quinta-feira, 5 de março de 2020

Cynthia Machado encontrou, aqui, seu lugar no mundo



Designer de joias e publicitária, ela construiu sua identidade junto com a da cidade. “A gente meio que protagonista de tudo o que acontece aqui”, diz



48dias para os 60 anos de Brasília
Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade. 

Em 37 anos de vida, a publicitária e designer de joias já teve pelo menos 15 endereços diferentes. “Mas é em Brasília que hoje me sinto em casa”, diz. Foto: Arquivo pessoal
Brasília, Manaus, Belém, Rio de Janeiro, Fortaleza, Londres, Florença. Se você pudesse escolher uma desses lugares para morar, qual seria? Pois bem, eu já morei em todos eles. Nos meus 37 anos de vida já tive pelo menos uns 15 endereços diferentes. E é em Brasília que hoje me sinto em casa. 
Me sinto em casa enquanto estou caminhando de manhã cedinho e o sol se esconde entre os flamboyants da minha quadra. Enquanto distribuo bons dias no caminho até a padaria. Nas risadas das crianças que passam correndo debaixo do bloco. Nas amizades que construí, no amor que encontrei, nos elos que criei.
Me sinto em casa enquanto estou caminhando de manhã cedinho e o sol se esconde entre os flamboyants da minha quadra.
Dos 60 anos que Brasília completa, os últimos 15 eu vi e vivi de perto. E enquanto a cidade ia aos poucos construindo sua identidade, eu ia também construindo a minha.
Essa história de viver em uma cidade ainda tão jovem – 60 anos é jovem, sim! – nos faz sentir meio que protagonistas de tudo que acontece aqui. Isso é tão poderoso!
É como se ainda tivesse tanto espaço pra ocupar, tanta coisa pra acontecer, tantas possibilidades… uma cidade que extrapolou o papel meramente político que lhe foi imposto e hoje é muito mais que isso.
É o lar de muita gente criativa, de negócios prósperos, de músicos, artistas, brasileiros e estrangeiros que, assim como eu, hoje se sentem verdadeiramente em casa aqui.
E depois de tantos anos trocando de CEP e procurando meu lugar no mundo, como é bom saber que, finalmente, encontrei.
Cynthia Machado, 37 anos, designer de joias, publicitária, brasiliense de coração e moradora da Asa Sul
  • Depoimento concedido ao jornalista Freddy Charlson
DA AGÊNCIA BRASÍLIA*

Novacap vai construir 500 salas de aulas em escolas já existentes



Medida cria até 35 mil vagas e permite que os custos com transporte escolar, hoje de R$ 150 milhões por ano, sejam reduzidos em 80%

