terça-feira, 8 de agosto de 2017

ESPORTE




Maurício Galiotte: "Vamos pagar 100% da dívida do Palmeiras até fim de 2018"


Maior contratador do país na temporada de 2017, o presidente palmeirense prega responsabilidade para zerar endividamento e continuar a elevar investimento no time


RODRIGO CAPELO 











Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras (Foto: Divulgação)


Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras. O cartola promete zerar a dívida com Paulo Nobre até dezembro de 2018 (Foto: Divulgação)

Empossado presidente do Palmeiras há sete meses, Maurício Galiotte encara em praça pública a desconfiança por comandar o clube com maior poder de investimento do futebol brasileiro. As dúvidas contrapõem torcedores e adversários, sobretudo no campo das redes sociais. Teria Paulo Nobre, ex-presidente que emprestou mais de R$ 200 milhões do próprio bolso para salvar o time da bancarrota em 2013, influência na administração de seu sucessor? Se a Crefisa rasgar seu contrato de patrocínio, o Palmeiras quebra? As numerosas contratações em 2017 arriscam as finanças alviverdes? Numa entrevista concedida a ÉPOCA na minimalista sala da presidência contida no centro de treinamento da Barra Funda, em São Paulo, o cartola se posicionou sobre as bolas divididas.

A palavra mais dita por Galiotte na entrevista – "responsabilidade", repetida sete vezes em 16 minutos – dá o recado que o presidente quer passar à torcida. O clube tem, sim, o maior investimento da temporada. Foram investidos R$ 116,9 milhões em reforços, quase três vezes o que o colega de riqueza Flamengo aportou. Mas o cartola ressalva em praticamente toda resposta que tal investimento só ocorreu porque o clube tem condições de pagar por ele. Os números expostos nos balancetes do primeiro semestre de 2017, apesar de rasos, lhe dão razão. O Palmeiras arrecadou R$ 272 milhões em seis meses, mais do que fatura um rival como o Botafogo numa temporada inteira, e gastou R$ 239 milhões. Mesmo com tantos reforços. O superávit nesse período, de R$ 33 milhões, indica que sobra dinheiro para pagar dívidas e fazer novos investimentos.

O presidente promete quitar a dívida com Paulo Nobre até o fim de sua gestão, em dezembro de 2018. Dos mais de R$ 200 milhões colocados pelo ex-presidente no caixa alviverde desde 2013, faltam pagar R$ 55 milhões. É razoável crer que essa dívida vá mesmo sumir nos próximos 18 meses. E aí está um motivo para um prognóstico ainda mais positivo do que a atualidade. Uma vez quitada a pendência com o ex-dirigente, o clube liberará os 10% de suas receitas que hoje são destinados ao pagamento da dívida. Num cálculo grosseiro, significa que cerca de R$ 4,5 milhões mensais serão acrescentados ao poderio financeiro palmeirense a partir de janeiro de 2019. Isso, claro, se Galiotte se mantiver fiel à palavra que norteia seu discurso: responsabilidade, responsabilidade, responsabilidade.
>> As finanças do Palmeiras em 2016: do aperto financeiro ao posto de mais rico do futebol brasileiro


