Abandono é marca dos laboratórios de ciências
Atenção
Abandono
Com um frasco de reagente químico vencido em mãos, o professor de química do Centro de Ensino Médio 2 Fernando Mendes observa o abandono do laboratório de ciências na escola. “Quando viemos limpar o espaço para utilizá-lo, encontramos esse frasco empoeirado e descobrimos que estava vencido desde 2002. Mas, mesmo assim, usamos porque o efeito é semelhante ao necessário, mas não é o esperado”, diz o professor. Ele observa, ainda, que somente a teoria não garante um aprendizado completo. “Quando o ensino se limita à teoria, percebemos que, no final do ano, o livro dos alunos ainda está novinho, mal foi manuseado”, diz.
É necessário capacitação
Além da fragilidade que envolve a infraestrutura das instituições de ensino públicas, a falta de recurso humano para atender os 1.900 alunos do CEM 1 do Gama também é um dificultador. “É importante ter pessoas capacitadas para atuar dentro do laboratório, pois, no modelo atual, o professor tem de trabalhar dobrado. Ele traz 20 alunos por vez, enquanto os outros ficam na sala de aula. Com isso, precisa se desdobrar para conciliar as aulas práticas e teóricas”, acrescenta o supervisor da instituição, Carlos Fernandes. Ele diz que as atividades de experimentação são essenciais para o processo de aprendizagem e uma forma de o aluno vivenciar o conteúdo aprendido em sala de aula.
Carlos destaca que existe uma carência de profissionais nas áreas de ciências da natureza. “Para o professor que atua nessa área, não vale a pena ir para a sala de aula. Financeiramente não é bom negócio. Afinal, ele conclui a graduação em cerca de cinco anos. Depois faz um mestrado”, declara.
No Centro de Ensino Médio 1, no Gama, as aulas práticas são ministradas em um laboratório com estrutura física abaixo do ideal. De acordo com o supervisor da instituição, Carlos Fernandes, há dois anos a atual gestão retomou os investimentos na área. “Apesar de todas as dificuldades, nunca abrimos mão do espaço. A escola tem 50 anos de existência e nunca passou por uma reforma estrutural. No nosso caso, a gestão da escola sempre teve a preocupação de manter o espaço dos laboratórios”, assegura.
Segundo o supervisor, a manutenção dos espaços vem de recursos próprios da instituição. “Por meio do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf), o governo nos envia uma verba para ser gasta com reparos na escola. Porém, como temos essa atenção voltada para a importância dos laboratórios, deixamos de usar o dinheiro em algumas áreas e centralizamos neste setor. Só com a compra de materiais investimos aproximadamente R$ 20 mil. Porém, não é suficiente. Ainda falta muita coisa”, explica o supervisor Carlos Fernandes.
Gestor de dívidas
No Centro de Ensino Médio 2, também no Gama, onde estudam 2.480 alunos, o diretor Júlio César Ferreira fala sobre as dificuldades e diz que acaba sendo um gestor de dívidas e não de planejamento. “Nós utilizamos os recursos do Pdaf para reformar um laboratório. Mas a verba sempre vem com atraso”, frisa.
Júlio César conta que em 2010 teve início o processo de reestruturação dos espaços físicos da escola e um laboratório já foi recuperado. “No primeiro momento, priorizamos os espaços coletivos. Em 2013, investimos cerca de R$ 10 mil para reparos nos laboratórios”, relata. Ele destaca que o processo de degradação dos ambientes físicos não é recente. “O sucateamento vem acontecendo há uma década”, diz.
Sem incentivo pessoal
Além da falta e precariedade dos labotatórios de ciências, projetos individuais de professores sofrem com a falta de apoio. Desenvolvido por dois professores, o Planetário Móvel foi lançado em 2009 e idealizado pelos educadores Luis Edvar Cavalcante e Josué de Lima Rodrigues, para ser apresentado nas escolas. A praticidade é marca registrada do projeto, que pode ser transportado para qualquer lugar, pois cabe em um carro de passeio. E precisa somente de um ventilador para inflar o cenário.
De acordo com Luis Edvar, o projeto foi repassado à Secretaria de Educação em 2008. “Inicialmente foi feita uma tentativa de montar o planetário com o financiamento da pasta. Quando apresentei o projeto diretamente ao secretário de Educação, ele achou a ideia muito promissora, mas logo percebi que as exigências da burocracia, aliadas à lentidão dos procedimentos, impediriam o início das atividades no Ano Internacional da Astronomia, em 2009. Naquele momento, a única saída era financiar com recursos próprios a compra dos equipamentos, já que o planetário era um sonho com data certa para começar. Com isso, os trabalhos de atendimento acabaram se dando em 2009 com grande aceitação por parte das escolas”, relata.
Capacidade
De acordo com o professor, apesar da falta de apoio do GDF, o número de atendimentos segue em ritmo acelerado. “Já fizemos mais de 60 atendimentos a escolas e eventos ligados a educação. Acredito que já ultrapassamos o número de 30 mil atendimentos”, assegura. Contudo, a expressiva aceitação não impediu o surgimento de grandes problemas. “Atualmente, o projeto passa por grandes dificuldades. A falta de recursos faz com que medidas que teriam capacidade de ampliar o alcance pedagógico do projeto deixassem de ser feitas”, lamenta.
Na escola privada a realidade é inversa
São muitas as desigualdades entre as escolas das redes pública e privada de ensino. Na questão dos laboratórios, não poderia ser diferente. Enquanto as escolas mantidas pelo Estado, sequer, têm esse espaço, os colégios particulares contam com equipamentos de última geração. Para Leandro Grass, professor do colégio Marista e coordenador do projeto Maristão Faz Ciência, é importante aliar a estrutura física ao incentivo à pesquisa. “Os laboratórios têm a função de fazer a ponte entre teoria e prática. Dessa forma, o estudante entra em contato com o universo da pesquisa e percebe que não está lidando com algo que está distante dele, ele passa a vivenciar aquilo”, assegura.
O projeto coordenado por Leandro foi criado com o objetivo de incentivar a pesquisa científica. Os alunos do Ensino Médio que desejam começar no mundo acadêmico podem contar com um programa de iniciação científica já na escola. Com isso, a escola pretender começar a lapidar os novos talentos antes mesmo do ingresso na faculdade. O programa começou em 2011 e os temas dos projetos são definidos por áreas de concentração. Os projetos de pesquisa são subsidiados pela Instituição.
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