Perigo
Fumaça e tumulto na Esplanada. De novo
Curto-circuito causa início de incêndio em estação da CEB, no prédio dos ministérios das Comunicações e dos Transportes, e deixa 30 vítimas.
Funcionários dos ministérios das Comunicações e dos Transportes sofreram intoxicação após inalar fumaça vinda do subsolo do Bloco R |
Um curto-circuito no subsolo do prédio dos ministérios dos Transportes e das Comunicações, na Esplanada, provocou correria e pânico no fim da tarde de ontem. A causa foi uma falha na subestação rebaixadora da Companhia Energética de Brasília (CEB). Há menos de oito meses, um problema no mesmo equipamento teve consequências semelhantes. No momento da pane elétrica, ontem, funcionários de uma empresa contratada pela CEB terminavam os últimos reparos para consertar os estragos da explosão de fevereiro. Ao todo, 30 pessoas precisaram de atendimento médico depois de inalar fumaça tóxica.
De acordo com testemunhas, por volta das 17h, foi possível ouvir um estrondo em alguns andares do prédio. A energia caiu imediatamente. O curto-circuito provocou um princípio de incêndio, controlado pelo Corpo de Bombeiros. A fumaça, extremamente tóxica, espalhou-se pelos nove andares do prédio, além do anexo, por meio do sistema de ar-condicionado central. ...
Das 30 pessoas que se sentiram mal, 18 foram encaminhadas para Hospital Regional da Asa Norte (Hran), entre elas, uma grávida e um homem hipertenso. Todos acabaram liberados ontem mesmo. Os outros atendimentos ocorreram na porta do prédio. Por recomendação da Defesa Civil, não haverá expediente hoje no Bloco R, onde funcionam os dois ministérios. “Fizemos uma inspeção e não constatamos qualquer abalo na estrutura do prédio. Não há riscos físicos e estruturais, mas recomendamos que o trabalho não seja retomado amanhã (hoje) por conta da situação de altíssimo estresse vivida pelos funcionários”, explicou o coronel Sérgio Bezerra, subsecretário de Operações da Defesa Civil.
Reunião interrompida
O ministro dos Transportes, César Borges, estava em reunião com o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno, 77 anos, no momento do incidente. “O encontro era no anexo. Mas a fumaça atingiu a sala de reunião. Desci com o ministro e com o bispo pela escada de emergência. Todos ficaram nervosos, mas deu tudo certo”, explicou Miguel Mário Bianco Masella, secretário executivo do Ministério dos Transportes.
Pelo menos 40 funcionários do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros participaram do atendimento. Quinze viaturas foram deslocadas. O comandante Mauro Sérgio de Oliveira, chefe da Comunicação Social dos Bombeiros, explicou que a fumaça era muito tóxica, o que levou muita gente a passar mal.
O subsecretário de Administração do Ministério dos Transportes, Ulysses Melo, afirmou ainda que a segurança do prédio tomou todas as medidas de segurança e prevenção indicadas pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil após o primeiro acidente no início do ano. Além do pânico e da correria, o curto-circuito de ontem provocou o adiamento de eventos importantes dos ministérios. “Teríamos amanhã (hoje) uma audiência pública sobre um projeto de R$ 180 milhões para as cidades digitais”, explicou Américo Bernardes, diretor de Infraestrutura de Comunicação Digital do Ministério das Comunicações. A audiência foi transferida para o auditório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Troca de equipamentos
Após a explosão em fevereiro deste ano (confira Memória), a CEB trocou os equipamentos da subestação rebaixadora. “Fizemos tudo que foi pedido pela Defesa Civil e pelos Bombeiros. Uma empresa terceirizada estava concluindo o serviço e pintando o local”, explicou Manoel Clementino, diretor de Operações da CEB.