ÉPOCA – Nos primeiros sete meses de sua gestão, o que foi feito?
Maurício Galiotte –
Nosso plano de gestão contempla alguns tópicos. A responsabilidade financeira, administrativa, esportiva. Nós, financeiramente, neste ano, pagamos uma grande parte de nossa dívida. O Palmeiras hoje não tem mais dívida com bancos. Temos um saldo com fundos, e uma grande parte foi quitada neste ano. Ao redor de R$ 75 milhões. Nosso objetivo é até o final da gestão pagar 100% da dívida do Palmeiras.
ÉPOCA – A dívida com fundos é com o Paulo Nobre.
Galiotte –
Fundos nos quais o Paulo Nobre é acionista, perfeito.
ÉPOCA – Essa dívida é paga com 10% das receitas do clube?
Galiotte –
É assim que funciona: 10% das receitas operacionais do clube são canalizadas aos fundos, e isso até o término, até chegarmos ao valor, ao montante total. Na nossa expectativa, até o final do ano que vem estaremos 100% quitados.
ÉPOCA – Havia muita especulação sobre o poder que o Nobre teria por causa da dívida. Qual a participação dele na gestão?
Galiotte –
Tenho muito respeito com o presidente Paulo Nobre. Trabalhamos quatro anos juntos, diariamente, na gestão. Antes disso tivemos muita proximidade, nos dois anos antes de ele ser presidente, quando perdeu a eleição para o Arnaldo Tirone. Hoje ele está distante da administração do Palmeiras, mas nosso respeito é mútuo, é muito grande. Nós temos, sim, prioridade no pagamento da dívida, mas esse é um compromisso que eu tenho com ele, com o Palmeiras, e faz parte do nosso plano de gestão.
ÉPOCA – Os empréstimos do Paulo Nobre eram inevitáveis?
Galiotte –
Quando o Paulo assumiu, nós tínhamos uma dívida importante. O clube estava numa situação muito difícil e sem fontes de receita. Então os aportes do Paulo Nobre naquele momento foram fundamentais. Naquele momento nós dissemos isso a ele: assim que o Palmeiras tiver condições, nós vamos quitar, vamos pagar os empréstimos. É isso que nós estamos fazendo.
ÉPOCA – Como estão as despesas em 2017 após tantas contratações?
Galiotte –
Nós fazemos investimentos, mas temos fontes de receita hoje diversificadas para poder fazer esses investimentos. Nós investimos, sim, mas de forma responsável. Temos investimentos no clube, no centro de excelência, que é aqui na academia de futebol, em atletas, em tecnologia, então nós estamos preparando o Palmeiras para o futuro. E pagando a dívida do clube. De tal sorte que o Palmeiras tem hoje o pagamento da dívida, os investimentos que citei, e temos resultado positivo até o momento. Ou seja, nós temos lucro. O Palmeiras tem lucro de R$ 33 milhões no acumulado do ano. Pagando dívidas e investindo.
ÉPOCA – O planejamento financeiro tem sido respeitado em 2017?
Galiotte – 
O clube tem de ter recurso para investir. Nós temos um planejamento, que é feito para o ano, e sempre com responsabilidade financeira nós adquirimos alguns jogadores. Sempre buscando reforçar a equipe, nós mantivemos grande parte do elenco vencedor do Campeonato Brasileiro do ano passado e trouxemos alguns recursos, nós fortalecemos esse elenco. Nós tínhamos condições disso, por isso fizemos, mas sempre com responsabilidade. Quando investimos, é porque temos certeza de que temos condições de pagar.

Leila Pereira, dona da Crefisa, e Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras (Foto: Divulgação)



Leila Pereira, dona da Crefisa, e Maurício Galiotte, presidente do Palmeiras (Foto: Divulgação)



ÉPOCA – Uma pergunta famosa nas redes sociais: o que acontece com o Palmeiras se a Crefisa interromper seu patrocínio?
Galiotte –
A Crefisa é muito importante para o Palmeiras. A Crefisa chegou ao clube no início de 2015. Nós tivemos em 2013 e 2014 uma situação muito difícil, tanto esportivamente quanto administrativamente e financeiramente. E a chegada da Crefisa foi fundamental para esse crescimento do Palmeiras, junto com a inauguração da arena. Obviamente temos o maior patrocínio da América do Sul e a saída da Crefisa com certeza nos faria muita falta. Hoje nós estamos trabalhando em paralelo para gerar novas fontes de receita. Nós temos o Avanti [programa de sócios-torcedores], a arena, a Crefisa, a TV, que são as principais. Com a Crefisa não estando no Palmeiras, obviamente teríamos de repensar a situação em termos de investimentos, porque hoje a gente provoca um investimento, faz de tal sorte que nós temos como bancá-lo. No dia em que não tivermos um patrocinador, que eu espero que demore muito para acontecer, então teremos de repensar a operação.


ÉPOCA – O custo atual é pagável sem a Crefisa ou com um patrocínio mais baixo, em valores de mercado?
Galiotte –
Talvez alguns ajustes nós teríamos de fazer num cenário como esse que você desenhou agora. Teríamos de fazer ajustes para a gente ter um equilíbrio total da operação.ÉPOCA – O Fluminense passou por um período de vitórias e grandes investimentos com a Unimed. Quando a Unimed saiu, o clube assumiu um custo absurdo. Esse caso e outros similares são tomados por vocês como referência? Como lição?
Galiotte – 
Nós temos de ter responsabilidade administrativa. Responsabilidade financeira. E responsabilidade esportiva. Se não tivermos fontes de recursos, não poderemos investir. Nós não poderemos gastar. Eu acho que é o básico da administração. O Palmeiras hoje tem condições de investir, por isso a gente investe. Se um dia não tivermos, nós não poderemos. Nós não temos hoje recursos adiantados. O Palmeiras não tem 1 real adiantado. Nós temos novas fontes de recursos. O que proporciona ao clube para os próximos períodos uma condição administrativa bastante razoável.


