Filho da pátria
Um post recente que fiz aqui sobre o hino brasileiro não me ajudou a fazer amigos entre os leitores do Yahoo.
Tudo bem, é do jogo, mas volto ao tema por causa de Benzema, o artilheiro da seleção francesa.
Ele se recusa a cantar o hino francês antes das partidas. Ontem, contra o Equador, ficou novamente em silêncio enquanto soavam os acordes. De origem argelina, ele não se identifica com aquilo. (Uol deu boa matéria sobre isso).
Estamos falando da Marselhesa. No quesito beleza melódica e inspiração patriótica, trata-se sem dúvida de um canto "empolgante".
Ao contrário do brasileiro, é associado a causas libertárias. É um emblema da Revolução Francesa, mito fundador de um bom conjunto de valores caros às democracias contemporâneas.
É o canto associado à libertação francesa na Segunda Guerra Mundial. Basta lembrar da cena bonita de Casablanca em que o hino é entoado para calar o canto dos nazistas. Veja abaixo:
Tudo bem, é do jogo, mas volto ao tema por causa de Benzema, o artilheiro da seleção francesa.
Ele se recusa a cantar o hino francês antes das partidas. Ontem, contra o Equador, ficou novamente em silêncio enquanto soavam os acordes. De origem argelina, ele não se identifica com aquilo. (Uol deu boa matéria sobre isso).
Estamos falando da Marselhesa. No quesito beleza melódica e inspiração patriótica, trata-se sem dúvida de um canto "empolgante".
Ao contrário do brasileiro, é associado a causas libertárias. É um emblema da Revolução Francesa, mito fundador de um bom conjunto de valores caros às democracias contemporâneas.
É o canto associado à libertação francesa na Segunda Guerra Mundial. Basta lembrar da cena bonita de Casablanca em que o hino é entoado para calar o canto dos nazistas. Veja abaixo:
É um canto de guerra. Foi feito em 1792, ano que marca a início do "terror" da revolução. Por trás dele, há o eco de milhares (estimativas falam em 17 mil) de cabeças guilhotinadas.
Em anos recentes, esse "sangue impuro" ganhou outra conotação. Passou a ser associado por alguns grupos aos imigrantes que vivem na França. A recusa de Benzema tem a ver com isso: não endossar um canto que pode incentivar intolerância e ódio racial.
Zidane, também de origem argelina, fez o mesmo em Copas passadas.
Será que dá pra chamar os dois de "antipatriotas", como querem muitos comentaristas dos blogs desse portal?
Claro que já existem vários franceses protestando contra Benzema. Um post compartilhado hoje por um amigo no Facebook mostra um torcedor irritado dizendo que o atacante tem "QI de ostra".
Segundo esse sujeito, o jogador teria a obrigação de cantar o hino porque seu trabalho é representar o país e ele "é pago pela federação francesa".
Por aí dá pra ver o enrosco. É o velho ódio contra o imigrante que "rouba" os empregos dos patrícios.
Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, em maio, a extrema direita francesa conquistou 25% dos votos, chegando em primeiro lugar no país.
Há poucas semanas, o líder simbólico da direita francesa, o nacionalista Jean-Marie Le Pen, declarou que faria uma "fornada" com personalidades que haviam criticado seu partido, entre as quais havia negros e judeus.
Esse mesmo sujeito pediu que Benzema não fosse convocado por causa de sua atitude.
Quando se fala no hino, é esse tipo de questão que está em jogo.
A atitude do jogador francês revela uma consciência sobre a simbologia de seus gestos. Ele tem espírito crítico e age de forma independente.
A situação no Brasil é outra, sei bem. Mas é desse senso crítico que eu estava falando no outro post.
Um pouco de desconfiança com relação aos símbolos do nacionalismo não faria mal aos jogadores e torcedores brasileiros, sobretudo em momento de crise das instituições políticas, como é o atual.
Mas era só isso mesmo.
No mais, bora torcer que a Copa tá boa à beça.
Fonte: Yahoo
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