De acordo com Clementino, não houve explosão ontem e não existe relação entre o curto-circuito e a presença dos funcionários no local. “O cabo onde ocorreu o problema é da época da construção do prédio. Recentemente, nós fizemos uma vistoria e não constatamos a necessidade de trocá-lo. Se fosse um cabo mais novo, não haveria tanta fumaça por conta do curto-circuito e o problema teria sido contornado muito mais facilmente”, explicou Clementino. A CEB espera terminar a troca dos equipamentos no subsolo até início da manhã de hoje. Por volta das 20h de ontem, as luzes do prédio foram acesas com o apoio dos geradores. O local passa por perícia que deve ser concluída em até 30 dias.
Em diversas reportagens desde 2011, o Correio alertou para os riscos da presença das subestações de energia no subsolo dos prédios na Esplanada. De acordo com o diretor de Operações da CEB, a companhia já reformou e fez as alterações indicadas em 15 dos 17 prédios. “Aqui (no Bloco R) faltava apenas a pintura e a instalação do exaustor, que também evitaria que a fumaça tóxica se espalhasse, jogando ela para fora do prédio”, explicou.
Memória
Acidente em 2012 com morte
Em 15 de novembro do ano passado, o técnico da Companhia Energética de Brasília (CEB) Wilson de Pádua Pires, 54 anos, morreu depois de ser atingido por uma explosão em uma subestação de eletricidade no Ministério do Esporte. Ele não resistiu a duas paradas cardiorrespiratórias, traumatismo craniano e queimaduras de terceiro grau.
Três meses depois, na tarde de 20 de fevereiro, um princípio de incêndio no Bloco R, onde funcionam os ministérios das Comunicações e dos Transportes, o mesmo edifício onde ocorreu o acidente de ontem, expôs, mais uma vez, a fragilidade das construções na Esplanada. O incidente aconteceu na estação transformadora que funciona no subsolo.
A fumaça tóxica se espalhou por todos os andares. Um funcionário passou mal e foi socorrido pelos Bombeiros. Com baixa visibilidade e dificuldade para respirar, houve empurra-empurra e desespero. Durante o processo, ocorreram duas explosões. O terceiro e o quarto pavimentos foram os mais afetados pelo resíduo tóxico. Para combater as chamas, os Bombeiros destacaram 70 homens e 15 caminhões, veículos de apoio e ambulâncias. Para que uma das viaturas da corporação tivesse acesso ao prédio, quatro guinchos tiveram que retirar carros que dificultavam o acesso ao local.
Depoimentos
“Estava no elevador, sozinha. Quando a porta abriu, entrou uma nuvem de fumaça. Não dava para ver nada. Tinha muita gente correndo e gritando. Trabalho aqui há 25 anos e nunca passei por uma situação assim. Desci do elevador no terceiro andar. As escadas de incêndio são estreitas, teve empurra-empurra e gritaria. Achei que ia ficar sufocada. Cada vez era mais difícil respirar. Fiquei muito nervosa. Mas, quando coloquei o pé para fora, fui atendida pelo Samu e pelos Bombeiros. Acho um absurdo um prédio onde tanta pessoas trabalham ter problemas assim.
É falta de cuidado com a gente.”
Rosilene da Silva,
51 anos, funcionária pública
“Escutei um barulho e a fumaça chegou aqui no térreo muito rápido. Fiquei preocupada com as pessoas que estavam em outros andares. Era muita fumaça mesmo, ficou difícil de enxergar qualquer coisa. Saí correndo procurando água para oferecer às pessoas. Chamei mais gente para ajudar. Antes de os Bombeiros chegarem, a gente ajudava as pessoas a saírem, dava água e amparava.”
Ayricer Pequeno,
39 anos, agente administrativa
“Escutei um barulho e não dei importância. Estava andando no corredor e vi alguém gritando que era um incêndio. Voltei correndo para a minha sala, que fica no anexo, e chamei todo mundo.
De repente, a fumaça invadiu tudo. Nas escadas, foi um pouco complicado, muita gente correndo, passando mal, vomitando. Foi muita fumaça.
Da outra vez, eu também estava trabalhando, mas foi bem mais tranquilo.”