ÉPOCA – Muitas contratações em 2017 foram feitas com dinheiro adicional da Crefisa, além do patrocínio. Confere?
Galiotte –
 É o dinheiro do Palmeiras. É o Palmeiras que compra o atleta. A Crefisa adquire propriedades de marketing, gera recursos ao Palmeiras, e o Palmeiras com esses recursos investe da maneira que achar melhor. Podendo ser num atleta, podendo ser em tecnologia, podendo ser em estrutura. Então quem investe é o Palmeiras. Obviamente a Crefisa é um grande parceiro, tendo oportunidade de mercado, exploração de imagem, ela nos ajuda a explorar as oportunidades de mercado.
ÉPOCA – Quando vocês contrataram o Borja, por exemplo, houve um aporte adicional da Crefisa. E ela não pode, pelas regras da Fifa, ficar com um percentual dos direitos econômicos do jogador.
Galiotte –
Não, não.


ÉPOCA – Qual contrapartida adicional a Crefisa tem?
Galiotte – 
Ela compra propriedade de marketing e tem direito de exploração da imagem do atleta. Enquanto o atleta estiver no clube, ela tem direito de explorar a imagem do atleta. É dessa maneira que é feita a operação. Quando o Palmeiras compra, ele compra com recursos do próprio clube, e a patrocinadora tem direito a propriedades de marketing e exploração de imagem.
ÉPOCA – Os donos da Crefisa têm alguma ingerência nas decisões tomadas pelo Palmeiras no campo administrativo?
Galiotte –
 Leila Pereira e José Roberto Lamacchia são os proprietários da FAM e da Crefisa, patrocinadores do Palmeiras atualmente, os maiores patrocinadores da América do Sul, são parceiros do clube. Em nenhum momento, nenhum momento, eles pedem alguma coisa ou têm algum tipo de ingerência administrativa no futebol. Em nenhum momento. Eles patrocinam, são parceiros, mas o trabalho é desenvolvido por profissionais sem absolutamente nenhuma interferência, em nenhum momento.


Alexandre Mattos, diretor de futebol do Palmeiras, e Maurício Galiotte, presidente do clube (Foto: Divulgação)




Alexandre Mattos, diretor de futebol do Palmeiras, e Maurício Galiotte, presidente do clube (Foto: Divulgação)


ÉPOCA – Agora, agosto de 2017, o Palmeiras ainda está no mercado?
Galiotte –
 A ideia é que nós encerramos o ciclo, porém estamos sempre atentos a oportunidades. Nosso elenco está fechado, esse é o grupo para este ano, mas surgindo uma oportunidade nós vamos analisar. Estamos aqui para zelar pelo clube. Zelar pelos interesses do clube. Um grande jogador sempre interessa ao Palmeiras. Temos de estar atentos e analisar cada situação.
ÉPOCA – O Felipe Melo foi contratado no início do ano como grande estrela, com um custo evidentemente alto, e agora foi afastado. Houve uma falha de planejamento do futebol do Palmeiras?
Galiotte –
 Não enxergo dessa maneira. É um grande jogador, teve uma carreira brilhante fora do Brasil, mais de dez anos na Europa, disputou Copa do Mundo. O Felipe prestou até o momento um grande serviço ao Palmeiras, e nós tivemos alguns desgastes, alguns problemas pontuais, algumas situações em que tivemos de tomar uma decisão, que todos já sabem, mas se trata de um grande jogador, tem todo o nosso respeito.


ÉPOCA – O Palmeiras contrata muitos jogadores. Mas vende muito? Vocês esperam receitas relevantes com transferências?
Galiotte –
 É uma fonte de receita que não contemplamos em nossa previsão orçamentária. Isso é importante dizer. Nosso orçamento não contempla a venda de jogadores. Mas faz parte do processo. Faz parte do negócio. Em algum momento vamos ter de vender jogadores, até porque é uma questão de desenvolvimento, uma questão de plano de carreira. Agora, tudo no tempo certo, pensando bastante no clube, na carreira do jogador, enfim, a gente faz sempre a quatro mãos com muita responsabilidade.

GLOBO ESPORTE





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