A Secretaria de Educação gasta por ano R$ 150 milhões com transporte escolar para levar alunos que estudam fora de sua região domiciliar. Mesmo com esse suporte público, alguns pais reclamam: não gostam que os filhos estudem longe de casa. Com toda razão. Mas esse sistema viciado que perdura há anos e atravessa gestões será desidratado em breve. Um projeto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) vai reduzir esse valor em 80%. Melhor ainda: irá economizar o tempo gasto pelos estudantes com deslocamento.
 A Novacap construirá 500 salas de aulas em escolas públicas já existentes no Distrito Federal. Cada uma vai acomodar 35 alunos. Se multiplicado por dois turnos, o quantitativo chega a 35 mil vagas. Enfim: o projeto, além de diminuir o custo com transporte escolar, atacará o déficit de vagas na rede pública de ensino.
Segundo a Secretaria de Educação, só em 2018 o governo gastou R$ 126,6 milhões com o transporte de 58 mil estudantes. Mas esse número aumentou no ano passado para R$ 150 milhões. Com a expansão das salas de aula, será reduzida progressivamente a dependência, transferindo-se o gasto atual com transporte escolar por investimentos em obras.
Salas modulares
O projeto Expansão Modular em Salas de Aula ocorrerá gradativamente ao longo de três anos. O objetivo é entregar ainda este ano 250 salas de aulas em 58 escolas – abrindo 8.750 novas vagas nessas unidades em cada turno. E se a escola funcionar pela manhã, tarde e à noite, esse número triplicará, podendo chegar a 26,2 mil. 
As salas obedecerão ao mesmo projeto, mas somente o layout. Para isso, a Novacap vai oferecer sete tipologias para cada unidade. “Isso se faz necessário por causa das condições do terreno”, disse a arquiteta da Novacap, Alessandra Bittencourt.
As salas modulares serão construídas em alvenaria convencional, com estrutura de concreto armado. Cada unidade vai custar em torno de R$ 150 mil. Além de ar condicionado, a escolas que receberem os novos espaços de aula contarão ainda com parquinho e área de convivência para os estudantes – sem que se gaste R$ 1 a mais.
“Essas salas vão receber toda uma infraestrutura. Haverá uma interligação com as salas já existentes. O projeto permite que você possa avançar de acordo com a necessidade da escola”, conta o diretor de Edificações da Novacap, Francisco Ramos. “Esse projeto se chama de ‘Salas Modulares’ porque permite abrir avançar de acordo com a crescimento de demanda”, emenda.
As escolas que receberão as salas modulares foram selecionadas pela Secretaria de Educação, após um estudo de viabilidade: este identificou a demanda reprimida (carência de vagas) e criança transportada de uma região a outra. De posse do levantamento, a secretaria requereu à Novacap um projeto para reduzir os custos e suprir essa carência.
Entre as cidades cujas escolas serão contempladas com as salas modulares, estão Gama, com 40 novas unidades; Planaltina (56), Paranoá 44 e São Sebastião (36).  Nesta última região, o coordenador regional de ensino, Luiz Eugênio Barros, diz que há alunos da cidade que estudam em Brazlândia e Paranoá porque não conseguiram vagas nas escolas de lá. 
Ele aproveitará as futuras salas, que deverão originar, ao menos, 2,5 mil vagas, para reduzir a lotação das salas já existentes: são duzentos estudantes à espera de vagas. “No Centro Educacional São Bartolomeu, cada sala tem hoje 40 alunos, sendo que a capacidade é para 32. Então, vamos dar preferência para quem não está em nenhuma escola”, pondera.
Mudando de lugarA professora Patrícia Lima, 45 anos, teve de mudar de emprego para ficar perto da filha, Sarah, 5, que estuda no Jardim Botânico. As duas moram no Jardim Mangueral em São Sebastião. Patrícia dava aula no Cruzeiro. Pediu transferência para Escola Classe Jardim Botânico, onde a filha conseguiu uma vaga. 
Patrícia: mudança de cidade para garantir vaga para a filha | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Patrícia lamenta não ter um colégio perto de casa. “Devia ter uma escola aqui. Não sou só eu que tenho de levar o filho para estudar em outra cidade”, lamenta. Mas esse não é o único caso na família. A filha mais velha dela, Alice, de 13 anos, está matriculada no Centro de Ensino Fundamental 6 do Lago Sul porque não tinha vaga para ela em São Sebastião.  
O secretário de Educação afirma que a parceria com a Novacap permitirá a secretaria voltar seu foco cada vez mais para o processo de ensino-aprendizagem. 
É sua intenção ir retirando estas funções sem vínculos diretos com o processo pedagógico da administração da Secretaria ou mesmo terceirizá-las, como fará com a alimentação escolar, que nesta sexta-feira, 6/2, terá uma audiência pública para apresentar o novo modelo de gestão da merenda. 
 “A totalidade das matrículas na educação básica vem apresentando queda nos últimos anos, mas o Distrito Federal enfrenta o problema dos movimentos demográficos internos, que sobrecarregam a rede educacional em diversas regiões”, esclarece o secretário de Educação João Pedro Ferraz.
AGÊNCIA BRASÍLIA 

Feira rural no Parque da Cidade homenageia as mulheres



A quarta edição do evento acontece neste sábado (7) e domingo (8). Emater-DF vai distribuir plantas suculentas àquelas que participarem da oficina de terrário