Sueli Braga,
28 anos, funcionária pública
“Eu estava trabalhando e, de repente, o computador apagou, acabou a luz e ficou tudo escuro e cheio de fumaça. Não ouvi qualquer barulho, mas foi muita fumaça mesmo. Ficou todo mundo muito nervoso, querendo descer ao mesmo tempo as escadas. Eu senti muita falta de ar e tontura. Foram cenas horríveis, mas, graças a Deus, acabou e fiquei bem. Fui atendida e levada para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Agora, é tentar esquecer tudo que aconteceu.”
Sueli Aparecida Vieira,
47 anos, funcionária pública
De acordo com testemunhas, por volta das 17h, foi possível ouvir um estrondo em alguns andares do prédio. A energia caiu imediatamente. O curto-circuito provocou um princípio de incêndio, controlado pelo Corpo de Bombeiros. A fumaça, extremamente tóxica, espalhou-se pelos nove andares do prédio, além do anexo, por meio do sistema de ar-condicionado central. ...
Das 30 pessoas que se sentiram mal, 18 foram encaminhadas para Hospital Regional da Asa Norte (Hran), entre elas, uma grávida e um homem hipertenso. Todos acabaram liberados ontem mesmo. Os outros atendimentos ocorreram na porta do prédio. Por recomendação da Defesa Civil, não haverá expediente hoje no Bloco R, onde funcionam os dois ministérios. “Fizemos uma inspeção e não constatamos qualquer abalo na estrutura do prédio. Não há riscos físicos e estruturais, mas recomendamos que o trabalho não seja retomado amanhã (hoje) por conta da situação de altíssimo estresse vivida pelos funcionários”, explicou o coronel Sérgio Bezerra, subsecretário de Operações da Defesa Civil.
Reunião interrompida
O ministro dos Transportes, César Borges, estava em reunião com o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno, 77 anos, no momento do incidente. “O encontro era no anexo. Mas a fumaça atingiu a sala de reunião. Desci com o ministro e com o bispo pela escada de emergência. Todos ficaram nervosos, mas deu tudo certo”, explicou Miguel Mário Bianco Masella, secretário executivo do Ministério dos Transportes.
Pelo menos 40 funcionários do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros participaram do atendimento. Quinze viaturas foram deslocadas. O comandante Mauro Sérgio de Oliveira, chefe da Comunicação Social dos Bombeiros, explicou que a fumaça era muito tóxica, o que levou muita gente a passar mal.
O subsecretário de Administração do Ministério dos Transportes, Ulysses Melo, afirmou ainda que a segurança do prédio tomou todas as medidas de segurança e prevenção indicadas pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil após o primeiro acidente no início do ano. Além do pânico e da correria, o curto-circuito de ontem provocou o adiamento de eventos importantes dos ministérios. “Teríamos amanhã (hoje) uma audiência pública sobre um projeto de R$ 180 milhões para as cidades digitais”, explicou Américo Bernardes, diretor de Infraestrutura de Comunicação Digital do Ministério das Comunicações. A audiência foi transferida para o auditório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Troca de equipamentos
Após a explosão em fevereiro deste ano (confira Memória), a CEB trocou os equipamentos da subestação rebaixadora. “Fizemos tudo que foi pedido pela Defesa Civil e pelos Bombeiros. Uma empresa terceirizada estava concluindo o serviço e pintando o local”, explicou Manoel Clementino, diretor de Operações da CEB.
De acordo com Clementino, não houve explosão ontem e não existe relação entre o curto-circuito e a presença dos funcionários no local. “O cabo onde ocorreu o problema é da época da construção do prédio. Recentemente, nós fizemos uma vistoria e não constatamos a necessidade de trocá-lo. Se fosse um cabo mais novo, não haveria tanta fumaça por conta do curto-circuito e o problema teria sido contornado muito mais facilmente”, explicou Clementino. A CEB espera terminar a troca dos equipamentos no subsolo até início da manhã de hoje. Por volta das 20h de ontem, as luzes do prédio foram acesas com o apoio dos geradores. O local passa por perícia que deve ser concluída em até 30 dias.
