esporte
Mais querido do TUF, Massaranduba lembra: "Eu era meio que o 'paizão'"
Lutador
relembra ajuda aos companheiros na casa, e, sem esquecer a infância
pobre, conta que oferece aulas gratuitas de artes marciais a crianças
carentes no Piauí
Por Jamille Bullé*Rio de Janeiro
Existem pessoas que se tornam queridas de maneira unânime devido à
facilidade para lidar com os que estão em volta. Na primeira edição do
TUF Brasil, não havia dúvida de quem era esse homem dentro da casa:
Francisco Massaranduba. A maioria dos atletas que participaram do
programa apontou o piauiense como o lutador com quem mais houve
identificação. Não era para menos. Massaranduba decidiu cuidar dos
companheiros como se eles fossem seus filhos.

Francisco Massaranduba era o "queridinho" dos atletas no TUF Brasil 1 (Foto: Raphael Marinho)
- Os meninos não sabiam nem fazer comida. Eu falei: “P***, bicho…” Eles
tinham preguiça, mas eu nunca tive preguiça de nada. Até hoje o Pepey
lembra, fica falando: “Pô, saudades daquele teu macarrão com carne
moída”. Eu era meio que o "paizão", dava conselhos... Eu me dava bem com
todo mundo, mas eu simpatizava com o Macarrão, que era o mais novo da
turma, o mais molecão. Também gostava muito do Jason, que não tinha toda
aquela disciplina, e até hoje não tem. Quando eu entrei na casa, tinha
83kg, então eu podia comer o que quisesse, mas tinha que ajudar os
meninos. Minha função era treinar e ajudar os meninos, ajudar a perder
peso. Eu fiquei mais amigo deles também porque cuidava deles, fazia
comida, churrasco… Eu era o cara do churrasco. O Pepey ficava chateado
porque estava sempre de dieta, aí ele reclamava porque eu fazia
churrasco quase todo dia (risos). Eu falava: “Pepey, fica lá no teu
quarto, vai” (risos).
A predileção por Massaranduba não foi exclusiva dos moradores da casa do
TUF Brasil. O lutador conta que passou a receber um carinho muito
grande do público após a exibição do programa.
- Eu fui um dos caras mais queridos do TUF. Quando fui lutar com o Pé
de Chumbo no UFC, encontrei uma família, incluindo uma senhora - vou
levar isso pra vida toda - e essa senhora queria chorar. Ela disse:
"Nunca pensei que ia te ver". Pensei: “P*** que pariu, será que mereço
tudo isso?”. Quando a gente gosta de alguém, tem que ser de coração, se
entregar, e ela se entregou. Que emoção que foi. Quando lutei com o Pé
de Chumbo, lutei de 84 (quilos), fui felizão. Depois que encontrei com
ela, pensei: ninguém vai ganhar de mim. Pé de Chumbo foi campeão
(mundial) de jiu-jítsu, eu não, não tinha experiência em artes marciais,
comecei a lutar depois de velho. Mesmo assim, nem ferrando ele ia
ganhar de mim. A torcida estava comigo, mesmo nós dois sendo
brasileiros. Acho que eu posso lutar em qualquer lugar do Brasil que
eles torcem por mim. Tenho que agradecer muito a eles. É muito bom ter
uma nação.
Francisco Massaranduba durante o TUF Brasil 1 (Foto: Divulgação/ TUF Brasil)
E não foi só o apoio do público que mudou na vida de Massaranduba depois
do TUF. O lutador conta que conseguiu elevar o padrão de vida e ajudar a
família, o que classificou como um dos grandes "presentes" que recebeu
do UFC. Nascido em Amarante, no interior do Piauí, o atleta relembra a
vida difícil que levava ao lado dos familiares na cidade, com o primeiro
trabalho surgindo quando tinha apenas oito anos de idade.