Quer aprender receitas à base de jaca? Ou apenas comprar produtos tradicionais dos agricultores locais? Então, vá à 4ª Edição da Feira Rural no Parque da Cidade, no sábado (7) e domingo (8), das 9h às 16h. Às 10h do sábado, tem uma oficina gastronômica com receitas à base de jaca; no domingo, também às 10h, uma de terrário. 
As oficinas serão abertas ao público. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março, a Emater-DF vai distribuir plantas suculentas às mulheres que participarem da oficina de terrário.
Foto: Emater-DF/Divulgação
O público que for à feira vai poder comprar produtos orgânicos e convencionais da agricultura do Distrito Federal, artesanato feito por produtores rurais, flores e plantas ornamentais, biscoitos, pães, geleias, pimentas, sorvetes de frutos do cerrado e muitos outros produtos. 
Não deixe de visitar a praça de alimentação, com café da manhã e comidas feitas por produtores e agroindústrias. Para os apreciadores de jaca, serão oferecidos produtos à base da fruta à venda na praça de alimentação.
Foto: Emater-DF/Divulgação
Todos os itens à venda na feira são produzidos no Distrito Federal por agricultores e empreendedores rurais da capital. O evento é uma iniciativa da Emater-DF em parceria com a Administração do Parque da Cidade e que também tem o apoio da Secretaria de Turismo. A feira integra o planejamento estratégico do Governo do Distrito Federal com propósito de gerar emprego e renda no meio rural.
Para a presidente da Emater-DF, Denise Fonseca, a feira valoriza a produção local. “Ter nossos produtores aqui, vendendo seus produtos no Parque da Cidade, além de levar comida fresca e de qualidade para o público da área urbana, também faz com que nossos produtores tenham renda, dignidade e possam crescer e empregar pessoas em suas propriedades. Também representa uma possibilidade de geração de emprego”, destacou.
Além de ampliar o espaço de comercialização de agricultores, um dos objetivos da feira é levar os produtores para o contato direto com o consumidor. O gerente da unidade de Comercialização da Emater-DF, Blaiton Carvalho da Silva, ressaltou essa importância. “O consumidor vai conhecer quem produz, onde e como produz. Quando você vai no mercado, o tomate, por exemplo, é só o tomate. Já na feira, o tomate é o tomate do Joaquim, do José.”

Edições-piloto
As primeiras edições-piloto do projeto, em dezembro, janeiro, fevereiro e agora em março, já tiveram os produtores selecionados. O objetivo, nesta fase de testes, é conhecer o espaço, avaliar questões logísticas e a reação dos frequentadores do Parque à feira. Para a fase definitiva, a Emater lançará, em breve, um edital com informações e critérios para os interessados, atendidos pela Emater, em participar do projeto.

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Data: 7 e 8 de março (sábado e domingo)⁣
Horário: 9h às 16h⁣
Local: Estacionamento 13 do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, próximo à administração

* Com informações da Emater-DF

Francisco Ozanan, o jardineiro de Brasília



Funcionário do Departamento de Parques e Jardins, da Novacap, ele dedicou 40 anos de sua vida a embelezar a capital. Brincalhão e grande contador de causos, Ozanan morreu em 2016, aos 72 anos



