Inteligência artificial busca novas conexões para personalização
Um esforço para que as pessoas encontrem botas melhores pode ter muito a dizer sobre o futuro da inteligência artificial no mundo dos negócios.
A companhia de San Francisco que está conduzindo o trabalho, chamada Sentient, usou uma versão de um sistema avançado de inteligência artificial para criar um serviço de busca visual para a Shoes.com, empresa online de venda de calçados sediada em Vancouver, Canadá.
Embora - pelo menos por enquanto - se limite ao varejo, em longo prazo a tecnologia poderia demonstrar o quanto é importante para empresas acumular vasto volume de informações.
Os clientes olham fotos de sapatos, escolhem o tipo preferido em meio a dezenas de imagens e isso os conduz a mais dezenas de imagens, em busca do look que a pessoa deseja. Uma página inicial de botas pode conduzir a outra página com modelos de cano mais curto ou longo, cadarços ou fivelas. Novas páginas confirmam essas escolhas ou permitem conduzir a busca em direção diferente.
| Lucas Lima/Folhapress | ||
| Serviço de busca visual ajuda clientes de site de venda de calçados a escolher produtos |
Do ponto de vista de vendas, o sistema pode ser considerado como o novo passo na inteligência artificial da personalização. Tipicamente, a personalização depende de associações históricas, ou das conhecidas sugestões do tipo "outros compradores escolheram". Nesse caso, o computador considera 100 ou mais fatores, e tenta ponderar como uma pessoa se sentiria com relação a eles em tempo real.
"O que torna isso atraente é que a pessoa pode encontrar o sapato que ama sem saber qual é a marca dele", diz Roger Hardy, cofundador e presidente do conselho da Shoes.com. "Se eu lhe disser que existe uma companhia italiana com o salto, bico e cadarços perfeitos para você, e você não conhecer a marca, não é vantagem nenhuma para você".
Nos testes iniciais com compradores, disse Hardy, a inteligência artificial elevou as vendas, ainda que ele não revele em que medida.
OPÇÕES
Esse tipo de busca significa que um catálogo precisa oferecer muitas opções aos compradores, para que o sistema possa funcionar. Portanto, Hardy e outros usuários do serviço terão de manter grande estoque de imagens e de estilos mutáveis à mão, e de capacidade de entregar produtos no mundo inteiro, porque os fabricantes estão em toda parte.
"Você verá marcas ganhando prestígio muito rápido", ele disse.
Antoine Blondeau, cofundador e presidente-executivo da Sentient, diz que a inteligência artificial de sua companhia se baseia em algo chamado "ontologia dinâmica", o que significa que percepções e ações são determinadas com base naquilo que uma situação parece ser em dado momento.
Nas compras, isso significa a manifestação do gosto de uma pessoa ao procurar produtos. Nas operações financeiras, um segmento no qual a Sentient vem conduzindo experiências com transações milionárias de ações norte-americanas, pode significar usar movimentos recentes de preços de uma constelação de ações a fim de prever em que direção as coisas se encaminharão a seguir.
"Pode-se imaginar o processo como um sistema para compreender complexos dados inter-relacionados a cada dado momento", diz Blondeau. "É compreender o que importa agora".
É claro que "o que importa" tem muito a ver com aquilo que pode ser capturado em um computador. Dentro de cinco anos, disse Blondeau, o comércio de produtos observará "mensagens de redes sociais, declarações de impostos, todos os programas de rádio e TV do planeta".
MEDICINA
A Sentient também trabalhou com o St Michael's Hospital, da Universidade de Toronto, a fim de acompanhar o tratamento de pacientes. Nos primeiros resultados, o sistema parecia capaz de observar os sinais vitais de um paciente e prever com 30 minutos de antecedência o surgimento de uma reação séptica, ou seja, a forte resposta do organismo a uma infecção que pode resultar em morte.
"Continua a ser difícil estabelecer padrões envolvendo pacientes específicos", disse Muhammad Mamdani, diretor de pesquisa aplicada à saúde no St. Michael's.
Embora os resultados tenham parecido positivos, Mamdani alertou que o uso de inteligência artificial na medicina vai demorar a se estabelecer. "Será preciso que ela funcione fora de um ambiente de teste. Somos um ambiente lento e conservador - a transferência de conhecimento é um problema, na saúde".
Desde sua fundação em 2008, a Sentient recebeu US$ 143 milhões em capital de investidores que incluem a Tata Communications e Li Ka-shing, o bilionário de Hong Kong. A empresa usa computadores próprios mas depende principalmente de máquinas temporariamente ociosas, como os computadores de uma casa de videogames na Coreia do Sul no período em que ela fecha à noite.
No total, a companhia usa dois milhões de núcleos de computadores, instalados em quatro mil diferentes locais.
Fonte: Folha de S.Paulo
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