Nós nunca passamos fome, meu pai botava a gente pra trabalhar de manhã e
à tarde. Como vou passar fome trabalhando assim? (...) Eu não tinha
calça, tênis, essas coisas boas. Eu só fui usar um tênis depois que
virei homem. Era um tênis pra quatro garotos, o menor tinha que colocar
papel nele. (...) Lembro uma vez que ganhei um tênis e não cabia no meu
pé, tive que esperar ficar mais velho pra usar. Era um serviço pesado,
comecei a trabalhar com oito anos de idade. Fome nunca passei, mas
passei necessidade
- Eu vivia 20% e agora vivo 90%. Realizei varias coisas. Ajudei minha
família, que não tinha casa própria, exceto minha mãe. Consegui mudar um
pouco a vida dos meus irmãos. No nosso país, o mais difícil é ter uma
casa e viver bem. Aqui só vive bem quem nasce com herança. Se você não
tem, você tem que se ferrar (pra conseguir). Nós nunca passamos fome,
meu pai botava a gente pra trabalhar de manhã e à tarde. Como vou
passar fome trabalhando assim? Nós tínhamos a roça pra trabalhar de
manhã e de tarde. Eu não tinha calça, tênis, essas coisas boas. Eu só
fui usar um tênis depois que virei homem. Era um tênis pra quatro
garotos. O menor tinha que colocar papel no tênis. Para vestir um short
ou camiseta nova, os irmãos todinhos tinham que usar. Eu lembro uma vez
que ganhei um tênis e não cabia no meu pé, tive que esperar ficar mais
velho pra usar. A gente andava com a sandália de dedo. Era um serviço
pesado, comecei a trabalhar com oito anos de idade. Até eu sair de casa,
trabalhei na roça com minha família. Fome nunca passei, mas passei
necessidade - revelou Massaranduba.
Massaranduba conta que começou a lutar quando já tinha 24 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Depois de ter vivido uma infância difícil, o piauiense agarrou a chance
que teve no UFC, onde permanece até hoje, cinco anos depois do programa.
Com todo o sucesso que alcançou no Ultimate, o lutador tenta dar às
crianças de sua cidade natal o que não teve quando era mais jovem:
oportunidade. Massaranduba oferece aulas de artes marciais gratuitas a
meninos e meninas de Amarante. O objetivo maior, no entanto, não é
formar atletas, mas cidadãos.
Primeira coisa que fiz quando fui para o UFC foi abrir uma academia
para o meu irmão. Criança não paga. Acho que todas deveriam ser assim.
(...) Que custo tem pegar um criança da rua, que pode se tornar um
bandido, tirar ela do mundo da droga e colocar no esporte? (...) Eu
venho de origem pobre. Você não precisa fazer um lutador, você precisa
fazer um cidadão de bem. Enquanto eu tiver condições, sempre vai ter um
espaço para crianças carentes
- Primeira coisa que fiz quando fui para o UFC foi abrir uma academia
para o meu irmão. Criança não paga. Acho que todas (as academias)
deveriam ser assim. Mas o ser humano não pensa assim, só pensa no
próprio umbigo. Que custo tem pegar uma criança da rua, que pode se
tornar um bandido, tirar ela do mundo da droga e colocar no esporte? A
gente reclama do governo, mas quem pode não faz nada também. O cara faz
tudo errado, mas, na hora de falar de política, quer criticar. Eu digo:
“Filho da p***, você não ajuda ninguém e quer falar de política. Fica
quietinho.” Se você der uma balinha e um sorriso pra uma criança todo
dia, ela vai gostar de você para o resto da vida. Eu fui comer pizza
depois de homem. Pizza é
uma coisa normal pra qualquer pessoa. As crianças de lá também não têm
acesso. Eu chamo uns 50 moleques, fecho a pizzaria e a gente come pizza.
Eles só desligam a TV depois que acaba minha luta. Não custa nada tirar
mil reais para ajudar. Tem gente que vai pra balada e gasta isso, não
dá alegria pra ninguém. Eu venho de origem pobre. Você não precisa fazer
um lutador, você precisa fazer um cidadão de bem. Enquanto eu tiver
condições, sempre vai ter um espaço para crianças carentes - finalizou.
Massaranduba brinca com crianças de projeto social em aula de golpes (Foto: TV Clube)
Jamille Bullé, estagiária, sob a supervisão de Adriano Albuquerque
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