Ozanan foi o responsável pelas árvores e flores que enfeitam Brasília e ajudou a tornar realidade o sonho de Lucio Costa, que queria que “os prédios residenciais nascessem como da clareira de uma floresta” |  Foto: Divulgação/Novacap
Quem desembarca no Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek dá logo de cara com um dos cartões-postais da cidade: um balão de trânsito com um paisagismo cuidadosamente elaborado. O visitante recebe boas-vindas admirando o jardim formado por 20 mil flores de diferentes espécies e cores e árvores sempre verdes, mesmo em agosto, o auge da seca brasiliense. Mas nem sempre foi assim. Antes, arbustos e árvores com espinhos dominavam a paisagem, que era sem graça e sem vida.
A ideia de colocar cores no meio do verde foi do engenheiro agrônomo Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar, conhecido como o “jardineiro de Brasília”, morto em 2016, aos 72 anos. Funcionário do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), ele dedicou 40 anos de sua vida a embelezar a capital. Foi o grande responsável pelas árvores e flores que enfeitam Brasília o ano todo e ajudou a tornar realidade o sonho de Lucio Costa, que queria que “os prédios residenciais nascessem como da clareira de uma floresta”.
Sou muito suspeito para falar, mas eu acho que a paisagem de Brasília é absolutamente singular. Em Brasília você vai ver ipê banco, amarelo, roxo, quaresmeira, copaíba, jequitibá do cerrado, landim, pombeiro, você vai ver coisas que não existe nas outras cidades, uma coisa absolutamente só de Brasília.Francisco Ozanan Correia Coelho de Alencar
Filho de agricultores nordestinos, o cearense chegou a Brasília em 1969. Tinha acabado de se formar e aceitou o convite de um professor de faculdade, Melquíades, que era muito duro e temido pelos alunos, mas passou a gostar de Ozanan depois de seu rendimento em um trabalho escolar. “No começo do semestre, ele nos mandou escolher um animal selvagem para falar sobre a biologia dele”, contou, em entrevista ao Programa de História Oral, do Arquivo Público do DF. “Eu escolhi falar sobre o rato de cana e ganhei nota 10. Ele disse que eu tinha sido muito original”, lembrou.
A amizade com o professor mudou completamente a vida de Ozanan, como ele mesmo disse. Logo que se formou, o agrônomo iria permanecer na Universidade Federal do Ceará trabalhando com Melquíades, mas o regime militar decretou o AI-5, que endureceu as regras, e o recém-formado aceitou a sugestão do mestre de vir para a capital recém-inaugurada. “Ele me chamou e disse: ‘Olha, suas chances de emprego aqui no Ceará são praticamente zero, fechou tudo, não se pode contratar. Você quer ir pra Brasília? Eu sou amigo do Stênio de Araújo Barros, que é o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, e ele me falou que queria uma pessoa recém-formada’”, relatou Ozanan, durante entrevista concedida em 2004.

Barraco de tábua

Depois de relutar no início – “o que vou fazer em Brasília?”,  questionou –, Francisco Ozanan acabou aceitando a “aventura”. Conseguiu o dinheiro da passagem de avião emprestado com o irmão e embarcou para a capital. “Peguei um Avro da Varig, que é um aviãozinho turboélice [também conhecido como turbopropulsor]. Quando fui chegando a Brasília, o piloto falou: ‘Senhores passageiros, estamos descendo no Aeroporto Internacional de Brasília’, eu olhei aquele barraco de tábua e falei: ‘meu Deus do céu, tá brabo’. Aí, eu peguei um táxi no aeroporto e, chegando ao Eixão, perguntei: ‘como é o nome dessa rua?’. O taxista respondeu: ‘não, aqui não tem rua e tal.’ Falei: ‘aqui tá esquisito’”.
Quando chegou à Novacap, em julho de 1969, Ozanan começou a trabalhar no viveiro, cuidando de doenças das plantas e controle de pragas. Um mês depois ele se envolveu na construção da Praça do Buriti. “Aquela praça foi construída em 17 dias” contou, e acabou desempenhando outros trabalhos na companhia.
Naquela época, não havia em Brasília viveiro que produzisse mudas e, por causa da pressa para construir a cidade, a Novacap plantou em todo o Plano Piloto árvores exóticas, espécies que não são da flora brasileira, ou são de biomas que não se adaptaram ao Cerrado. “Isso era o convencional das outras cidades, mas não funcionou em Brasília. A planta que se dá bem lá na Mata Atlântica não se dá bem aqui no Cerrado”, explicou o agrônomo.

