Canta a arquibancada do Maracanã que de todos os amores já tidos, o Vasco é o mais antigo. No fim, o melhor amigo. E, mais uma vez, foi tudo isso. Na comunhão entre arquibancada e time, o Vasco venceu o misto do campeão Cruzeiro no Maracanã por 2 a 1. Apertado, suado, mas com legitimidade para continuar na briga contra o rebaixamento.
Agora, o time cruzmaltino tem 41 pontos, ainda dentro da zona de rebaixamento. Mas vive da esperança, já que na próxima rodada tem pela frente o lanterna e já rebaixado Náutico no Maracanã. O Cruzeiro, campeão e estático em seus 75 pontos, colocou um time misto em campo e na próxima rodada cumpre tabela contra o Bahia, no Mineirão.
O jogo
Não era um sábado daqueles tipicamente carioca. Chuva fina, praias vazias. Mas a movimentação do entorno do Maracanã já indicava que era um sábado vascaíno. Torcedores tremulavam bandeiras e gritavam o nome do clube a plenos pulmões. Era um sábado, mesmo, do Vasco.
A manifestação do Bom Senso FC, com os 22 jogadores sentados no gramado antes de a bola rolar, não diminui a força da torcida. Pelo contrário. Aplausos, flashes da arquibancada. O campeão Cruzeiro que os perdoasse, mas era mesmo noite de Vasco.
Noite que começou a mil. Se a torcida ainda preenchia a arquibancada Sul do Maracanã, Thalles nem mesmo os esperou. Logo aos dois minutos, Fagner cruzou pelo lado direito, Luan ajeitou de cabeça e o garoto, também de cabeça, mandou para o gol. 1 a 0.
Se a atmosfera já era favorável, o Maracanã se tornou realmente um caldeirão vascaíno. A vibração da arquibancada fazia o clima tremer em cada escanteio, em cada roubada de bola, em cada desarme. Campeão por antecedência e sem meio time, o Cruzeiro limitou-se a tocar a bola para os lados. E o Vasco? O Vasco não tinha nada com isso.
Limitado, entre erros e acertos, o time de Adilson Batista acompanhava o pulsar da arquibancada. Cada vez mais à frente, com o trio Marlone, Thalles e Edmilson, assustava um Cruzeiro sonolento e que parecia ter esquecido o futebol de campeão nacional na Toca da Raposa, em Belo Horizonte.
Mas, ainda que em marcha lenta, o time mineiro conseguiu assustar a torcida vascaína aos 31 minutos do primeiro tempo, em arrancada de Everton Ribeiro pelo lado direito, com belo chute espalmado por Alessandro. Mas a noite era mesmo vascaína. Um minuto depois,
Pedro Ken cruzou da esquerda para a entrada da área. Edmilson dominou e soltou uma bomba, no ângulo esquerdo de Rafael: 2 a 0. E o primeiro tempo terminou com festa no Maracanã.
Na segunda etapa, o Cruzeiro voltou dispostou a colocar água no chope e se impôr como legítimo campeão brasileiro. Mais atento, o time celeste passou a trocar passes e avançar pelas laterais. Com um minuto, Willian escorou para o fundo da rede vascaína, mas o gol foi corretamente anulado por impedimento.
O panorama não era o mesmo do primeiro tempo. Mais nervoso, o Vasco errava passes e a arquibancada diminuiu o torpor inicial. O Cruzeiro, então, foi para cima, já com Júlio Baptista no lugar do inoperante Vinicíus Araújo. Maior presença na área, mais bolas alçadas.
Mas aos 15 minutos o garoto Thalles deu arrancada fantástica desde o meio de campo, driblou dois marcadores e bateu forte, no canto esquerdo de Rafael, que fez bela defesa. A torcida voltou a acordar e a explodir em gritos de Vasco. A animação, no entanto, teve uma pausa forçada.
Aos 19 minutos, Everton Ribeiro cobrou falta da intermediária e alçou bola na área do Vasco e Paulão, de cabeça, tocou para o gol. 2 a 1. A arquibancada, por um minuto, sentiu que a noite poderia não ser vascaína. E talvez consciente de que era parte ativa do jogo, a voz do Gigante se levantou para ecoar pelo estádio.
Vasco, gritava o estádio, quase uníssono. Vasco, avisava o estádio, quase que numa prece. Vasco, insistia o Maracanã, quase que num pedido aos céus. O time, então acordou do sono momentâneo. Inflamou-se de novo e passou a morder em cada bola, sem dar espaços para o time cruzeirense.
Aos 30 minutos, Edmilson fez boa jogada individual na área e bateu cruzado, tirando tinta da trave esquerda de Rafael. À essa altura, a torcida já havia xingado o técnico Adilson Batista de burro por tirar Fagner de campo e escalar Renato Silva. Outra parte da arquibancada gritou o nome do zagueiro.
Entre o perde e ganha característico de um jogo nervoso, os quase 40 mil vascaínos presentes no Maracanã empurraram o time novamente em cada jogada. Nenhum jogador ficou mais desatento. Entregue, o Cruzeiro entendeu que o Vasco continuaria vivo em sua procissão para escapar de outro calvário. E assentiu ao apito final do árbitro. A noite era mesmo Gigante. O sábado era, sim, do Vasco.
FONTE: MSN