Temer diz conhecer 'muitos políticos' que não utilizavam caixa 2
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Em entrevista à
agência de notícias espanhola EFE, presidente também defendeu
'solução pacífica' com 'eleições livres' na Venezuela. Foto:
Reprodução Internet
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O presidente Michel Temer disse em entrevista à agência de notícias EFE, da Espanha, que conhece "muitos políticos" que não utilizavam caixa 2, recursos sem contabilidade oficial, em suas campanhas.
"Eu fui presidente de um partido [PMDB], o maior partido do País
durante 15 anos, e as contribuições que chegavam, chegavam oficialmente
pelo partido. Eram valores até significativos, porque muitas e muitas
vezes - não se trata apenas da Odebrecht -, todos os empresários, são
muitos, quando queriam contribuir, eram procurados pelos candidatos, mas
diziam: nós queremos contribuir oficialmente por meio do partido
nacional", disse o presidente.
Essa foi uma alusão à declaração de Marcelo Odebrecht, que declarou, em delação premiada, que não conhece político eleito no país sem o caixa 2.
"Eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha conseguido fazer
qualquer eleição sem caixa 2. O caixa 2 era três quartos, o que eu
estimo. Não existe ninguém no Brasil eleito sem caixa 2. O cara até pode
dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido que era caixa 2.
Não existe, não existe”, afirmou o empresário.
Processo no TSE relativo a chapa Dilma-Temer
Questionado sobre o processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
julgará ação que pede a cassação da chapa encabeçada por PT e PMDB, o
presidente da República declarou que será obediente às decisões do Poder
Judiciário, mas acrescentou que, se houver cassação da chapa, "haverá
recurso".
"Ainda um longo percurso processual a percorrer. Então, na pior das
hipóteses, se houver, digamos assim, a anulação da chapa, a cassação da
chapa, haverá recurso. Segundo ponto, não é improvável que a ação seja
julgada improcedente. Terceiro ponto, também não é improvável - é uma
tese que os meus advogados sustentam - a hipótese de separação de
contas. Porque as contas do presidente e do vice-presidente são
prestadas separadamente", afirmou ele.
Temer avaliou que o problema principal no julgamento desta ação pelo
TSE refere-se à arrecadação dos recursos, se foi regular ou não.
"As arrecadações que vieram para a minha campanha, modestíssima, menos
de 5% (do total da chapa), foram todas regulares. E por isto que
subsiste a tese de uma eventual separação de contas. Estou dando isso
como terceira hipótese. Enfim, nesta matéria, nós temos um longo caminho
a percorrer", afirmou.
O TSe vai julgar se houve abuso de poder político e econômico por parte
da chapa eleita, formada por Dilma Rousseff e Michel Temer, e se Dilma
deve ficar inelegível e Temer deve perder o cargo.
Ainda não há previsão de data para o julgamento pelo TSE que, no início
deste mês, decidiu abrir a etapa de coleta de provas, autorizar
depoimentos de novas testemunhas e conceder prazo adicional de cinco
dias para as alegações finais das defesas. O prazo passará a contar
depois que o TSE ouvir as novas testemunhas.
Impacto da Lava Jato nos investimentos
Na visão do presidente da República, as investigações da Lava Jato, que
apuram irregularidades na Petrobras, não devem postergar o ingresso de
investimentos estrangeiros no país.
"Você sabe que nós temos pregado muito - eu vou ser repetitivo, mas
verdadeiro - essa história de que o País não pode parar em função da
Lava Jato. E, portanto, o país tem que continuar a trabalhar e, neste
sentido, o Executivo e o Legislativo, assim como o Judiciário, cumprindo
a sua tarefa", declarou.
Disse ainda que tem "exemplos concretos" de investimentos que estão sendo feitos no Brasil.
"Esses investidores me procuram para dizer que vão aumentar os
investimentos. E sempre que chegam a mim, confiam muito que, com as
reformas feitas, vai ainda aumentar o grau, vai aumentar a possibilidade
de investimento. Não creio que isso [Lava Jato] prejudique",
acrescentou Temer.
Reformas
O presidente Michel Temer, ao ser questionado pela reportagem da EFE,
também disse que as reformas que estão sendo propostas, como a
trabalhista e a previdenciária, são "pesadíssimas", mas visam preparar
para o país para o futuro.
"São o oposto dos gestos populistas, então, em um primeiro momento,
elas assustam", declarou. Ele acrescentou que, no caso da Previdência
Social, encaminhou ao Congresso uma reforma "completíssima. "Mas
sabíamos que no Congresso Nacional haveria observações, eventuais
objeções, e estávamos preparados para isso", afirmou.
Segundo ele, com os ajustes aceitos pelo governo, na proposta que foi
encaminhada pelo relator Arthur Maia (PPS-BA), a redução do déficit
previdenciário será de R$ 600 bilhões em dez anos, ao invés dos R$ 820
bilhões estimados com a proposta do governo.
“Mas a pergunta é a seguinte: vale a pena ter uma redução de R$ 600 e
poucos bilhões ou vale a pena não ter nenhuma redução? Por isso que digo
eu: a reforma previdenciária, embora não vá atingir aquele valor
inicial de R$ 800 e tantos bilhões, ainda atinge uma redução do déficit
de R$ 600 bilhões, que é útil para o País", disse.
Michel Temer afirmou ainda não acreditar que as investigações da Lava Jato possam dificultar as reformas propostas.
"Não acredito, até porque, no caso dos ministros, eu fiz uma espécie de
linha de corte. Existe muito o fenômeno da delação (...) Qual foi a
linha de corte que eu fiz: quando alguém é denunciado pelo Ministério
Público, embora ainda não admitida a denúncia, haverá fortes indícios de
que o que o delator disse é comprovável, e nessa hipótese eu afasto
provisoriamente o ministro. Se depois a denúncia for aceita, eu afasto
definitivamente o ministro que se converteu em erro", declarou.
Eleições livres na Venezuela
O presidente Michel Temer também afirmou na entrevista que espera
"eleições livres" e uma "solução pacífica" para a crise política,
econômica e social na Venezuela.
Segundo a agência, Temer afirmou que, sem eleições, a Venezuela perderá
as "condições de convivência" no Mercosul. Temer declarou que o governo
brasileiro "espera" uma próxima reunião do Mercosul "para decidir" o
que será feito pelos outros membros em relação à Venezuela no bloco.
A crise no país vizinho, que já se arrasta por meses, se intensificou nos últimos dias, quando foram registradas mortes em manifestações
organizadas pela oposição contra o governo do presidente Nicolás
Maduro. Os opositores exigem eleições gerais, mas o gverno ainda não
marco uma data.
Além disso, com a grave crise econômica, os venezuelanos têm sofrido
com desabastecimento de produtos básicos, como alimentos e remédio. Em
busca de melhores condições de vida, milhares de venezuelanos têm
deixado o país e emigrado para os vizinhos Colômbia e Brasil.
Na entrevista à EFE, Temer disse que há uma "avalanche de venezuelanos
que estão entrando no Brasil por meio de Roraima", onde afirmou que há
"milhares" de cidadãos do país vizinho.
Na segunda-feira (24), Temer receberá em Brasília o premiê espanhol,
Mariano Rajoy. O tema Venezuela deve ser um dos pontos a ser discutidos
no encontro pelos dois líderes.
Fonte: EFE
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