Morte de árvores adultas

Entre 1975 e 1976, morreram cerca de 50 mil árvores adultas em Brasília, o que desencadeou uma enorme crise. “Teve repercussão política contra a cidade, cogitaram voltar a capital para o Rio de Janeiro, porque isso aqui era um deserto, nem árvore ia pra frente”, disse Ozanan. “As árvores morreram porque o solo do Cerrado é um solo muito pobre, não tinha um suporte alimentar para elas, nem Brasília tinha as condições climáticas que fossem favoráveis e suficientes para um desenvolvimento completo e perene dessas árvores. Não eram plantas para o clima daqui”, explicou.
Ele e sua equipe arregaçaram as mangas: fizeram excursões ao Cerrado, coletaram sementes e testaram a natureza até descobrir o que poderia brotar no Planalto Central que fosse forte o suficiente para resistir à seca e ao sol. Deu certo: a cidade floresceu. Graças aos ensinamentos de Ozanan, a Novacap, hoje, só planta mudas nativas, inclusive os ipês, que enchem Brasília de cores. Só no Plano Piloto, há 1,5 milhão de árvores plantadas que proporcionam beleza única à capital. Em todo o DF, são mais de 120 espécies plantadas.

Grande chefe

Em 1980, o engenheiro agrônomo virou chefe do DPJ, onde trabalhou até a aposentadoria, em 2009. A Novacap chegou a convocar uma coletiva de imprensa para anunciar a despedida de Ozanan, que deixou o serviço público aos 66 anos. Engana-se, porém, quem pensa que ele ficou longe do verde e do trabalho.
“Quando ele começava a contar um causo podia esquecer. Ia longe”, diz. “Era uma pessoa muito boa”, conta Raimundo Gomes, chefe da Divisão de Áreas Verdes da Novacap | Foto: Divulgação/Novacap
Abriu, com dois colegas da Novacap, uma empresa especializada no plantio de gramas. “Não me aposentei com a intenção de trabalhar. Eu disse: ‘Vou ficar em casa e aproveitar o resto da minha vida.’ O primeiro e o segundo mês, achei bom demais. No terceiro, começou a me dar um tédio louco e eu já estava aprendendo a fazer bolo com a Ana Maria Braga”, contou, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, em outubro de 2015.
Ozanan era assim, brincalhão e grande contador de causos. Adorava boas histórias, ria alto, soltava palavrões vez ou outra. Mesmo depois de tanto tempo em Brasília, nunca perdeu o sotaque nordestino. Quem lembra é o chefe da Divisão de Implementação de Áreas Verdes da Novacap, Raimundo Gomes Cordeiro, 60 anos, que trabalhou mais de três décadas com Ozanan, até ele se aposentar. “Quando ele começava a contar um causo, podia esquecer. Ia longe”, diz. “Era uma pessoa muito boa”.
Primeiro a chegar e o último a ir embora, Francisco Ozanan era dedicado e cobrava resultados dos subordinados no DPJ, que chegaram a somar duas mil pessoas. Isso lhe deu fama de nervoso entre os que não conviviam com ele. “Algumas pessoas falavam que ele era bravo. Eu não achava. Ele era firme, mas era extremamente justo e nunca era arrogante”, conta Cordeiro, que chegou à Novacap na década de 1980. “E ele tinha uma capacidade incrível de motivar a equipe. Envolvia todo mundo no projeto, foi o melhor chefe que já tive”, elogia.

