terça-feira, 21 de junho de 2016

MUNDO

'Partido de humorista' vira 2ª força da Itália após vencer em Roma e Turim

Essa é a primeira vez que uma mulher governará a capital italiana.
Além de Roma, M5S obteve vitória em Turim com Chiara Appendino.


Virginia Raggi venceu o segundo turno das eleições municipais em Roma, ao conseguir 67,15% dos votos (Foto: Alessandro Di Meo/ANSA/AP)Virginia Raggi venceu o segundo turno das eleições municipais em Roma, ao conseguir 67,15% dos votos (Foto: Alessandro Di Meo/ANSA/AP)
O Movimento Cinco Estrelas (M5S), lançado pelo humorista italiano Beppe Grillo para acabar com a classe política tradicional, transformou-se na segunda força política do país. No domingo (19), o partido elegeu Virginia Raggi como prefeita de Roma e Chiara Appendino com prefeita de Turim.
Essa é a primeira vez que a mulher governará a capital italiana. O feito foi ressaltado pela própria Virginia na segunda-feira (20). Ela disse que a vitória "tem um valor extraordinário", pois acontece em um momento "no qual a paridade ainda é uma quimera".
Raggi venceu o segundo turno das eleições municipais em Roma, ao conseguir 67,15% dos votos, contra 32,85% de Roberto Giachetti, do Partido Democrata (PD). A candidata do movimento antissistema havia liderado também o primeiro turno, com 35,37% dos votos.
Nascida em Roma, Virgínia Raggi é uma advogada de 37 anos formada pela Universidade de Roma. Ela tem um filho, Matteo, de sete anos. Antes de vencer a disputa pela prefeitura, ela tinha sido eleita vereadora da capital em 2013.
Além de Roma, o M5S impôs uma derrota inesperada para o PD e para o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, ao vencer em Turim, um dos redutos históricos da esquerda. A candidata do M5S, Chiara Appendino, ganhou com 54,6%  dos votos, contra 45,4% do prefeito e membro histórico do PD, Piero Fassino.
Além de Roma, M5S obteve vitória em Turim com Chiara Appendino (Foto: Marco Bertorello/AFP)Além de Roma, M5S obteve vitória em Turim com Chiara Appendino (Foto: Marco Bertorello/AFP)
Como surgiu o M5S?
Graças às suas vibrantes declarações "antissistema", o comediante e ator genovês Beppe Grillo iniciou em 2007 uma série de manifestações contra a classe política sob o lema "Dia do Vaffanculo", conquistando apoio maciço.
Cansado das intrigas da velha política, Grillo revelou-se um eficaz contestador dos privilégios da classe política, do capitalismo selvagem e corrupto, o que lhe rendeu enorme popularidade.
M5S foi fundado pelo comediante e ator genovês Beppe Grillo (Foto: Giorgio Onorati/Ansa/AP)M5S foi fundado pelo comediante e ator genovês Beppe Grillo (Foto: Giorgio Onorati/Ansa/AP)
Pela internet, um blog e uma rede territorial com mais de 200 grupos de encontro, Grillo incentivava o debate, estudava propostas, lançava anátemas. Seu blog, lançado no ano 2000, tornou-se em prazo recorde o mais consultado e influente da Itália.
Em 2009, ele fundou o M5E juntamente com Gianroberto Casaleggio, especialista em informática, considerado até a sua morte, em abril, o "guru" do movimento.
Qual é o programa?
O movimento se baseia, principalmente, no repúdio aos partidos políticos tradicionais e defende de forma ferrenha a honestidade como princípio.
Em nível nacional, as medidas do programa são variadas: criação de um salário mínimo, realização de um referendo para sair da zona do euro, adoção de medidas mais fortes contra a corrupção, estímulo econômico às pequena e média empresas, imposição de limites de mandato nas eleições, redução dos salários dos políticos e dos fundos para partidos e a imprensa, internet para todos.
Segue a mesma linha do espanhol Podemos ou do grego Syriza? Assim como o Podemos, na Espanha, ou o Syriza, na Grécia, o M5E repudia qualquer aliança com partidos tradicionais, mas não se identifica como uma formação de esquerda.
Em 2014, Beppe Grillo pediu a limitação aos vistos humanitários e, neste ano, o movimento rejeitou no último minuto a votar pelas uniões civis para os homossexuais, apoiadas por 80% de seus militantes, para evitar aliar-se ao governo de centro-esquerda, debilitado pela retirada do apoio dos setores católicos internos.
Como se sai nas urnas?
Em 2013, obteve uma vitória esmagadora ao conquistar 25% dos votos nas eleições legislativas. Desde então, vem multiplicando vitórias em eleições locais parciais e confirmou-se no domingo como a segunda força política do país depois do Partido Democrático.
O movimento administrava até agora algumas poucas localidades de importância mediana, mas, com as conquistas de domingo (19) das prefeituras de Roma e Turim, poderia se tornar um concorrente de peso para chegar ao poder nas eleições de 2018.
Como os eleitos respondem?
Os chamados "grillini", todos novatos, lutam por se fazer ouvir no Parlamento, rejeitam qualquer aliança com outros partidos e costumam evitar aparecer em programas de TV tradicionais.
Todos devem respeitar um código de conduta que os obriga a pedir permissão aos dirigentes do movimento para todas as decisões importantes. Uma série de investigações penais contra os prefeitos do movimento que governam Parma e Livorno afetou a imagem do movimento.
Beppe Grillo, um fardo?
O humorista, que revolucionou a política italiana, afastou-se do movimento há quase um ano e se tornou seu avalista e juiz supremo. Algumas de suas tiradas irreverentes provocam incômodo, sobretudo quando fala de imigração, um tema com o qual é pouco "politicamente correto".
Entre seus afilhados políticos estão Luigi Di Maio, jovem napolitano de 30 anos, e Alessandro di Battista, de 38 anos. O napolitano afirma que o movimento está em ascensão na península, porque a classe política está cega e surda frente às mudanças e exigências dos cidadãos.
Fonte: G1

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