especialmente nas questões econômicas. O problema foi a
solução encontrada por Brasil, Paraguai e Argentina, para evitar que o
país assumisse a presidência temporária do bloco em julho deste ano,
como deveria ter acontecido, e abriu caminho para a suspensão.
Protestos
Em frente à prefeitura, um grupo de cerca de 20 venezuelanos se reuniu
para protestar contra o governo de Maduro e para saudar a decisão do
Mercosul em suspender o país do bloco. Geraldo Garcia, venezuelano que
vive no Brasil há 15 anos, veio ao protesto pedir a saída do país. "Vim
exigir a saída da Venezuela do bloco, pela sistemática violação dos
direitos humanos."
Também a venezuelana Blanca Montilla, que mora há 10 anos no Brasil,
foi ao protesto motivada pela ação mais contundente dos países da
região. "Essa sanção vem como uma posição bastante firme no
reconhecimento de que nosso país não vive uma democracia".
Os irmãos e a mãe de Blanca seguem na Venezuela, em Caracas e Valencia.
"A coisa mais terrível que existe é a situação lá hoje em dia. Há muita
dificuldade em encontrar comida", diz.
"Da última vez que eu fui para a Venezuela, há um ano, tive que levar
uma mala com coisas básicas como sabonete, desodorante, medicamentos,
muitos medicamentos que não se encontram lá. A situação realmente é bem
difícil", lembra.
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