Balões floridos

Em 1991, Ozanan agiu como super-herói da natureza. Um homem atacou o buriti solitário que dá nome à Praça do Buriti, no Eixo Monumental, em um protesto político. O indivíduo quase derrubou o buriti com um machado, mas foi preso pela polícia. Ozanan coordenou a operação de salvamento da árvore, que é tombada pelo Patrimônio Histórico. Colocou estacas de contenção, cobriu o buraco no tronco com uma resina grossa e criou uma proteção de ferro para deixar a árvore de pé. O buriti sobreviveu e continua no mesmo lugar até hoje.
Em 1991, Ozanan iniciou o projeto de paisagismo dos balões de trânsito. O primeiro foi o Balão do Aeroporto | Foto: Divulgação/Novacap
No mesmo ano, o agrônomo deu início a um novo projeto que trouxe ainda mais beleza para a capital: o paisagismo dos balões de trânsito. O primeiro deles foi o Balão do Aeroporto, onde diferentes espécies de flores são plantadas a cada época do ano. Cada uma delas tem uma cor diferente.
Agora, por exemplo, todas ostentam tons de amarelo. Semanalmente, a Novacap faz manutenção no local e, na época de seca, um sistema de irrigação garante que o jardim seja aguado.
Hoje, são 600 balões floridos em todo o DF. Ozanan tinha os seus preferidos. Além do Balão do Aeroporto, ele gostava da disposição das plantas no balão da 201 Sul, em frente à Polícia Federal.
“Os balões coloriram a cidade. Ele sempre dizia que o paisagismo era o último a ser feito em uma obra, igual a pintura”, lembra Cordeiro.
DA AGÊNCIA BRASÍLIA

FAPDF lança editais para programa de apoio a extensionistas



Um dos editais, inédito, é voltado à seleção de propostas para patrocínio de eventos e ações de disseminação científica



A Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) lançou nesta quarta-feira (4) dois novos editais: um de patrocínio e outro de apoio a projetos de extensão. Os dois editais estão no site da fundação, na íntegra (confira aqui).
O Edital 02/2020 visa apoiar o desenvolvimento de projetos extensionistas com ações voltadas para promoção à saúde, ao desenvolvimento econômico regional, à integração social e à valorização da cultura e dos direitos humanos. É voltado para extensionistas de territórios e populações em situação de vulnerabilidade social do DF e da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (Ride-DF).
O segundo (Edital 03/2020), inédito, é voltado à seleção de propostas para patrocínio de eventos e ações de disseminação científica. A FAPDF poderá apoiar ações atreladas à sua missão institucional e vinculadas às políticas públicas do setor de ciência, tecnologia e inovação do Governo do Distrito Federal. Poderão participar da seleção como proponentes pessoas jurídicas constituídas segundo as leis válidas no Distrito Federal.
Nos primeiros 45 dias de vigência desta edição inaugural do Edital de Patrocínio da FAPDF, que será de fluxo contínuo, será permitida a submissão de propostas com antecedência mínima de 15 dias à realização do evento pretendido. Após esse período serão válidas apenas propostas apresentadas com antecedência mínima de 45 dias da realização do evento para o qual se busca patrocínio.
O edital é regido pela nova Política de Patrocínio da FAPDF. O normativo foi lançado neste ano e está disponível no site da fundação.
* Com informações da FAPDF

Novacap vai construir 500 salas de aulas em escolas já existentes



Medida cria até 35 mil vagas e permite que os custos com transporte escolar, hoje de R$ 150 milhões por ano, sejam reduzidos em 80%