Em diversas reportagens desde 2011, o Correio alertou para os riscos da presença das subestações de energia no subsolo dos prédios na Esplanada. De acordo com o diretor de Operações da CEB, a companhia já reformou e fez as alterações indicadas em 15 dos 17 prédios. “Aqui (no Bloco R) faltava apenas a pintura e a instalação do exaustor, que também evitaria que a fumaça tóxica se espalhasse, jogando ela para fora do prédio”, explicou.
Memória
Acidente em 2012 com morte
Em 15 de novembro do ano passado, o técnico da Companhia Energética de Brasília (CEB) Wilson de Pádua Pires, 54 anos, morreu depois de ser atingido por uma explosão em uma subestação de eletricidade no Ministério do Esporte. Ele não resistiu a duas paradas cardiorrespiratórias, traumatismo craniano e queimaduras de terceiro grau.
Três meses depois, na tarde de 20 de fevereiro, um princípio de incêndio no Bloco R, onde funcionam os ministérios das Comunicações e dos Transportes, o mesmo edifício onde ocorreu o acidente de ontem, expôs, mais uma vez, a fragilidade das construções na Esplanada. O incidente aconteceu na estação transformadora que funciona no subsolo.
A fumaça tóxica se espalhou por todos os andares. Um funcionário passou mal e foi socorrido pelos Bombeiros. Com baixa visibilidade e dificuldade para respirar, houve empurra-empurra e desespero. Durante o processo, ocorreram duas explosões. O terceiro e o quarto pavimentos foram os mais afetados pelo resíduo tóxico. Para combater as chamas, os Bombeiros destacaram 70 homens e 15 caminhões, veículos de apoio e ambulâncias. Para que uma das viaturas da corporação tivesse acesso ao prédio, quatro guinchos tiveram que retirar carros que dificultavam o acesso ao local.
Depoimentos
“Estava no elevador, sozinha. Quando a porta abriu, entrou uma nuvem de fumaça. Não dava para ver nada. Tinha muita gente correndo e gritando. Trabalho aqui há 25 anos e nunca passei por uma situação assim. Desci do elevador no terceiro andar. As escadas de incêndio são estreitas, teve empurra-empurra e gritaria. Achei que ia ficar sufocada. Cada vez era mais difícil respirar. Fiquei muito nervosa. Mas, quando coloquei o pé para fora, fui atendida pelo Samu e pelos Bombeiros. Acho um absurdo um prédio onde tanta pessoas trabalham ter problemas assim.
É falta de cuidado com a gente.”
Rosilene da Silva,
51 anos, funcionária pública
“Escutei um barulho e a fumaça chegou aqui no térreo muito rápido. Fiquei preocupada com as pessoas que estavam em outros andares. Era muita fumaça mesmo, ficou difícil de enxergar qualquer coisa. Saí correndo procurando água para oferecer às pessoas. Chamei mais gente para ajudar. Antes de os Bombeiros chegarem, a gente ajudava as pessoas a saírem, dava água e amparava.”
Ayricer Pequeno,
39 anos, agente administrativa
“Escutei um barulho e não dei importância. Estava andando no corredor e vi alguém gritando que era um incêndio. Voltei correndo para a minha sala, que fica no anexo, e chamei todo mundo.
De repente, a fumaça invadiu tudo. Nas escadas, foi um pouco complicado, muita gente correndo, passando mal, vomitando. Foi muita fumaça.
Da outra vez, eu também estava trabalhando, mas foi bem mais tranquilo.”
Sueli Braga,
28 anos, funcionária pública
“Eu estava trabalhando e, de repente, o computador apagou, acabou a luz e ficou tudo escuro e cheio de fumaça. Não ouvi qualquer barulho, mas foi muita fumaça mesmo. Ficou todo mundo muito nervoso, querendo descer ao mesmo tempo as escadas. Eu senti muita falta de ar e tontura. Foram cenas horríveis, mas, graças a Deus, acabou e fiquei bem. Fui atendida e levada para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Agora, é tentar esquecer tudo que aconteceu.”
Sueli Aparecida Vieira,
47 anos, funcionária pública
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