A Secretaria de Educação gasta por ano R$ 150 milhões com transporte escolar para levar alunos que estudam fora de sua região domiciliar. Mesmo com esse suporte público, alguns pais reclamam: não gostam que os filhos estudem longe de casa. Com toda razão. Mas esse sistema viciado que perdura há anos e atravessa gestões será desidratado em breve. Um projeto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) vai reduzir esse valor em 80%. Melhor ainda: irá economizar o tempo gasto pelos estudantes com deslocamento.
 A Novacap construirá 500 salas de aulas em escolas públicas já existentes no Distrito Federal. Cada uma vai acomodar 35 alunos. Se multiplicado por dois turnos, o quantitativo chega a 35 mil vagas. Enfim: o projeto, além de diminuir o custo com transporte escolar, atacará o déficit de vagas na rede pública de ensino.
Segundo a Secretaria de Educação, só em 2018 o governo gastou R$ 126,6 milhões com o transporte de 58 mil estudantes. Mas esse número aumentou no ano passado para R$ 150 milhões. Com a expansão das salas de aula, será reduzida progressivamente a dependência, transferindo-se o gasto atual com transporte escolar por investimentos em obras.
Salas modulares
O projeto Expansão Modular em Salas de Aula ocorrerá gradativamente ao longo de três anos. O objetivo é entregar ainda este ano 250 salas de aulas em 58 escolas – abrindo 8.750 novas vagas nessas unidades em cada turno. E se a escola funcionar pela manhã, tarde e à noite, esse número triplicará, podendo chegar a 26,2 mil. 
As salas obedecerão ao mesmo projeto, mas somente o layout. Para isso, a Novacap vai oferecer sete tipologias para cada unidade. “Isso se faz necessário por causa das condições do terreno”, disse a arquiteta da Novacap, Alessandra Bittencourt.
As salas modulares serão construídas em alvenaria convencional, com estrutura de concreto armado. Cada unidade vai custar em torno de R$ 150 mil. Além de ar condicionado, a escolas que receberem os novos espaços de aula contarão ainda com parquinho e área de convivência para os estudantes – sem que se gaste R$ 1 a mais.
“Essas salas vão receber toda uma infraestrutura. Haverá uma interligação com as salas já existentes. O projeto permite que você possa avançar de acordo com a necessidade da escola”, conta o diretor de Edificações da Novacap, Francisco Ramos. “Esse projeto se chama de ‘Salas Modulares’ porque permite abrir avançar de acordo com a crescimento de demanda”, emenda.
As escolas que receberão as salas modulares foram selecionadas pela Secretaria de Educação, após um estudo de viabilidade: este identificou a demanda reprimida (carência de vagas) e criança transportada de uma região a outra. De posse do levantamento, a secretaria requereu à Novacap um projeto para reduzir os custos e suprir essa carência.
Entre as cidades cujas escolas serão contempladas com as salas modulares, estão Gama, com 40 novas unidades; Planaltina (56), Paranoá 44 e São Sebastião (36).  Nesta última região, o coordenador regional de ensino, Luiz Eugênio Barros, diz que há alunos da cidade que estudam em Brazlândia e Paranoá porque não conseguiram vagas nas escolas de lá. 
Ele aproveitará as futuras salas, que deverão originar, ao menos, 2,5 mil vagas, para reduzir a lotação das salas já existentes: são duzentos estudantes à espera de vagas. “No Centro Educacional São Bartolomeu, cada sala tem hoje 40 alunos, sendo que a capacidade é para 32. Então, vamos dar preferência para quem não está em nenhuma escola”, pondera.
Mudando de lugarA professora Patrícia Lima, 45 anos, teve de mudar de emprego para ficar perto da filha, Sarah, 5, que estuda no Jardim Botânico. As duas moram no Jardim Mangueral em São Sebastião. Patrícia dava aula no Cruzeiro. Pediu transferência para Escola Classe Jardim Botânico, onde a filha conseguiu uma vaga. 
Patrícia: mudança de cidade para garantir vaga para a filha | Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
Patrícia lamenta não ter um colégio perto de casa. “Devia ter uma escola aqui. Não sou só eu que tenho de levar o filho para estudar em outra cidade”, lamenta. Mas esse não é o único caso na família. A filha mais velha dela, Alice, de 13 anos, está matriculada no Centro de Ensino Fundamental 6 do Lago Sul porque não tinha vaga para ela em São Sebastião.  
O secretário de Educação afirma que a parceria com a Novacap permitirá a secretaria voltar seu foco cada vez mais para o processo de ensino-aprendizagem. 
É sua intenção ir retirando estas funções sem vínculos diretos com o processo pedagógico da administração da Secretaria ou mesmo terceirizá-las, como fará com a alimentação escolar, que nesta sexta-feira, 6/2, terá uma audiência pública para apresentar o novo modelo de gestão da merenda. 
 “A totalidade das matrículas na educação básica vem apresentando queda nos últimos anos, mas o Distrito Federal enfrenta o problema dos movimentos demográficos internos, que sobrecarregam a rede educacional em diversas regiões”, esclarece o secretário de Educação João Pedro Ferraz.
DA AGÊNCIA BRASÍLIA